29 - O encontro das sogras por Kleber Viana

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Você já ficou nervoso a ponto de vomitar? Eu já. A mamãe trouxe a notícia que Dona Úrsula nos convidou para jantar. Eu não estava preparado para aquela reunião familiar. Ela, por outro lado, achou bacana o convite da mãe de Santino.

Preocupada em impressionar, a mamãe decidiu ligar para tia Luciana e pediu a receita da torta de limão da vovó. Enquanto as duas mais fofocavam do que passavam a receita, eu liguei para o Santino.

— Amor, tem certeza que é uma boa ideia esse jantar? — perguntei, com medo da realidade entre nós.

— Acho que sim. Porquê? — ele questionou de forma seca.

— Bem, eu não sei. Somos de universos diferentes, né? Eu não quero fazer feio e...

— Não se preocupe, Kleber. Eu estou um pouco ocupado agora, daqui a pouco te ligo. Beijos. — desligando o telefone.

— Kleber? — pensei, achando estranho ser chamado pelo nome.

Que atitude foi essa, por que ele desligou na minha cara? De repente, o Santino enviou um meme de uma criança correndo e a frase: "Quem nunca escutou a mãe falando 'se correr é pior', não sabe o que é indecisão".

Olhei para a tela do celular, ainda sem entender o que estava acontecendo. Então, ele enviou um áudio rindo e falando para não se preocupar com a sua mãe.

— Está tudo bem, Kleber. Deve ser nervosismo. — falei deitando na cama e respirando fundo.

O meu corpo é imperativo. Faltavam apenas cinco horas para o jantar na casa do Santino, a mamãe saiu para o supermercado e o Thor dormia profundamente no sofá. Estava só e o meu coração começou a palpitar forte.

Calcei o meu tênis e decidi correr pelo bairro. Eu não conhecia muito aquela região, então, seria a oportunidade perfeita para fazer um reconhecimento de área.

Por muita sorte, a gente conseguiu uma casa no Centro da cidade. Antigamente, essa parte era marginalizada, mas a Prefeitura resolveu intervir e conseguiu criar um conjunto habitacional.

Durante a corrida, descobri que havia uma padaria, mercado e, até mesmo, um bar na esquina de casa. Apesar de ser mais velho que o Santino, assim como ele, eu não tinha muita experiência com relacionamentos.

Nunca durante os meus 20 anos, precisei conhecer os pais de ninguém. Afinal, os meus dois primeiros relacionamentos ainda estavam dentro do armário. Tudo bem, que eu não era um estranho para a Dona Úrsula, mas, ficava com os dois pés atrás.

Cheguei em casa e fui direto para o banheiro. Eu não tenho muito pelos faciais, não fui abençoado como o Yuri, ele tem uma barba cheia. Arranquei os poucos fios com uma pinça e tomei um banho demorado. Me certifiquei para que cada parte do meu corpo estivesse limpinha.

Ao sair, encontrei a mamãe na cozinha. Ela estava com uma toalha na cabeça, deixando o cabelo hidratando, enquanto preparava a torta. No meu quarto, deixei a roupa passada em cima da cama.

Não queria decepcionar a sogrinha, por isso, escolhi uma calça social preta, um sapato orford (o mais caro que já comprei), uma blusa social três e um colete cinza escuro (cortesia do Enzo). Ao vestir todas as peças, olhei no espelho e me assustei.

— Nem parece eu. — comentei para mim mesmo.

— Filho! Me ajuda com esse vestido. — mamãe entrou no quarto e ficou impressionada comigo. — Espera, cadê o meu filho? — olhando em volta.

— Para. — a repreendi ficando vermelho de vergonha.

— Sério, Kleber. Você está muito lindo. — mamãe se aproximou e arrumou o colete. — O Santino tem uma sorte tremenda em ter você.

— Eu que tenho. Só não quero que nada dê errado mãe.

— Não se preocupa. Agora me ajuda com esse vestido. — ficando de costas para mim. Depois de quase 10 minutos tentando colocar a mamãe no vestido, a gente se organizou para ir à casa do Santino. O Thor, coitado, ficou todo animado, correndo de um lado para o outro, porém, aquele passeio não era para ele.

O levei para a área externa, verifiquei a água e a ração. Passei a mão em sua cabeça e me desejei boa sorte. A mamãe segurava nas mãos a torta de limão e pediu para que eu chamasse um Uber.

***

Mozinho:Estamos a caminho. Me deseja sorte, mozão.

Mozão:Boa sorte, mozinho. Tenho certeza que você vai arrasar.

***

Cada vez que o carro se aproximava da casa do Santino, um pouco da minha alma ficava no caminho. Não tinha superado o fato daquele condomínio ter três guaritas na entrada. Será que alguma autoridade como o prefeito ou governador mora ali? Poderia ser uma resposta para uma segurança tão reforçada.

Olhei para o lado e a mamãe observava as mansões. Ela já esteve ali, mas em uma situação de estresse e nem chegou a sair do carro. Naquela noite, a dona Bruna estava deslumbrante com o seu vestido vermelho, uma verdadeira rainha.

O Santino já nos esperava na entrada de sua casa. Ele também estava um gato. Usava uma camisa rosa com suspensório. Eu sabia que ele detestava usar esse tipo de roupa, porém, a ocasião pedia algo mais formal, principalmente, devido à sua mãe.

— Boa noite, Bruna. Boa noite, Kleber. — ele nos cumprimentou formalmente.

— Boa noite, Santino. Você está muito elegante. Nunca te vi com gel no cabelo. Uma gracinha. — disse mamãe. — Ah, eu trouxe uma torta de limão. — entregando a torta para o Santino.

— Obrigado. Vamos entrar?

Será que o Santino estava tão nervoso quanto eu? Acho que o placar desta partida é 0 x 0, afinal, nunca passamos por tal situação na vida. Ao entrarmos, a mamãe ficou boquiaberta com a decoração da sala.

Quem já nos aguardava eram Dona Úrsula e, para o meu desprazer, Sérgio. Sério que ele ia participar de um jantar entre famílias? Precisei respirar fundo e pedir ajuda aos deuses ursinos para me ajudarem.

— Mãe, essa é a Bruna Viana, mãe do Kleber. Bruna, essa é a minha mãe, Úrsula. — disse Santino apresentando as duas.

Um beijo para cá, abraço para lá. A Dona Úrsula fez um ótimo papel de anfitriã. Ela já devia estar acostumada em receber pessoas daquela maneira. Sério, nunca vi uma pessoa tão educada quanto ela.

Para a minha surpresa, a mãe do Santino apresentou Sérgio como o seu filho postiço. Realmente, ele cavou o seu lugar no meio da família Peixoto, como um verdadeiro parasita.

— Ah, Bruna. Por favor, sente-se. Eu vi que você trouxe sobremesa. Filhote, por favor, leve para a cozinha e peça para Gertrudes servir após o jantar. — disse Úrsula sentando em uma poltrona vermelha.

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