Vida Nada Interessante

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Anthony

Eu sou um rapaz de 19 anos, introvertido, um pouco mais alto que os caras de minha idade, cabelos curtos cor loiro mel, olhos castanhos quase verdes, corpo bem tonificado, nada exagerado, apenas muito belo. Me considero uma pessoa muito esforçada, trabalho em dois empregos para conseguir sair da casa de meus tios e realizar um sonho: cursar a faculdade de administração na capital. Moro na pequena cidade de Enns, localizada na alta Áustria, que possui cerca de 12 mil habitantes e um clima com os verões quentes e úmidos e invernos frios e secos.

Meus pais morreram quando eu era apenas um bebê. Meus tios Thomas e Ruth me acolheram. Eu nunca soube o que realmente acontecera a eles, apenas que ocorrera um acidente doméstico onde eu tive a sorte (ou não) de escapar. Pensava que o melhor era ter morrido junto com meus pais. Guardava apenas uma caixinha com algumas fotos e lembranças deles. Apesar de não me lembrar de nada, às vezes gosto de olhar as fotos e tentar imaginar minha vida feliz.

Tenho dois primos: Luna, de 15 anos, e Raul, que é um ano e meio mais novo que a irmã. Os dois são super mimados pelos pais. Mesmo quando aprontam suas peripécias na escola, meus tios fazem de tudo para não irritar seus dois "bebês". Tio Thomas é engenheiro civil, tem um escritório famoso na cidade e a tia Ruth trabalha com moda e viaja com frequência à trabalho.

Aprendi a me virar sozinho desde cedo. Sabia que nunca podia pedir nada pros tios pois ambos só pensavam nos filhos. Quando era mais novo e queria algo eles nem me davam atenção, apenas diziam coisas do tipo: "Seu primo é pequeno, você já é grande, entende melhor..." ou então "ela é menina, precisa de mais cuidados..." Então acabei aprendendo a interiorizar meus sentimentos e a correr atrás do que precisava sozinho.

Depois de muito insistir, consegui meu primeiro emprego, finalmente, aos 15 anos. Era, de início, embalador num mercado próximo a minha casa. Hoje sou estoquista responsável do setor de laticínios. Já teria dinheiro suficiente para sair da cidade se não fosse pelos meus "queridos" tios insistir que tinha que ajudar de alguma forma dentro de casa. Como não poderia mais acompanhar minha prima na entrada e saída da aula, (minha obrigação anterior) acabei sendo responsável por arcar com as despesas de energia. Já os primos, não fazem absolutamente nada. Apenas estudam, ou dizem que estão estudando... Não sei muito da vida deles.

Raul, quando não estava na aula, estava trancado no porão, onde há uma grande sala de jogos com um vídeo game de última geração. Luna evita estar em casa já que não se dá bem com o irmão, ela prefere estar na casa das amigas. Quando os dois se esbarram é discussão na certa. A família nunca pode jantar ou almoçar junto por conta dos dois.

Luna tem um quarto, também no porão, improvisado como closet. Lá se encontram variadas peças de roupas, das mais atuais da moda. Sempre que lançam algo na empresa de sua mãe, Luna ganha peças novas. A fedelha não vê a hora de eu sair de casa pra ela poder montar seu closet em meu quarto. Assim será mais fácil acessá-lo, e não ela precisará se esbarrar com o irmão a casa troca de roupa... Chega a ser cômico o fato deles terem tudo o que imaginam e eu somente os móveis do meu quarto, já desgastados e uma dúzia de peças de roupa que eu mesmo comprei desde quando comecei a trabalhar.

Raul também não cansava de jogar em minha cara que eu deveria sair logo de lá. Ele quer montar um apartamento só dele no porão. Já faz esse pedido ao pai há uns dois anos ou mais. O pai dele diz que assim que eu for embora, que ele reorganizará rapidamente toda casa..

A ansiedade dos dois "bebês" da casa só aumentava, pois nunca chegava o dia que "intruso do primo pararia de mamar nos pais", assim eles pensavam. Até meus tios começaram a jogar indiretas que eu deveria ir embora em breve. 

Havia passado em casa apenas para uma ducha. Um garoto fez um estrago no meu setor, e como o faxineiro pegou folga hoje, sobrou pra mim limpar a bagunça. Até passei do meu horário. Saí frustrado e irritado de lá. Se pelo menos contassem horas extras eu não ligaria...

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