Hoje é meu dia x, o dia que me faz ficar nervosa, ansiosa, com a mente prestes a estourar de tanto que roda em pensamentos nada bons.
Cansada é um adjetivo que cabe perfeitamente em como foi meus últimos dias. Como previsto foram dias agitados e longos mas Jacey leva tudo muito bem sabendo como conduzir e resolver os problemas que acontecem, e que problema viu, um político boa pinta apareceu dizendo que seu segurança designado da empresa comeu sua esposa. Aonde entramos na infidelidade dela ainda não sei sendo que a parte da segurança continuava intacta.
Passo o dia com Safira trabalhando junto a ela enquanto o loiro vive pra cima e pra baixo ali dentro, se não o lembrar de almoçar e colocar na agenda ele nem tiraria tempo pra isso, mas como está corrido comemos ali mesmo no escritório e quando voltamos tarde da noite jantamos no restaurante do hotel ou já no quarto pelo cansaço e depois a cama quase implora nossa presença.
Mas voltando ao dia de hoje encaro a casa pelo vidro do carro e tento tomar coragem para descer mesmo não tendo nenhuma por que as memórias estão vindo com tudo.
Saimos de Boston num voo direto pra Tampa e mais de três horas depois estávamos entrando num carro alugado somente nós dois. Agora parada em frente à casa verde água que era a cor que minha mãe mais amava seguro as mãos uma na hora tensa pelo momento do reencontro.
- Vamos? - Jacey me tira dos pensamentos e apenas concordo com a cabeça antes de sair.
Passei os melhores anos da minha vida aqui junto as melhores pessoas que eram meu tudo e sempre serão. Ando a passos vacilantes até os primeiros degraus abrindo um sorriso com uma lembrança inesperada que me apareceu.
Um dia cheguei animada por ter feito a entregue pra uma moça do vestido que mamãe costurou mas que eu desenhei, eufórica deixei a bicicleta jogada ali mesmo e subi os degraus aos tropeços entrando em casa rápido e pegando meus pais se beijando na cozinha. Nunca ri tanto e fiquei sem graça ao mesmo tempo na minha vida.
Com a chave que eu ainda tenho entro em casa e assim que abro a porta as garrafas na mesa de centro se fazem presentes, está tudo meio bagunçado com umas camisas jogadas no sofá e sapatos com um pé em cada canto.
A emoção está querendo vir com tudo, esse é meu lar mas estar aqui depois dos anos ainda aflorece a saudade que tenho dela.
Olho atento todos os cantos mas meus olhos se fixam ali. Meus pés tomam consciência própria assim como minhas mãos recolhendo o porta retrato me emocionando ao ver a foto dos meus pais junto a mim no meu primeiro dia de aula quando tinha uns treze anos. Era a foto predileta da minha mãe e ela gostava de expor na sala pra todos que vivessem aqui a visem.
Papai não se desfez da nossa foto, assumo que não sabia se ela ainda estaria aqui quando voltasse mas a chama de esperança se acende ainda mais com essa pequena demonstração de afeto.
- O que faz aqui? - A voz surge e me assunto olhando para a porta onde ele se faz presente.
- Oi papai. - Digo baixinho.
O homem negro e alto está com a barba grande assim como quando eu fui embora mas o semblante está mais triste do que nunca.
- Não deveria estar aqui Melani. - Diz duro e me encolho recebendo um braço a minha volta do loiro, mas o ato não passou despercebido pelo meu pai deixando passar algo em seus olhos que não soube decifrar.
- Vim conversar pai, você precisa melhorar, precisa se cuidar e se livrar desse vício.
- Preciso que vá embora Melani, como fez a anos atrás e me deixe aqui em paz e sozinho.
- Papai. - Tento com a voz embargada.
- Vai embora Melani. - Fala alto. - Me deixa sozinho com as lembranças da minha mulher e vai viver sua vida, sai. - Grita no final.
Com tantos emoções me corroendo por estar de volta em casa e ver meu pai depois de tanto tempo não me aguento em lágrimas e resolvo sair por que agora não vou conseguir o convencer de nada.
Saio em desparada para o carro que está aberto quando eu chego perto e entro encolhendo meus joelhos apoiando minha cabeça ali e chorando de saudade, de medo, de receio, de infelicidade por ver que meu pai alegre se transformou totalmente num homem duro e sem esperanças.
O carro se movimenta com somente meu chorinho audível e não faço questão de levantar a cabeça continuando perdida dentro da minha própria mente.
Após um tempo estou mais recuperada porém continuo na mesma posição pensando no que mamãe faria nessa situação maldita.
- Vem Mel. - A voz baixa do loiro se faz presente.
Levanto a cabeça esperando estarmos de frente a algum hotel mas me surpreendo ao ver a praia ali tão perto.
- Isso..
- Você me disse uma vez que quando precisava pensar andava até a praia, então.. - Dá de ombros.
Sentados na areia com o sol já mais baixo consigo abrir um sorriso inconsciente. Como sinto falta disso, apenas ver o sol se pôr numa tarde qualquer sentindo a brisa e a areia em meus pés.
- Amanhã tentamos novamente pequena, ele vai te ouvir. - Jacey fala do meu lado.
- Espero que consiga Jay, realmente espero. - Deito a cabeça em seu ombro.
Sentindo o cheirinho da maresia me sinto cansada mas me acalmo em meio a lembranças boas que me inundam de felicidade.
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Acordo assustada deitada numa cama, demoro um pouco a entender que devo estar num quarto de hotel com o celular tocando.
- Oi. - Falo ainda sonolenta.
- Melani, precisa vir ao hospital.
- Linda?
- Sim querida, o seu pai.
- Já estou indo, me passa o endereço.
Me levanto rápido fazendo tudo no automático chamando Jacey que vem com a cara amassada se trocando na sala aos tropeços mas conseguimos finalmente chegar ao hospital.
- O que aconteceu? - Questiono a mulher que deve estar na casa dos cinquenta e sempre foi uma amiga da família.
- Escutei muitos barulhos e quando tudo acabou fui verificar se estava tudo bem mas a casa estava quase abaixo e seu pai desacordado no chão da cozinha, me falaram que foi a bebida em excesso mas que ele está bem, porém dormindo tomando soro.
Abraço meu próprio corpo sentindo o peso na consciência, eu não deveria ter ido embora mesmo prometendo a minha mãe que iria ir assim que as cartas das universidades chegassem. Meu pai precisava de mim, mas poxa, eu também precisava dele, nós dois perdemos a pessoa que nos sustentava e não fomos o suficiente para aplacar a dor um do outro.
- Não se sinta mal querida. - Linda apoia a mão sobre meu ombro me lançando um mínimo sorriso. - Se estivesse ficado aqui não mudaria em nada, mas.. acho que está na hora.
Suspiro concordando com ela num leve assenar de cabeça. Eu queria que papai se sentisse bem primeiro antes para se internar por livre e espontânea vontade porém não posso o deixar se afundar e um dia receber a ligação que o encontraram morto em casa.
- Jay. - Chamo o loiro que surge do meu lado com a expressão acolhedora. - Preciso de ajuda.
- O que precisar. - Puxo o ar forte antes de falar.
- Preciso internar meu pai o mais rápido possível.
- A melhor clínica da Flórida já estava nos esperando, eles estarão aqui logo.
O abraço pela cintura sentindo meu ombro ser acolhida por ele e um beijo ser depositado no topo da minha cabeça deixando eu choramingar baixinho em seu peito.
- Tudo vai ficar bem Mel, eu estou aqui.
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Querido Salvador - Série Poderosos e Irresistíveis 3
Romance| Livro 3 | Recomendo a leitura dos livros da série em sequência. Ele me salvou. Quando eu mais precisei e pensei que ninguém estaria ali por mim ele apareceu. O que eles tem de comum também tem de diferentes. Jacey não tem ninguém ao mesmo tempo t...