Capítulo 3

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A noite foi longa, deixei minha mãe sozinha enquanto fazia suas malas e fui para meu quarto tentar digerir toda essa informação nova. Deitei de barriga pra cima e fiquei olhando para o teto, lembrando de quando tinha cinco anos, que fiquei internada com crise de bronquite e mamãe ficou ao meu lado naquele hospital a todo momento com muita preocupação. Em um certo momento da crise, estava respirando com dificuldade ao seu lado, enquanto ela chorava ao me ver daquele jeito e passava as mãos em meus cabelos dizendo que tudo ficaria bem e que ela estaria sempre ao meu lado. Respondi com dificuldade:

- Também estarei sempre com você, mamãe! 

E nesse momento estava pensando que chegou a hora de mostrar que estaria ao seu lado, voltando para o interior com ela. Iria me privar de muitas coisas? Iria, mas era necessário, por ela que sempre fez tudo por mim.

Já estava sofrendo de ficar sem celular, WhatsApp, Facebook, Instagram... Aí meu Deus, acho que vou pirar! Mas não vou sofrer antes do tempo, vamos dar um passo de cada vez. 

O pior que não conseguia pensar coisas positivas sobre a roça. Adorava meus tios e primos, embora não tivéssemos muita intimidade, pois só passava alguns anos novos lá e conviviamos pouco. Além de sermos de universos diferentes, devido eu ter mais condições financeiras que eles. E também não tinha primos da minha idade, ou eram mais novos ou mais velhos. Mas enfim, não queria me martirizar agora, pensei na música do Lulu Santos: 

"Vamos viver tudo que há pra viver

Vamos nos permitir"

Então vamos né?

Peguei minhas malas que estavam ainda com selos dos aeroportos que frequentava e abri meu guarda-roupa com desânimo! Nossa, era muita roupa para uma pessoa só! Precisaria de duas viagens para levar tudo. O jeito será doar as que não uso mais. Vou mandar mensagem para minhas amigas para elas virem catar algumas roupas minhas que sei que é o sonho delas (convencida).

Já eram três horas da manhã e ainda não tinha arrumado nem um terço das minhas coisas. Aff, cansativo isso ein? Deitei na cama para descansar um pouco e acabei apagando.

Acordei no dia seguinte com mamãe gritando na minha porta que iria embora e me deixaria ali, morta.


Quando olhei pra ela já estava arrumada e com uma mala de carrinho em uma mão e uma bolsa de lado no ombro. 

- Mas já? Ainda não arrumei nem um terço das minhas coisas! - disse exasperada.

- Já estou pronta! - disse mamãe calmamente - vou tomar café, se você não estiver pronta quando eu terminar, vou sem você! A passagem do ônibus é para nove horas e já são sete e meia! - me informou olhando para o relógio.

Íamos de ônibus porque papai estava ocupado demais para nos levar e mamãe não sabia dirigir. Eu estava tirando carteira na época, mas não deu tempo de concluir antes de ir embora.

Levantei em um pulo e fui para o banheiro tomar banho e me arrumar. Peguei mais duas malas e coloquei mais algumas roupas e calçados dentro, ainda restando algumas em meu guarda-roupa. Peguei meus itens de beleza e pus em uma maleta de mão. Olhei uma última vez para o meu quarto bagunçado e deixei uma lágrima escapar ao dizer: - Adeus, lar, doce lar!

Passei na minha irmã que já estava pronta para retornar a sua universidade e dei um beijinho em sua bochecha e disse: - te espero lá na roça pra gente fazer umas papas de milho. - ela riu e me deu um abraço apertado.

Cheguei lá embaixo e disse para mamãe: -estou pronta para o recomeço, vamos? 

Ela me olhou com os olhos vermelhos de tanto chorar, me abraçou e disse: - que venha o recomeço! 

Da Cidade Para RoçaOnde histórias criam vida. Descubra agora