33 - Consequências por Santino Peixoto

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— Kleber!!! — gritei ao ver o carro do Francisco passar por cima da moto do Kleber.

A chuva dificultou a minha visão, mas eu tenho certeza do que vi. O Ford KA vermelho do professor Francisco acelerou e se chocou com a moto do Kleber. Após a batida, o carro perdeu o controle e bateu contra uma árvore.

Todos os alunos correram para ajudar o Kleber. Não lembro direito do que aconteceu, mas entrei no modo Santino centrado e pedi para alguém ligar para o resgate.

A cena era desoladora. O Kleber estava deitado no chão com várias escoriações pelo corpo. O baque o fez voar por vários metros e ralar parte do braço direito.

Ele usava a farda da assistência onde trabalhava. Uma blusa social azul claro que estava vermelho escuro. O desespero tomou conta de mim, quando percebi que o osso do ombro do Kleber havia furado a camisa.

— O professor está bem? — perguntou um dos alunos.

De repente, todas as pessoas que observavam começaram a dar dicas como, por exemplo, não mover o corpo, ter cuidado ao retirar o capacete e imobilizar a coluna do acidentado. Levantei e peguei o Sérgio pelo colarinho da camiseta. Ordenei que ele mantivesse o Kleber calmo e vivo.

— Fica aqui com ele. Se acontecer alguma coisa com o Kleber, eu juro que te mato. — ameacei.

Não sou o tipo de cara violento. Nunca fui. Mas, ao ver o Kleber agonizando no chão, andei em direção ao carro do Francisco. Abri a porta e o tirei de dentro. Não tive noção da minha força, porém, o professor caiu longe.

Ele ainda estava zonzo devido à batida e saiu se arrastando pelo chão molhado. Pisei nas costas dele e coloquei todo o meu peso. De repente, a Giovanna apareceu e pediu para que eu não fizesse nenhuma merda.

— É tarde demais! — exclamei, ficando de joelhos, virando o Francisco e desferindo vários socos.

Lembrei de tudo o que sofri até aquele momento, as ofensas e pessoas que se achavam superiores a mim. Não liguei para as consequências, apenas queria me livrar da dor que eu sentia.

Em um ato de desespero, a Giovanna se lançou na frente do professor e quase a acertei. Olhei para as minhas mãos cobertas de sangue e comecei a chorar, não conseguia segurar a emoção. Caí sentado no chão e ela me abraçou.

— Por favor, Santino. Por favor. — ela pediu me abraçando forte, sem se importar com o sangue e minhas mãos machucadas. — Não faz isso. Não faz isso.

— Eu quero matar ele, Giovanna. Cansei de ser humilhado. Cansei de sempre ser julgado pelo meu tamanho. Cansei de perder. — revelei em prantos, enquanto as minhas lágrimas se misturavam com a chuva que insistia em cair.

— Santino. Você não está mais só. — a Giovanna falou, tocando no meu rosto e virando para a esquerda, onde o professor estava caído.

O Enzo e André prenderam o professor Francisco com uma corda. Eles haviam ligado para a polícia e pediram os vídeos dos alunos que gravaram o acidente criminoso. Em seguida, ela apontou para o Sérgio, que havia tirado o capacete do Kleber e imobilizado o seu pescoço, usando as pernas para deixá-lo confortável.

— Ponha uma coisa na sua cabeça, Santino. Você não está só. — ela garantiu, levantando e me oferecendo a mão.

A ambulância da faculdade chegou e minha atenção voltou para o Kleber. A chuva caia ainda mais forte e alguns curiosos se mantinham entretidos com a confusão. A polícia também apareceu e os meus amigos mostraram as provas para os policiais.

Os socorristas agiram de forma rápida. Eles desceram a maca. Uma mulher verificou o estado do Kleber e confirmou a fratura exposta. Ela pegou uma tesoura e cortou a camiseta dele, acho que para analisar melhor o ferimento.

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