19 - Dia desastroso por Kleber Viana

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— Obrigado, gente

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— Obrigado, gente. — falei deixando as lágrimas escorrerem no meu rosto.

— Ei, estamos aqui para te apoiar. — Santino garantiu limpando as lágrimas e beijando meu rosto.

— Eu fico com o Thanos. — soltou Sérgio, com certeza, querendo se livrar de me ajudar. Deveria ter feito mais gols contra o time dele.

A chuva ainda não havia chegado no condomínio do Santino, mas lembrando de como imprevisível é o tempo em Manaus, sabia que não ia demorar. Entrei no carro com o Santino e os outros nos seguiram. No caminho, enviei mensagens para tranquilizar a mamãe.

Eu não sei como essas coisas acontecem com pessoas boas. Enquanto, muitos brigam por política e religião, os poderosos só crescem e as pessoas vivem à margem dessa situação. Tipo, não sou um cara ruim. Gosto de ajudar, me esforço ao máximo para fazer tudo dentro dos conformes, mas o destino gosta de cagar na minha cabeça.

O Santino presta atenção na pista, pois, como previa, a chuva chegou com força e logo as ruas ficaram alagadas. Ele pegou na minha coxa esquerda e disse que ia ficar tudo bem. Eu tentava me agarrar naquelas palavras com todas as forças.

Indiquei o local para o Santino estacionar e já vi uma movimentação diferenciada. Alguns moradores colocaram seus pertences na rua, sem se importar com o temporal que caia. Desci do carro e não consegui acreditar na cena. Dessa vez, a água subiu muito e estava quase chegando na pista.

— Mãe!!! — gritei e corri na direção da minha casa.

Para chegar na minha casa era necessário descer uma escada de alvenaria. O rip-rap dividia em duas ruas ou becos, porém, não conseguia ter uma boa visibilidade do chão. A água subia com uma força impressionante, muitos moradores ficaram preocupados e fugiram carregando apenas o que podiam.

A água estava marrom. Nem imagino a sujeira que continha dentro dela. O cheiro me deixou com o estômago embrulhado e, apesar do medo, desci os degraus e enfrentei a enchente.

Eu não sou tão baixo assim, mas a água pegou na minha cintura. Olhei para trás e vi os meus amigos entrando também. Tentei impedi-los, porém, eles insistiram para me ajudar. Formamos uma fila indiana, primeiro eu, em seguida, o Santino, Zedu, Yuri, Giovanna, André e Enzo.

O cenário era desolador. Vi os meus vizinhos tristes e desesperados tentando salvar aquilo que dava. Uma senhora passou por nós, aos prantos, sendo carregada por outras pessoas. Já morava naquela área há cinco anos e nunca experienciei algo tão chocante.

— Desculpa a pergunta, mas aqui não tem jacaré, né? — Zedu perguntou olhando para todos os lados e segurando firme no ombro de Yuri.

— Eu espero que não. — soltei, agora preocupado com possíveis ataques de animais.

A minha casa não ficava tão longe da entrada, porém, tivemos que ser cautelosos. Um passo em falso podia representar um perigo real. O que me dava forças era a mão do Santino no meu ombro que, apesar de tremula, passava coragem.

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