Vida Nova

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O sofá do apartamento era um sofá cama até bem confortável. O cômodo cabia meu sofá aberto (no formato de cama), uma mesa de jantar de quatro lugares e uma cômoda, que daria para apoiar uma TV e também guardar utensílios ou roupas.

Eu descarreguei o carro enquanto Beth tirava as coisas das caixas e ajeitava algumas coisinhas no lugar. Só quando abri o porta malas que percebi que o carro estava um pouco molhado. Devíamos ter pego chuva na estrada..

Beth trouxe de tudo um pouco da casa da mãe. Desde enfeites para casa, a alguns utensílios de cozinha. Tive que dar quatro viagens até a garagem para subir com tudo. Pelo menos eram só dois andares.

Quando as amigas souberam que ela já estava ali ao lado vieram pra saber como estava. Mas Bethy nem as deixou entrar dizendo que estava bem porém cansada e que amanhã, antes da aula, colocariam o papo em dia. Ela percebeu que eu ainda estava estranho, não tinha contado a ela ainda o que o velho havia me dito, então acho que ela não quis deixar que a tal colega de quarto psicopata me enchesse de perguntas.

-- Tony, quer conversar?

Eu balancei a cabeça em resposta negativa.

-- Amanhã, Bethy. Preciso digerir melhor o ocorrido.

Como ela tinha aulas cedo e não gostava de faltar, me fez um mapa para eu ir ao mercado ali perto e trazer umas coisinhas pra casa. Só teria duas aulas à tarde, então me disse que me levaria para conhecer alguns lugares pra eu aprender a andar sozinho na cidade.

Passei parte da noite em claro de novo, fervilhando minha cabeça com tudo. Por fim decidi mais uma vez guardar todas aquelas sensações e aproveitar a nova vida que teria. Já tentaria arrumar um emprego amanhã mesmo. Não é que eu necessitasse no momento, o dinheiro que tinha era suficiente por mais de um ano. Mas dinheiro nunca é demais e eu também precisava ocupar minha mente com outras coisas logo, para não endoidar. Talvez dê até alguma chance pra vizinha "estranha gostosa"... Pensei dando uma risada quando lembrei da cara de Bethy.

Acordei e Bethy já devia estar estudando. Ela não ia de carro pra aula pois o prédio deles era próximo ao campus. Decidi sair para tomar um café e fazer umas compras. Bethy deixou uma lista e dinheiro na mesa de jantar que ficava num canto da sala. Peguei a lista mas não o dinheiro. Ela já tinha pago nosso primeiro aluguel, para entrar na casa, então eu arcaria com outros custos.

Quando voltei da rua já era hora do almoço. Decidi fazer uma macarronada que era mais rápida.

Minha amiga/irmã chegou e enquanto comíamos ela já puxou assunto.

-- Percebi que está um pouco mais relaxado hoje. Ontem você estava com uma cara de por medo.

-- Desculpa, irmãzinha! Só estava tentando processar tudo.

Percebendo que eu já estava disposto a falar ela continuou:

-- Me desculpe por ontem, quando saí de perto de você... Eu havia visto algumas amigas de Luna conversando, então fui sondar o que elas sabiam.

Eu a olhei curioso. E ela continuou:

-- Algumas ainda estavam assustadas pois só ali ficaram sabendo que Luna não estava morta como o resto da família. Disseram que Luna sempre fora reservada quando o assunto era a família, mas era uma boa amiga, sempre ajudando todas elas. Estavam sem notícias e também super preocupadas achando que Luna fora sequestrada.

-- Na verdade, o velho disse que ela estava bem e segura.

-- Você diz sobre o pai de seu tio? Que bom. Fico mais tranquila sabendo que ela deve estar bem. Mas onde ela estaria se não estava no enterro dos pais e do irmão? O que mais ele disse?

-- Foi a única informação útil que aquele velhote "fdp" me deu. Por isso eu fiquei tão frustrado e nervoso. Aquele velho sabe! Sabe o que houve, sabe onde está Luna, sabe até o que aconteceu com meus pais. Mas disse que tudo tinha seu tempo e que no momento certo eu descobriria. -Eu desabafo com uma voz cínica...

-- Será que ele de alguma forma sequestrou a própria neta?

-- Acho que não. Ele se referiu a família com carinho e tentou me acalmar quando contou sobre ela.

-- Menos mal...

-- Bem... Acabei decidindo que vou por uma pedra em cima disto. Não são mais minha família, nunca foram. Vida que segue. Bola pra frente. Preciso pensar em mim. Preciso de um emprego para deixar de pensar nisso. Me ajuda depois da sua aula de tarde?

Bethy se assusta com minha reação.

-- Uau! Fico feliz em te ver assim. Se tem certeza do que quer.... Não toco mais no assunto. Claro que te ajudo. Não devo demorar na aula de agora. No máximo em duas horas estou de volta. - Beth sai me dando um de seus beijinhos no rosto antes.

Aproveitei para arrumar a cozinha e ajeitar algumas coisas que faltavam no lugar. Também havia comprado um jornal local com classificados e estava marcando alguns anúncios quando Bethy retornou.

-- Pronto, Thony?

-- Sim, já sei até por onde começar... -Eu disse sacudindo o jornal.

Foi uma tarde agradável, apesar de ainda me sentir nervoso e chateado. Entreguei alguns currículos que acabei de imprimir e agendei as entrevistas para amanhã. Nada promissor, mas já era um bom começo. Conheci muita coisa e tentava gravar bem os lugares para não ficar dependendo de minha amiga-irmã sempre. Em casa, eu preparei um jantar enquanto Bethy tomava banho. Com uma toalha na cabeça, mas já de roupa e celular na mão ela disse:

-- Desculpe, minhas amigas virão pra jantar. Tem problema? Precisa de ajuda?

-- Claro que não tem problema e não precisa ajudar. Sobrou macarrão de cedo. Acho que consigo completar alguma coisa rápido pra dar pra todos.

-- Que bom. Você precisa ver gente nova. Te fará bem. Vou pedir para trazerem pratos. Vou dar um pulinho lá agora pra pegar as coisas que deixei.

Foi realmente bom conversar sobre outros assuntos. Tinha vindo o namorado de uma das meninas. Fazia tempo que eu não conversa com outro homem, conversas bobas e aleatórias de homem...

July realmente ficou eufórica em me conhecer. Era muito curiosa e bonita. Mas tinha alguma coisa nela que me dava medo... Não sei o que uma garotinha miúda daquela poderia me fazer, resolvi dar uma chance a nossa amizade. Trouxeram umas bebidas e ficaram até perto de meia noite conosco. Foi legal que Beth se divertiu com as amigas. Elas riam o tempo todo. Talvez fosse o álcool...






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