34 - Recuperação por Kleber Viana

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Ah, Cara. Que merda. A loucura do Kiko foi longe demais. Nunca pensei que ele teria coragem de me fazer mal, quer dizer, além do normal. Não consigo lembrar de muitos momentos do acidente, mas umas das coisas que me marcou foi o desespero do Santino, provavelmente, causado pelos meus gritos de dor.

No primeiro dia de recuperação, recebi a visita da mamãe. Ela trouxe uma sopa de mandioca, a minha preferida, e também um pedido de desculpas regado à muita lágrima. Eu a perdoei, no lugar dela, teria reagido da mesma maneira. Já imaginou receber uma notícia chocante sem ter o contexto necessário?

— Mãe, olha para mim. — pedi pegando em sua mão com dificuldade. — Eu estou bem. Nada de grave aconteceu.

— Mas, se algo tivesse acontecido. — mamãe falou apertando forte na minha mão e precisei disfarçar a dor para não quebrar o desabafo dela. — Kleber, a última lembrança que você teria seria a minha mão no teu rosto. Eu nunca te bati, filho.

— Ei, a senhora não sabia a verdade. Ninguém sabia. Infelizmente, eu me envolvi com a pessoa errada e paguei o preço. Eu não tenho que encontrar motivos para perdoá-la. A senhora abdicou de tantas coisas por mim. Eu só sinto gratidão. — afirmou me emocionando e recebendo um abraço da Dona Bruna.

O momento entre mãe e filho foi atrapalhado com a chegada de policiais. Eles fizeram uma série de perguntas e me mantive firme, porque a única vítima, com danos morais, materiais e físicos, fui eu. Queria que o Kiko pagasse por toda dor e transtorno que causou nos últimos dias.

A equipe da polícia, liderada por um policial gordinho, mostrou as imagens do circuito de segurança da faculdade. A minha coluna ficou gelada. Não imaginei que a batida tivesse sido com tamanha violência.

Fechei os olhos. Não conseguia ver mais aquela barbárie. Como uma pessoa que diz amar a outra tem a coragem de machucá-la? Porém, uma outra cena chamou a minha atenção, após verificar o meu estado, o Santino andou em direção ao carro do Kiko.

Eu não consegui acreditar. O meu namorado agiu de forma violenta e espancou o Kiko. O que eu fiz? O Santino fez algo horrível para me defender. O meu estômago embrulhou. Fiquei mal, não pelo Kiko, ele mereceu a surra, porém, não queria ter feito o Santino passar por isso.

— E agora? — perguntei ao policial que anotava algumas informações.

— Bem, Sr. Viana. — ele soltou e eu senti uma certa estranheza, pois, quase ninguém me chama pelo sobrenome. — O seu Francisco já está aguardando o julgamento. As provas são concretas, ele tentou te matar.

— Obrigado, policial. — respirei aliviado e começando a sentir dores no meu ombro.

— Com licença. — pediu o policial se retirando do quarto.

— Filho, você está desconfortável? — perguntou a mamãe arrumando o travesseiro.

— Estou. — respondi, mentindo, porque não queria preocupá-la.

— Com licença, senhora? — uma enfermeira gordinha chamou a atenção da mamãe. — O horário de visita acabou, infelizmente, a senhora precisa ir. Os pacientes vão tomar banho. Cadê, o acompanhante? — ela quis saber.

— Ele está chegando. Vou mandar uma mensagem, um minuto. — avisou mamãe digitando uma mensagem para o Santino, que nos surpreendeu e entrou no quarto. — Olha só.

— Oi, Bruna. Oi, bebê. — Santino nos cumprimentou e colocou a mochila ao lado da minha cama.

Antes de ir embora, a mamãe passou mil recomendações para o Santino. O lado leoa falava mais alto nos piores momentos. Até sobre o meu banho (que vergonha meu Deus!).

Quem continuou do nosso lado foi a enfermeira gordinha. Aparentemente, o Santino já a conhecia. Ela aproveitou uns carinhos que o meu namorado me deu e tirou uma foto escondida, quer dizer, a gente percebeu e a coitada se assustou.

— Desculpa, desculpa! — pediu a moça, colocando o celular no bolso da farda e mexendo as mãos de maneira engraçada. — Eu gosto de amor entre garotos. Tenho uma página nas redes sociais onde posto fotos de namorados e...

— Tudo bem. — falei tentando acalmá-la. — Você pode tirar uma foto, mas pode colocar uma legenda específica? — perguntei deixando o Santino agoniado.

— Claro! — exclamou a enfermeira batendo palmas e dando pulinhos.

O gay panic do Santino foi maravilhoso. Ele arrumou os cabelos, se posicionou ao meu lado e passou o braço direito em volta do meu pescoço, porém, com cuidado para não me machucar.

A moça pegou o celular e tirou várias fotos. Eu podia ver no seu sorriso que aquele ato era genuíno. Animada, ela se aproximou e mostrou todas as opções. Fiquei impressionado com a qualidade da câmera e, cara, as imagens ficaram incríveis.

— Qual o seu nome? — perguntei, fazendo uma careta, porque o meu ombro doeu.

— Ester. E, Kleber, qual a legenda? — ela questionou abrindo o bloco de notas.

— "Entre todas as chances que eu tive na vida, a melhor de todas, foi a chance de ter escolhido você", declaração de Kleber Viana para Santino Peixoto. — repeti a frase que ele me falou um tempo atrás.

— Que lindo!!! — gritou a moça chamando a atenção dos outros pacientes do quarto. — Desculpa.

Entre todas as chancesOnde histórias criam vida. Descubra agora