28 - O último a saber por Santino Peixoto

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Um novo evento na cidade de Manaus, o retorno da mamãe. Ela era uma mulher espalhafatosa, ou seja, não tinha como passar despercebida. Nossa ligação não era tão forte, mas, naquele momento da minha vida, isso não fazia muita diferença. Existiam outras prioridades como, por exemplo, não surtar por causa do professor Francisco.

A Giovanna pediu para que eu tivesse uma atitude mais ativa, tipo, confrontasse e afastasse o Francisco, entretanto, eu não teria coragem para tal. Encontrei o Well, o líder do Clube de Arte, criando o esboço para um quadro. Eu percebi que ele se concentrava bastante quando entrava em processo criativo.

As linhas de Well são certeiras e densas. Ele está debruçado sobre a mesa e seus cabelos caem em seus olhos, mas esse fato não o atrapalha em nada. Eu, por outro lado, sempre uso uma presilha para prender o meu cabelo.

Um a um, os alunos foram chegando para mais um dia de aula. Naquela semana, o Clube de Robótica, solicitou a confecção de cartazes para um torneiro que alguns alunos participariam. Nos últimos meses, virei especialista em criar cartazes fofos, principalmente, para o Kleber.

Minha obra prima era um desenho do Kleber na versão chibi que, na cultura japonesa, é um desenho onde os personagens possuem a cabeça um pouco maior que o corpo. Eles são criados para dar um toque engraçado ou sentimental. No dia da competição, o meu desenho fez um enorme sucesso, então, levei isso como um incentivo.

— Boa tarde, turma! — desejou o professor Francisco ao entrar na sala.

Ele deixou seu material na mesa e seguiu para a lousa. O professor explicou sobre a demanda e avisou que o nosso deadline (prazo) era às 19h, daquele dia. Um burburinho iniciou na sala de aula, mas o Francisco pediu a nossa compreensão e contou sobre a dificuldade que os times da faculdade encontravam para animar as torcidas.

Após um discurso inspirador, a turma acabou topando. Eu só queria afogá-lo na lata de tinta branca que o Well abriu para distribuir entre os alunos. Nunca fui um cara ciumento e vingativo, porém, os hormônios estavam à flor da pele. Para não fazer nenhuma besteira, respirei fundo e peguei o meu caderno de esboço.

O nome do time era "Nas estrelas com pupunha", uma referência ao filme "Guerra nas Estrelas" e a famosa pupunha, um fruto muito popular e delicioso da Amazônia. Comecei a esboçar personagens famosos da franquia como o Mestre Yoda e Chewbacca, além dos adoráveis R2-D2 e C-3PO.

Sorrateiramente, o professor Francisco se aproximou e ficou analisando os meus esboços. A minha mão direita começou a tremer e o desenho do Baby Yoda saiu horrível. O Well sentiu o desconforto e se aproximou.

— Esse Baby Yoda ia ficar lindo, Santino. — comentou Well sentando ao meu lado e mostrando seus desenhos. — Estou fazendo algo mais regional.

O Well apostou nos traços indígenas da região. Aproveitou a "farinha" no nome do time para complementar a arte como se fosse uma sacola de farinha. Nem preciso dizer que os desenhos dele estavam perfeitos, né? Fiquei até com vergonha por infantilizar o meu cartaz.

Ficamos em uma corrida contra o tempo, o relógio marcava 18h30 quando um dos representantes do time chegou na sala. Que apressado. Artistas não podem ser levados ao extremo dessa maneira, pelo menos, eu acho que não.

Ainda bem que ele aprovou todos os cartazes. Infelizmente, o meu ficou sem vários elementos, mas não fugi da minha ideia inicial que era produzir algo mais voltado para o chibi. O rapaz agradeceu pela ajuda e afirmou que a equipe ficaria motivada por causa dos desenhos.

Nossa! Desenhar tão rápido me deixou com a barriga roncando. Precisei organizar todo o material que utilizei para produzir os cartazes. De longe, observei o professor e o Well conversando sobre a evolução do clube. O sorriso do Francisco estava me dando nos nervos.

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