30 - Laços por Santino Peixoto

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(gritos internos) O Kleber fez uma declaração maravilhosa no seu status do Instagram. Já estamos no terceiro mês de namoro. Confesso, não é uma coisa simples, mas a conversa sempre foi o pilar principal da nossa relação.

Graças a Deus, o Francisco não jogou mais indireta para nós. Nessas últimas semanas, a faculdade se tornou um "calabouço do mal", essas foram as palavras de Giovanna.

Tivemos que entregar quatro trabalhos em cinco dias. A minha saúde mental estava em grande risco, no clube de artes, as coisas continuavam tranquilas, o Well se tornou um grande aliado e, aos poucos, integrava o nosso grupo.

— Estou exausta. — disse Giovanna jogando os livros na mesa, sentando e encostando a cabeça nos livros.

— Você cansada? Eu tenho três projetos, trabalho e ainda tem um último campeonato de natação. — o Kleber falou, iniciando uma disputa para saber quem estava mais na merda.

Sempre nos reunimos nos intervalos da aula, até mesmo o Sérgio deu o braço a torcer e integrou a turma. Ele e Giovanna se preparavam para participar do Festival de Música da Ufam. Aparentemente, os membros do Clube de Música eram obrigados a participar.

— Já escolheu a tua canção? — perguntou Giovanna a Sérgio, ainda com a cabeça sob os livros.

— Estou vendo possibilidades. Você vai de playback? — ele quis saber.

— Sim, não quero fazer nada de errado. Gente, vou dormir por uns cinco minutos. — anunciou Giovanna apagando.

— E você, Santino? — Sérgio perguntou cruzando os braços. — Não está cansado?

— Um pouco, mas estou de boas. Só ansioso para o pedido de casamento do Yuri para o Zedu. — expliquei, enquanto massageava o Kleber que cochilava.

— O irmão da Giovanna? Que legal. Se precisarem de ajuda. Podem contar comigo.

— Ele não precisa. — murmurou Kleber, ainda de olhos fechados, aproveitando a minha massagem.

— Olha, o baixa renda é fofoqueiro. Enfim, ainda bem que não preciso da sua permissão. Vou pessoalmente falar com o Yuri. — comentou Sérgio se levantando. — Bem, meninos e meninas, eu vou andando tenho que terminar uma maquete. — saindo da área de convivência dos alunos.

— Ele é sempre desagradável assim? — Enzo perguntou, depois de tirar os fones de ouvido.
— Ele é gato, mas é insuportável. — afirmou André que parou de ler um livro e voltou a conversar conosco.

— Não. Só de segunda a domingo. — soltou Kleber, ainda de olhos fechados.

— Qual é, gente. O Sérgio está tentando. Ele perdeu contato com todos os amigos do ensino médio. Eu tenho pena da solidão dele. Eu já estive nesse lugar. — procurei uma maneira de amenizar a barra do Sérgio, que não se esforçava para fazer amizades.

Entre um trabalho e outro, buscava oportunidades para ajudar o Yuri. Ele estava uma pilha de nervos por causa do pedido de casamento. A ideia era fazer uma festa fake e durante uma homenagem, o Yuri faria o pedido para Zedu.

Fizemos uma reunião em casa. O Hélder ficou apaixonado pela minha mãe. Ela continuava impressionada com a quantidade de amigos que eu estava fazendo. A dona Úrsula se sentia uma adolescente ao lado de Jonas e Hélder.

O coitado do Yuri queria focar no pedido de noivado, mas toda hora alguma coisa tirava o foco do grupo. Principalmente, quando a mamãe aparecia e soltava algum comentário (que na cabeça dela deveria ser engraçado).

Em um dos intervalos, o Yuri se afastou e ficou olhando para a piscina. Reuni coragem e fui conversar com ele.

— Ei. Está nervoso? — perguntei assustando o Yuri.

— Ei. Nossa. — respirando fundo. — Mas, respondendo a sua pergunta: sim. Estou apavorado.

— Yuri. Vocês se amam. O Zedu é louco por você. Só vejo um cenário possível para esse pedido, o sim. — aconselhei pegando no ombro dele.

— Olha só. Santino Peixoto, o reizinho dos conselhos. Você evoluiu demais, parabéns. — as palavras de Yuri me deixaram envergonhado.

— Você já escolheu o local para a surpresa? — quis saber ficando ao lado dele.

— Ainda não. Lá em casa não vai rolar, o Zedu quase não está saindo de casa por causa dos trabalhos remotos.

— Que tal aqui? A mamãe adoraria uma festinha. Poderíamos montar o telão no jardim, a mesa de doces perto da piscina e o Sérgio falou que pode conseguir uma banda para tocar ao vivo.

— Sério? Não brinca comigo, por favor.

Eu não tive tempo para reagir. O Yuri me deu um abraço de urso, doeu até a minha costela. Fiquei feliz em participar deste momento tão importante. É muito bom ver meus amigos seguindo um caminho tão lindo.

Fomos conversar com a mamãe. Nem preciso dizer que a resposta foi positiva, inclusive, ela disponibilizou toda a equipe da casa para ajudar na organização da festa.

— Gente! — exclamou Hélder. — Porque eu fiz amizade com vocês duas? — olhando com desdém para Jonas e George. — Úrsula, querida, você não está precisando de uma melhor amiga?

Contei a novidade todo animado para o Kleber. Ele estava muito cansado devido à rotina de trabalho e estudo, então, naquela semana, passamos a fazer apenas programas mais tranquilos. Uma das nossas atividades favoritas era assistir séries, graças aos céus, temos um gosto parecido para seriados e filmes.

Abraçadinhos, sob as cobertas e sofrendo com o drama de cinco garotas presas em uma ilha, esse foi o nosso final de semana. O Kleber adorava ficar com os pés entrelaçados, de acordo com ele, os seus pés sofrem por causa do frio, ou seja, a minha missão era aquecê-lo.

— Quer comer em algum lugar hoje? — ele perguntou, após o último episódio da série terminar.

— Não sei. Está tão gostoso aqui. Tenho certeza que a rainha do mal fez algum prato que tú adora. — comentei, ao lembrar que o Kleber adorava os pratos da chef vegana.

— Por isso que quero levar o meu namorado para jantar ou pegar um cinema, no caso, de verdade. A tela grande e a pipoca que vale o olho da cara. — sugeriu Kleber me fitando com aqueles olhos castanhos maravilhosos.

— Ok. Você venceu. Quero assistir ao "Massacre Sangrento 12: o mistério do bebê zumbi".

— Tudo o que o meu ursão desejar. — afirmou Kleber.

Aos domingos, os shoppings de Manaus ficam uma loucura. São uns 10 shoppings na cidade, mas o Kleber e eu, preferimos um chamado Millenium que não fica tão lotado aos fins de semana. Estacionamos o carro, no caso o Kleber, pois, sou péssimo de baliza e pegamos o elevador para a praça de alimentação.

Você se considera corajoso? No Brasil, segundo estatísticas, a cada 19 horas uma pessoa LGBTQIA+ é morta. Então, algumas pessoas têm medo de demonstrar o seu amor de maneira plena. Ao lado do Kleber, de mãos dadas, chamamos atenção de alguns membros das famílias tradicionais brasileiras.

Mas, quem vai enfrentar um homem de 1,89? Eu não sou violento, estou longe de ser, porém, as pessoas não sabem disso, por isso, tenho certeza que elas podem pensar maldade sobre nós, só que não tem coragem de enfrentar um gigante.

— Eita, que os homofóbicos estão pirando, mozão. — comentou Kleber apertando forte a minha mão, dando um sorriso que me encheu de coragem.

— Sim. Estou me acostumando com isso. As minhas mãos não tremem mais. — falei rindo sem graça, enquanto caminhávamos para o cinema, de mãos dadas, chamando a atenção de todos.

A fila do cinema estava considerável, porém, compramos os ingressos nas máquinas automáticas e seguimos para a fila da pipoca. Muitos casais apaixonados e adolescentes ansiosos para "Massacre Sangrento 12", um filme nada romântico, mas imperdível para os cinéfilos de plantão.

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