Pegamos o ônibus de nove horas na rodoviária rumo ao interior. Desceríamos no centro da cidade e meu tio nos esperaria lá para nos levar a roça. Chegamos lá por volta de três e meia da tarde, não aguentava mais ficar plantada dentro daquele ônibus, que parecia não chegar nunca. Não lembrava como era tão distante o interior! Estava exausta e doida pra deitar e esticar as pernas, porém ainda enfrentaríamos mais meia hora de estrada de barro no Fusca do meu tio João.
Mamãe estava com o olhar caído, cheia de olheiras e mesmo assim me perguntava de hora em hora se eu estava bem.
Enfim, chegamos a casa dos meus avós e ambos nos esperavam na porta da humilde casa, com um sorriso no rosto. Nos abraçamos e ali já me sentia em casa, com humildade, mas muito conforto e amor.
Meus tios e alguns primos logo que souberam da nossa chegada foram até a casa dos meus avós nos cumprimentar e pôr os assuntos em dia. Ficamos até tarde na varanda da casa jogando conversa fora, até que senti o peso do cansaço sob meus ombros e resolvi me despedir para tomar um banho e dormir.
Vovó havia separado um quartinho com uma cama de casal para a gente e estava com roupas de cama cheirosas e aconchegantes. Deitei e não demorei muito para pegar no sono, visto que já estava morta de cansada.
Lá na roça era tudo muito simples e lindo. A casa dos meus avós era de madeira, com dois quartos, uma sala pequena, uma cozinha, uma copa, banheiro e o quintal que eles chamam de "terreiro". No quintal tem um curral onde ficam os bois e vacas do meu avô e onde ele passa a maior parte do tempo. Ele também tem uns cavalos, galinhas, patos, porcos e plantações de tudo quanto é tipo!
Meus tios e primos moravam próximos dali, assim como os outros moradores da roça. Eles se organizavam em uma associação de moradores, que tinha um polo ali perto, onde também faziam atendimentos médicos e tinha uma enfermeira a disposição. Ali também faziam festas onde dava pra ver que tinham muitos mais moradores do que imaginava.
Vovô era muito querido na localidade e faria noventa anos naquele ano, daqui a uns meses, já cheguei com a novidade que ajudaria na organização juntamente com meus primos. Fiquei empolgada e mamãe ficou feliz por me ver assim.
Mamãe até quis procurar uma casa ali perto, mas meus tios e avós a convenceram de ficar por ali cuidando dos velhinhos.
Já se passaram cinco dias que estamos aqui e eu comecei a me preocupar com a faculdade, tinha que ir até a cidade vizinha ver uma faculdade para transferir e ir lá na minha antiga faculdade pedir a transferência.
Sentia falta das minhas amigas, mas não tive muito contato com elas desde que saí de lá. Só mandei um WhatsApp para o nosso grupo e elas até queriam ir lá se despedir, mas saímos cedo de casa e não deu tempo. Mas disse que voltaria e ficaria na casa de uma delas até resolver o assunto da faculdade. Aí marcamos de fazer uma festa de despedida.
Estava sentindo falta do celular e das redes sociais, não posso negar, mas meus primos eram muito parceiros e ficamos colados essa primeira semana descobrindo melhor um sobre o outro, o que me permitiu esquecer um pouco sobre as tecnologias e os acontecimentos com a minha família.
- Amanhã vou levantar cedo e ir a cidade vizinha, resolver o lance da faculdade. - disse a mamãe já deitada para dormir ao seu lado.
- Ok. Vou fazer uma lista de compras pra você comprar na cidade com o cartão do seu pai - eles tinham uma conta conjunta com os recebimentos de papai.
- Mas mãe, de lá devo ir pra capital, resolver os assuntos da minha faculdade lá. - me justifiquei, pois não poderia carregar as compras.
- Na volta você compra e traz - ela respondeu bocejando.
- Sim, mas só volto daqui dois dias, vou ficar na casa da Michele e elas vão fazer uma festa de despedida pra mim no sábado. - expliquei pra ela não ficar preocupada.
- Tudo bem filha, só me traga as compras quando quiser retornar. Agora boa noite que irei dormir. - disse virando para o outro lado.
Nós sempre tivemos uma relação mãe e filha de muita compreensão e diálogo. A admiro por estar sendo forte todo esse tempo e por seguir a vida sem olhar pra trás. Quando crescer quero ser que nem ela.
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Da Cidade Para Roça
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