14 - Nosso Mundo por Santino Peixoto

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Eu não gosto quando as pessoas gritam comigo

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Eu não gosto quando as pessoas gritam comigo. Não é que eu fique chateado, porém, dispara gatilhos da minha infância. Na época em que os meus pais moravam juntos, eles sempre discutiam por minha causa. De acordo com o meu pai, eu era afeminado demais, gordo demais e não tinha o sangue dos Peixoto correndo dentro de mim.

Lembro de uma vez, acho que eu tinha uns sete anos. Estávamos de férias em Dubai e, após tomarmos banho no mar, peguei a toalha e coloquei no corpo como se fosse um vestido. O meu pai deu um grito, arrancou a toalha do meu corpo e me deu um tapa no rosto.

Que tipo de pessoa faz isso com uma criança? A partir daquele momento, a mamãe decidiu se mudar e ele adorou a ideia. Afinal, o filho afeminado não tinha valor nenhum. Por outro lado, o meu pai nunca deixou nada faltar para nós, principalmente, quando se tratava de educação e moradia.

— Santino. — a voz de Kleber me trouxe de volta para realidade.

— Hum. — soltei, ainda nervoso por causa do grito e escondendo as minhas mãos que estão tremendo.

— Desculpa. Eu não queria ser grosseiro e...

— Tudo bem. — falei sem ter coragem de olhar para ele.

— Não, não está. Eu não sei o que aconteceu. Fiquei com ciúmes. — ele assumiu e segurou na minha mão. — Eu fiquei com ciúmes de você, Santino. E prometo que isso não vai acontecer de novo.

O Kleber. O Kleber está com ciúmes de mim? Eu nunca tive ninguém com ciúmes de mim, nem a minha própria mãe. Eu não sei como reagir a essa novidade. De forma engraçada, ele colocou os bilhetes em cima da mesa e começou a desamassar um a um.

Tenho vontade de pegar o celular e digitar: Como reagir a uma crise de ciúmes, entretanto, fazer isso com o Kleber ao meu lado não é o melhor plano do universo. Por isso, procurei não surtar e voltei a agir normalmente.

O climão desapareceu quando vi todas as opções de comida. Eu sou fã de comidas regionais, mas a banana frita é o meu ponto fraco. Eu uso um dos tickets para comprar uma porção de banana frita com leite condensado. O Kleber pediu um bolo de macaxeira, que parecia muito suculento.

Voltamos para a mesa e passamos um bom tempo conversando. O Kleber deve ser a única pessoa no planeta que ri das minhas piadas ruins.

— Você conhece a piada do pônei? — perguntei, enquanto comia uma banana frita.

— Não. — O Kleber respondeu levantando uma das sobrancelhas.

— Pô nei eu. — respondi, rindo da minha piada ruim.

— Você é muito bobo. — O Kleber afirmou, pegando um guardanapo de papel e limpando a minha boca. — Tem um pouco de leite condensado escorrendo.

— Obrigado.— agradeci, visivelmente vermelho e envergonhado, mas adorando a atitude dele.

Seguimos para o segundo round. Dessa vez é salgado. Assim como a primeira vez, fiquei na dúvida de qual escolher. As opções são variadas e, claro, saborosas. Em uma das barracas, encontrei coxinha, risole, pastel de queijo, bola de frango, kikão, macaxeira cozida com manteiga, dado de tapioca e sanduíches.

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