Por Anne
Chego em casa umas nove horas da noite e estranho ao ver o carro do meu pai no estacionamento.
- Ele não é de chegar cedo - pensei.
Já tinha idéia que o assunto era bem sério, já que minha irmã só vinha em casa uma vez por mês, por sua faculdade ser distante e esse mês ela já tinha vindo. Se ela está aqui novamente, convocada pelos nossos pais como eu fui, com certeza eles não estavam de brincadeira.
Cheguei na sala e vi minha irmã de cabeça baixa em um sofá, meu pai em pé perto da porta com a mão na cabeça e minha mãe com o rosto vermelho e olhos inchados de chorar, provavelmente. Fiquei atordoada por um segundo vendo ela assim, até que meu pai me tira dos meus devaneios.
- Até que enfim chegou, já estava indo te buscar! - disse mais alto que o normal.
- Estava esperando a penúltima aula acabar, para não perder essa também - me expliquei sem graça.
- Ok, vamos parar de perder tempo e vamos ao que interessa. - disse meu pai autoritário. - Senta aí - apontou para o sofá ao lado da minha irmã.
Olhei para minha irmã com vários pontos de interrogação no olhar e ela parecia estar como eu, sem entender o que estava acontecendo.Meu pai olhou para minha mãe, que ainda estava chorosa e pediu para ela nos explicar o que estava acontecendo.
- Seu pai me traiu com uma mulher e ela está grávida dele, agora ele quer que vamos embora para ele poder trazê-la pra cá - disse mamãe aos prantos.
- O quê?? Pai o senhor só pode estar doido! - eu disse me levantando do sofá aos gritos - vai nos expulsar para por uma amantezinha de merda no nosso lugar?
Antes de eu terminar meu chilique minha irmã saiu do meu lado e foi abraçar minha mãe que chorava desesperada.
- Eu falei pra sua mãe que não precisava sair da casa, que eu arrumava outro lugar pra ficar com a Letícia, mas ela prefere voltar às raízes. Então vocês decidem se querem acompanhá-la ou ficar aqui comigo e a nova madrasta de vocês que espera um filho meu, seu irmão! - papai justificou-se friamente.
- Voltar às raízes? Como assim, mãe? - perguntou minha irmã lerda para mamãe.
- Si..sim... Voltar para roça, para perto dos meus pais velhinhos e meus irmãos (que já estão casados e com filhos, alguns até com netos). Eu entendo se vocês quiserem ficar com o pai de vocês...
- Nem pensar - eu a interrompo indo para seu outro lado - vou com você para onde for! Jamais ficarei com esse traíra que não está nem aí para a família... De verdade!!!! - digo apontando para meu pai que está de costas para gente nesse momento.
Um silêncio se instaura na sala até que minha irmã resolve se pronunciar.
- Olha mãe, eu na verdade não posso ficar nem com você, nem com papai, porque já tenho minha vida onde estudo. Em breve me casarei com o Bruce - seu noivo, que conheceu na universidade - e devo morar por lá mesmo. Mas prometo que sempre irei visitar você e minha irmã. - diz acariciando seu rosto. - Já meu pai, não sei se vai querer receber nossa visita, pois estará ocupado com sua nova família. - diz fazendo careta pra papai.
Meu pai vira-se pra gente e berra:
- Não é porque vou me casar novamente que vou me afastar de vocês, existe ex mulher, mas não ex filhas! Ah não ser que não queiram me ver mais pela "burrada" que cometi... - diz começando a chorar.
- No momento só quero apoiar minha mãe em sua decisão e esquecer que o senhor existe - digo de cabeça abaixa, sem o olhar nos olhos.
- Mãe, quando vamos? - pergunto secando uma lágrima sua.
- Acho que amanhã para ver uma casinha lá, próxima a dos meus pais. Não quero voltar a morar com eles para dar trabalho depois de velhos. Mas você deve ficar para resolver a faculdade. Lá só tem faculdade na cidade vizinha, há quase 60 km da roça. - minha mãe responde olhando para o nada.
- Eu vou com você - respondo. Depois eu volto para resolver isso, ou tento por telefone, enfim...
- Lá não pega telefone - me interrompe mamãe.
- Putz, nem internet? - pergunto de olhos arregalados.
- Claro que não, né? Se não tem telefone, como vai ter internet? - minha irmã responde, rindo de lado.
- Telefone e internet só no centro da cidade, há uns 30 minutos de lá, de carro. - mamãe diz desanimada.
- Nossa, mãe! Vai ser doloroso ficar sem falar com meus crushs e minhas amigas no WhatsApp, mas... Estarei do seu lado, independente das circunstâncias. - digo abrindo um sorrisinho para minha mãe.
Vejo lágrimas brotarem novamente em seus olhos enquanto ela passa o dorso da mão no meu rosto, o acariciando. Neste momento percebo que papai já sumiu da sala e minha irmã encontra-se com a cabeça apoiada no ombro de mamãe, como forma de apoio.
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Da Cidade Para Roça
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