Capítulo 18

178 18 0
                                    

Acordei com a cabeça pipocando de dor, parecia até que estava de ressaca. Ainda estava escuro e minha mãe dormia tranquilamente ao meu lado, mas não vi John na cama de solteiro ao lado. Levantei e fui a sua procura, porém as coisas dele não estavam mais lá. Não acredito que meu pai conseguiu o que queria! Estava puta e ele iria me pagar! Mas antes tinha que ir embora e encontrar John. Estava preocupada com ele, como será que foi embora? O que ele deve estar pensando de mim? Só me restava aguardar o dia amanhecer para saber, pois todos ainda estavam adormecidos.
Ao amanhecer, eu ainda em claro, fui até a cozinha procurar algo para comer e encontrei Louise e Bruce já arrumados para irem a lua de mel.

- Bom dia casal! - disse um pouco desanimada.

- Bom dia minha Ninha! Sumiu ontem, depois que mamãe disse que estava indisposta e tinha ido dormir. - Lou disse sentando na mesa com uma xícara de café.

- Sim, tive problemas com papai e John. - disse fazendo bico.

- Ah, sobre isso cunhada, sua mãe disse que John estava arrumando as coisas para ir embora e o levei até a rodoviária, junto com meus pais. Ele pediu para te avisar, pois você já estava dormindo. - meu cunhado Bruce me informou.

- Ah, sim. Tudo bem, lá nos resolvemos. - falei e baixei a cabeça, vi que mamãe entrava na cozinha.

- Bom dia família! Ah, estou muito feliz por vocês! A festa ontem estava linda e vocês maravilhosos! - mamãe dizia sorridente ao casal. - Mas tudo que é bom dura pouco, então está na hora de irmos, né dona Anne? - ela continuou me chamando a atenção.

- Sim, mãe, já estou pronta. - respondi de imediato, doida pra ir embora e encontrar com John.

Fomos até o quarto para buscar nossas coisas e Bruce foi nos levar até a rodoviária, a todo tempo minha mãe me olhava como se tivesse algo a me falar e eu só queria ficar em silêncio. Quando entramos no ônibus ela não se aguentou e perguntou.

- Agora pode me contar o que houve ontem? - mamãe me olhava curiosa.

- Meu pai fez a maior desfeita com John dizendo que não poderíamos namorar por ele ser pobre e da roça. - falei olhando para janela com vontade de chorar só de lembrar.

- Seu pai é um tosco mesmo! Ele conversou comigo depois que você foi dormir, disse que não depositaria mais dinheiro em nossa conta para nos sustentar, enquanto você ficasse o desagradando. Eu não entendi muito bem, mas ele disse que era pra tentar te convencer a voltar para cidade e trabalhar com ele, pois a roça não estava te fazendo bem. Eu perguntei o que houve e ele disse que era pra eu te perguntar, já que somos próximas e sua escolha foi ficar comigo. Ele me disse que só pagaria sua faculdade e o restante nós teríamos que correr atrás, ou seja, trabalhar e conquistar. Eu não falei nada, pois não queria acabar com a noite de sua irmã, mas fiquei preocupada, filha. Não posso deixar seus avós sozinhos, justo agora que já estão dependentes e na roça não tem lugar pra trabalhar, a não ser capinar e cozinhar, enfim. Só quero que você pense bem no que fazer, se não vale a pena voltar a trabalhar com seu pai para mandar dinheiro pra mim e eu poder continuar tomando conta dos seus avós. - ela dizia com lágrimas nos olhos depois de todo terror psicológico que meu pai fez com ela.

- Mãe, eu não vou voltar e você nao precisa se preocupar com dinheiro. Graças a Deus tenho dois braços, duas pernas e saúde pra enfrentar um trabalho digno na cidade próxima a roça e continuar nos mantendo, não precisamos do meu pai pra nada! - falei sentindo o ódio junto com minhas palavras.

- Filha, mas é difícil, você vai ter que parar a faculdade e... - ela dizia e eu a interrompi.

- Mas não é impossível e eu vou conseguir, relaxa! - a respondi com segurança e encostei minha cabeça na janela pensando em assim que chegar na cidade já começar a procurar um emprego, mas primeiro tinha que me resolver com John.

Chegamos a cidade no entardecer e meu primo Jeff já estava a nossa espera no Fusca do meu tio. Nos abraçamos e logo seguimos a caminho da roça. Quando chegamos a casa dos meus avós, tomei um banho rápido e pedi a Jeff que me levasse até a casa de John. Ele percebeu que as coisas não estavam certas por John não ter voltado conosco, então aceitou de imediato e me levou lá de bom grado. Chamei na porteira e logo avistei John na porta de casa, de short e sem camisa. Se eu não tivesse tão apavorada pela situação estaria babando, certeza. Me despedi de Jeff e esperei que John viesse me atender.

- Uai, mas já chegou? - John me perguntava com expressão de surpresa ao me ver ali.

- Sim, John, precisamos conversar sobre ontem. - disse assim que ele se aproximou.

- Olha Anne, acho que já foi tudo conversado ontem mesmo! Seu pai tem razão, eu sou só um roceiro chucro, que trabalha tirando leite de vaca e não posso dar o futuro que você merece. - John disse de cabeça abaixa, tudo de uma vez, me deixando triste.

- Você não pode desistir da gente por algo que uma pessoa que acabou de conhecer disse, por ciúmes, orgulho, despeito, sei lá. Meu pai é sem noção e eu te avisei antes, pois sabia que ele reagiria mal, porque ele é um cara vazio, prepotente, arrogante e autoritário e você é mil vezes melhor que ele, por isso te escolhi! Não me importo se você é roceiro, chucro, tira leite, cuida de galinhas ou seja lá o que for, eu só quero você! - falei sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

- Você não merece perder todas suas regalias por mim e eu não posso cobri-las. - disse John secando minha lágrima.

- Eu tenho disposição pra trabalhar, John, eu só não quero te perder! - disse ainda em prantos.

- Anne, não quero te ver assim, ainda mais por mim. Você é uma princesa, tão sensível, tão delicada, não precisa trabalhar pra ficar comigo. Sabe, eu tenho planos para o futuro, fazer uma faculdade de medicina veterinária, trabalhar com animais que eu amo, até vou me inscrever amanhã para o vestibular de uma faculdade que tem o curso lá na região praiana, onde meu tio mora e tem um restaurante e aí posso estudar e trabalhar com ele pra me sustentar. Depois do que seu pai falou ontem, fiquei pensando que não quero ser um roceiro chucro que tira leite de vacas a vida toda. E você também não pode perder toda mordomia que tem por minha causa. Melhor assim, você volta a trabalhar com ele, cuida da sua vida e eu vou seguir a minha. Triste sem você, porque realmente estou apaixonado, mas seguirei em busca dos meus sonhos. - John dizia enquanto eu tentava controlar meus ânimos.

- John, fico feliz que queira seguir seus sonhos e dou a maior força pra você estudar e fazer o curso que ama, vou sentir sua falta, mas daremos um jeito juntos! Assim como eu preciso ir na cidade amanhã em busca de um emprego pra começar a me virar financeiramente sozinha e também poderemos continuar juntos mesmo assim. Quando a gente ama a gente dá um jeito e não desiste na primeira dificuldade. Ontem eu te disse pela primeira vez e é verdade, John, eu amo você e não quero desistir de nós, por favor, não desiste da gente! - implorei, pois aquele sentimento estava me sufocando.

- Anne, eu também te amo, como nunca amei ninguém na minha vida! Eu juro que vou lutar com todas as minhas forças pra gente ficar juntos, não vou desistir de nós! Amanhã vamos até a cidade para seguirmos nossos sonhos e se Deus quiser dará tudo certo para nós e ficaremos juntos por toda a vida! - disse ele me abraçando.

Nos beijamos e passamos a noite ali na varanda de sua casa deitados na rede, sonhando um futuro juntos, com John veterinário, eu administradora, 2 filhos, vários animais e morando na roça, é claro, não me via mais em outro lugar a não ser ali e com ele.

Da Cidade Para RoçaOnde histórias criam vida. Descubra agora