Por Anne:
Acordei de madrugada com o coração apertado, parecia que algo ruim estava acontecendo. Liguei meu celular para ver a hora, percebi que tinha ligações de John, algumas ligações de um número desconhecido e ligações de Louise. Com certeza algo aconteceu! Disquei para Louise para saber o que havia acontecido.
- Alô, Anne! Até que enfim ligou esse celular! Estou a caminho da capital, o nosso irmãozinho nasceu prematuro e quando meu pai soube que a mulher dele e o neném corriam riscos de vida, não aguentou e sofreu um infarto, mas está bem. A sorte que estava na sala de espera do hospital e foi socorrido a tempo! - disse Lou esbaforida me deixando atônita.
- Em que hospital que ele está? - perguntei me dando conta que aquilo não era um pesadelo, era real.
- No hospital no centro da cidade, ligaram de lá para mim, dizendo que ele chama a todo tempo por Louise e Anne, suas filhas, por isso tô indo pra lá correndo, bom você ir também, ele precisa de nós! - disse Lou.
- Sim, tô indo pra lá agora. A gente se encontra lá! - respondi levantando e procurando minha bolsa pra dar uma olhada na carteira e vê quanto tinha pra pagar um táxi até lá.
Como estava com pouco dinheiro, achei melhor ligar para minha mãe e pedir um "Help". Sabia que ela estava em lua de mel e não queria atrapalhar, mas alguém precisaria assumir a administração do restaurante e tio Joseph deveria saber para retornar o mais rápido possível, enquanto eu estivesse fora, não sabia por quanto tempo meu pai precisaria de mim. Peguei o telefone e eram cinco horas da manhã, disquei o numero da minha mãe.
- Alô, Anne? Aconteceu algo filha? Ainda está escuro! - perguntou minha mãe preocupada.
- Oi mãe, está tudo bem comigo, mas meu pai não está bem. Sofreu um infarto quando soube que o filho nasceu prematuro, mas pelo que Lou disse, está bem, mas chamando pela gente, então vou ter que ir pra lá. Só queria saber se poderia me mandar um pix pra eu ir de táxi ou Uber, porque não tem ônibus a essa hora e também avisar a tio Joseph que não irei trabalhar esses dias, pra ele ver o que vai fazer... - disse tudo de uma vez e minha mãe só concordava do outro lado.
- Claro, filha! Vou mandar agora o dinheiro e Joseph está acordado aqui ao meu lado ouvindo e concordando com o que você disse, pode ficar tranquila, tá? Manda notícias e melhoras para seu pai. - mamãe respondeu e nos despedimos.
Mandei uma mensagem de voz por whatsapp para Jane, explicando a situação e fui arrumar minhas coisas. Pensei mil vezes em ligar e avisar John para não preocupá-lo, mas acredito que Lola já tenha dado a notícia a ele e já esteja com bastante preocupação, não vou perturbá-lo mais com meus problemas. Dei uma olhada na conta e mamãe já tinha feito a transferência, liguei e pedi o Uber da minha confiança e ele logo chegou, seguimos viagem. Dormi por boa parte da viagem e quando finalmente chegamos, liguei para Lou para avisar e saber o número do quarto.
Subi até o quarto onde eles estavam e bati na porta. Ouvi um "entra" e abri a porta. Dei de cara com meu pai cheio de aparelhos, bem debilitado e Louise ao seu lado com lágrimas nos olhos.- Oh filha, que bom que você veio! Não via a hora de vê-la! - disse meu pai com dificuldade.
- Pai, que susto que nos deu, hein? Por favor, não faz mais isso com a gente! - disse pegando em sua mão e dando um sorriso de lado.
- Eu sei que errei com você, mas não poderia morrer sem antes te pedir desculpas e te dizer que você deve fazer o que achar de sua vida, que eu vou sempre me orgulhar de você e te amar do jeitinho que você é, filha! - disse ele com os olhos lacrimejando.
- Pára de conversa afiada, pai! Você não vai morrer, tá? Vai ficar tudo bem! Agora você tem outro filho pra criar, foi arranjar moda, agora tem que se virar pra melhorar, hein? Tô aqui com você, não tô? E sempre vou estar, então não precisa se desculpar por nada, já passou! - disse tentando segurar o choro que estava preso em minha garganta.
- Ele tá dramatizando, fez o mesmo comigo quando cheguei, por isso tava chorando. Mas enquanto vocês conversavam aí, dei uma olhada nos exames que ele fez e ele só precisa fazer uma ponte safena, que é tirar uma veinha da perna e por no coração, pra substituir essa que se foi no infarto. É uma cirurgia comum e tranquila, o senhor ficará bem! - disse Lou se aproximando da gente novamente e dando seu diagnóstico de médica da família.
- Aí viu? Daqui a pouco tá novinho em folha! - brinquei com ele e ele sorriu. - E onde está nosso irmão? Queremos conhecê-lo, né Lou? - ela concordou. - Não trouxe nenhum presente, porque ele estava com pressa de vir ao mundo, mas depois eu vejo. - completei.
- Ele tá na UTI neonatal, não pode receber visitas, a não ser da mãe. Ela está bem, está no quarto, deve ter alta hoje, segundo o médico. - disse meu pai.
- Ah que pena, mas ficarei aqui com o senhor até operar e ter alta também. Quem sabe até lá o neném já tenha saído e possamos conhecê-lo também, né? - disse para meu pai e ele assentiu.
- Ninha, pai, eu infelizmente não poderei ficar, pois tenho plantão hoje de 24h. Mas prometo retornar assim que sair do plantão pra saber como estão as coisas, tá? E Ninha, mande notícias, por favor! - disse Lou beijando a testa do meu pai e minha bochecha, para despedir-se.
- Fica tranquila, tá tudo sob controle! - disse piscando o olho pra ela e ela se foi.
Sentei ao lado do meu pai, enquanto ele descansava e fui finalmente ver meu celular. Tinha várias ligações de John mensagens no Whatsapp e também da minha mãe, para saber notícias. Respondi primeiro minha mãe dizendo que tinha chegado bem e dei notícias do meu pai e depois respondi John.
" Fica tranquilo, tá tudo bem por aqui já. Não te avisei, pois não queria te deixar preocupado com isso, pois sei que já tem preocupações demais. Resolve sua vida aí e pode deixar que eu vou resolver a minha aqui. Eu estou chateada com você, porque mentiu pra mim e você sabe. Só te peço um tempo pra digerir toda essa informação nova e assim que retornar a gente conversa, ok? Bom trabalho!"
Assim que mandei a mensagem ele visualizou, mas não respondeu. Acho que entendeu o meu recado, então deixei quieto, mesmo que no fundo eu queria que ele respondesse, desmentisse aquela história toda de Lola e dissesse que me amava, mas enfim... Vida que segue.
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Da Cidade Para Roça
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