8 - O Trote por Santino Peixoto

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A convivência com o Sérgio é um treinamento de paciência

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A convivência com o Sérgio é um treinamento de paciência. Após o velório de Carla, decidi refugiar o meu colega de escola, porém, algumas atitudes dele conseguiam me tirar do sério. Nos primeiros dias, a gente mal conversou, pois, ele vivia trancado no quarto. Aproveitei o período de férias para praticar meus desenhos.

Desenhar foi a minha válvula de escape para não matar o Sérgio. Sempre gostei de dar uma imagem para as coisas que imaginava, como por exemplo, o Sr. Chapéu Coco, também conhecido como meu primeiro amigo imaginário. Era um homem alto, careca, a pele verde e os olhos azuis. Ele sempre aparecia vestindo um terno preto com uma rosa azul na lapela e seu famoso chapéu coco.

As tardes em Manaus são imprevisíveis, entretanto, naquela sexta-feira, o sol decidiu dar uma folga e um clima europeu nos atingiu. Peguei meus materiais de pintura e fui para o jardim. Decidi fazer um desenho do Sr. Dente de Coelho, namorado do Sr. Chapéu Coco. Caramba, ele continua vivo nos meus pensamentos. Lembro de cada detalhe de seu corpo.

— Porquê o coelho está usando um chapéu? — perguntou Sérgio me assustando.

— Nossa, cara. Avisa. — falei no susto, parecendo mais afetado do que gostaria de admitir.

— Relaxa, Saturno. Bem, o papai pediu uma reunião. Me deseje sorte. — Sérgio anunciou como se fosse algo ultra secreto, antes de colocar seus óculos escuros.

— Quer que eu vá? — questionei, orando para uma resposta negativa.

— Não preciso de babá. Mas obrigado.

O dia passou rápido, só percebi que a noite chegou quando os pernilongos estavam fazendo um banquete no meu braço esquerdo. Levantei e estiquei a coluna, ouvi um ossos estralando. Alguns funcionários da casa passam por mim e desejaram boa noite. Entrei e senti um cheiro de comida, então, lembrei que não lanchei e estava morrendo de fome.

O cardápio da noite? Macarrão de abobrinha, smoothie de hortelã com abacaxi e cookies integrais de aveia. Caramba, que mulher sádica que a mamãe foi contratar. Ela fazia de tudo para me levar ao caminho da vida fitness, mas até então, só conseguiu ganhar minha antipatia.

Eu não sou um cara fresco, nunca fui. Sempre procurei entender o lado da outra pessoa, porém, a Lúcia era horrível. Adorava fazer comentários inapropriados, não gostava dela. Tentei conversar com a mamãe, mas parece que o projeto das pessoas carentes de Uganda tinha prioridade. Infelizmente, eu não teria coragem de demiti-la. O jeito era aguentar, coisa que virou minha especialidade.

Após o jantar, fui para a sala e coloquei uma série para assistir. A trama segue a vida de três irmãs que são bruxas, mas nunca desconfiaram de seus poderes. A mais velha consegue mover objetos com a mente; a irmã do meio tem o poder de congelar o tempo e a mais nova pode ler mentes. Achei a temática bacana e assisti até o sétimo episódio.

— Esse velho escroto. — Sérgio praguejou, carregando uma caixa e passando por mim.

Pausei a série e voltei a minha atenção para Sérgio. Ele parecia realmente chateado e dizia várias coisas desconexas. Respirei fundo, levantei do sofá e fui em direção ao quarto dele. A porta estava aberta, então, decidi entrar para conversar. Mudança de humor era uma das principais características dele. O encontrei chorando no chão.

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