35 - Somente o perdão por Santino Peixoto

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— Eu posso falar com você, por favor. — pediu Sérgio, aparecendo do nada na nossa frente.Eu odeio discutir, principalmente, com pessoas que eu gosto. Querendo ou não, o Sérgio fez parte da minha vida, seja para bem ou mal. Olhei para o Kleber, ele deu com os ombros, mas, no fundo, sei que não queria a nossa aproximação.

Todos ficaram na expectativa da resposta. Através da telepatia, a Giovanna me aconselhou a conversar com o Sérgio e colocar os pingos nos i's de uma vez por todas. Respirei fundo, levantei e levei o Sérgio para uma parte mais afastada.

— O que você quer? — questionei a Sérgio, sem olhar para ele.

— Me redimir. Santino, eu sei que errei feio, mas, ao ver aquela foto... eu não sei...

— Porquê? Porquê tinha que ser daquele jeito? Na frente de todos. Você sabe como foi humilhante? — perguntei, agora tendo coragem de olhar diretamente para o Sérgio.

— Eu só não queria que você fosse enganado. — explicou Sérgio, andando de um lado para o outro. — Eu gosto de você, ok. Você é quase um irmão para mim. Eu errei no começo e, apesar de todas as humilhações, você ficou ao lado da minha mãe. — Sérgio começou a chorar e aquela conversa me deixou mal.

— Sérgio, você poderia ter vindo conversar comigo.

— O Francisco veio conversar comigo Santino. Eu acreditei em todas as mentiras dele. Ele falou que você era muito inocente e não conseguiria enxergar maldade no Kleber...

— Atrelado a isso, a sua raiva do menino. O Kleber nunca te fez nada, Sérgio. Ele sempre tentou ser teu amigo. Que droga. — esbravejei, zangado e ficando vermelho.

— Eu vou cantar no show. Vem me ver, por favor. Não tenho ninguém torcendo por mim. — ele pediu enxugando às lágrimas.

— A Giovanna vai cantar também. Se der eu assisto a tua apresentação. Preciso voltar. Com licença. — saí e o meu coração ficou apertado pela situação dele.

Merda! Eu não conseguia resistir ao Sérgio. Estava em uma encruzilhada. Por um lado, continuava chateado pela besteira que ele aprontou, pelo outro, lembrava da promessa que fiz a Carla, mãe dele. Qual caminho devo escolher?

Voltei para a mesa e, depois da torta de climão, os meus amigos decidiram ir para a casa de Giovanna. O Yuri estava preparando um churrasco para comemorar o novo emprego do Zedu. Eles iriam se mudar para o Sul do país para iniciar uma vida juntos, longe de todos os traumas do passado.

— Ah, caras. Eu não acredito que vocês vão para tão longe! — exclamou Brutus parecendo chateado. — Mas, por favor, façam amizades com as gatinhas de Porto Alegre e consigam um casamento para mim.

— Tinha que ser o idiotão. — brincou Luciana, passando a mão na cabeça de Brutus que começou a rir.

— E o casamento? — perguntou Helder de uma forma dramática e com os lábios trêmulos.

— Calma, tudo no seu tempo. O casamento vai acontecer, mas agora vamos focar nas nossas carreiras. — respondeu Zedu, levantando as mãos em forma de rendição.

Fiquei muito feliz com a decisão do Yuri. Eu percebi que os relacionamentos são feitos de escolhas e renúncias, ou seja, o Yuri abriu mão de morar em Manaus para seguir o noivo em uma jornada de cura.

Todos os amigos do Yuri estavam na festa. Daqui uns anos, eu esperava que fosse a minha vez, não de casar, mas de preservar as amizades que cultivei como a Giovanna, Enzo e André.

Aproveitei a noite para beber, uma pena que o meu namorado não pode me acompanhar nos drinks. Ele continuava tomando remédios e teria fisioterapia para o ombro, então, foi a vez dele cuidar de mim.

— Eu te amo. — falei com uma voz que mais lembrava o tradutor do google e beijei a bochecha do Kleber.

— Eu te amo, meu ursão lindo, gostoso e bêbado. — enumerou Kleber retribuindo o beijo.

— Amigo. — Enzo se aproximou cambaleando e sentando no chão de frente para nós. — Eu vou começar minha empresa e quero chamar você para ser um dos funcionários. Ainda vou regulamentar tudo, mas seria uma honra ter você ao meu lado.

— Sério, tem, tem certeza? — questionou Kleber mudando de fisionomia e gaguejando. — Enzo, você está louco, acho melhor conversamos outro dia.

— Deve ser 'Uó' não poder beber, né? Mas, a gente conversa com mais calma. A Tech Land vai virar uma realidade. — afirmou Enzo que levantou, depois que André o chamou para tomar shots de tequila.

Do nada, os meninos começaram a dançar, de uma forma maluca e desorganizada. Mesmo machucado, o Kleber quis arriscar uns passos, ou melhor, dançou o dois-pra-lá-dois-pra-cá com os pés.

A parte engraçada? Ficou por conta da Giovanna, sempre ela. Para preservar a voz, a minha amiga resolveu fazer um voto de silêncio, pois, no dia seguinte faria uma performance no festival de música da faculdade, o evento marcaria o fim das atividades, ou seja, doces férias.

Comida, bebida e pessoas sorrindo. Não existe nada melhor para fechar um ciclo. Uma das cenas que me tocou foi um beijo entre Yuri e Zedu. Eles pareciam felizes, leves e prontos para enfrentar os obstáculos da vida.

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