Betty não demorou muito para chegar na pub. Estava com umas amigas. Ela era morena alta, de olhos castanhos claros e tinha um baita corpão. Dona de um charme especial, chamava atenção em todos os lugares por onde passava, a famosa sexy sem ser vulgar. Era uma garota mandona, e também centrada, preocupada com seu futuro. Sempre pensava antes de fazer qualquer coisa, para ter certeza de todos os detalhes.
Ela tinha alguns crushs e havia namorado firme no colégio somente uma vez, mas acho que o namorado era muito ciumento. Ele não queria nossa amizade e ela se irritava com a possessão que o namorado exercia sobre ela, portanto, o namoro acabou não durando. Nós dois já tínhamos até trocado alguns beijos, mas há tempos descobrimos que nossa relação era mais de irmandade do que outra coisa. Betty sempre me contava suas expectativas, seus receios e me pedia opinião pra tudo. É claro que tinha suas amigas, mas dizia que ninguém a compreendia como eu. E ela também era a única que me compreendia. Sentia falta de uma presença masculina, já que o pai dela só era um pai pois a bancava. Ele tinha outra família em outro lugar. Não sabia nada da vida da filha mais velha.
Mesmo no trabalho eu a recebo com um grande abraço.
-- Betty! Que saudade!
-- Nem me fale. É um martírio não ter você por perto. Não tenho ninguém pra me desabafar...
Não tínhamos muito tempo para nos falar enquanto estava trabalhando. Mas toda hora eu passava em sua mesa para lhe dar alguma palavra.
-- Oi gata! Sempre vem aqui? -Digo sorrindo chegando por trás dela.
Betty, reconhecendo minha voz, se vira sorrindo e me dá um leve tapa.
-- Besta! Que tal irmos comer aquele lanche que eu amo quando acabar seu turno.
-- Eu acho ótimo. Preciso espairecer antes de ir pra casa. -Saio dando um beijinho em sua bochecha.
Vi que alguns garotos chegavam na mesa de Betty com as amigas, mas logo saiam de lá com a cara frustrada.
-- Cuidado! Tem gente aí sendo comida pelos olhos! -Aviso zombando da Betty.
-- Ainda bem que hoje não estou aqui para caçar e nem para ser caçada! -Ela responde me mostrando a língua.
Quando meu turno acabou eu sentei em sua mesa. Betty já estava se despedindo das amigas.
-- Aceita uma bebida antes de ir?
-- Sim, mas não devemos demorar. Temos muito o que conversar.
A caminho da lanchonete e de braços dados eu a conto sobre a briga com meu tio. Nessa hora não chovia. Ela deu pulos de alegria quando eu disse que iria embora junto com ela.
-- Será um máximo te ter mais perto de mim. E logo depois das férias você já deve começar sua faculdade! -Ela diz batendo palmas.
O ingresso na universidade eram avaliações baseadas em meu histórico escolar, que é excelente. Durante as férias eu poderia me inscrever e realizar um teste com a entrevista de admissão.
-- Não vejo a hora de você ir para Viena também... Agora, preciso te contar... Você sabe que no momento eu moro com mais três garotas, né? É que tem uma delas muito estranha. Nós dividimos o quarto e ela já viu fotos nossas juntos, foi por acaso. Achou que era meu namorado, até que expliquei a ela a nossa relação.
-- E ela é bonita?
-- Para! - Me responde dando um tapa em meu braço. -- Não! Já disse que ela é estranha.
-- Pode ser uma estranha gostosa... Eu a zombei de novo.
-- Seu chato! Enfim, acho que ela é psicopata. Tô com medo. Agora ela anda atrás de mim querendo saber tudo de você, onde e com quem você mora, como nos conhecemos, o que você faz da vida... Tento evitar responder, invento desculpas para sair de perto, mas ela tem me perseguido, acabei lhe contando algumas coisas de sua vida. Acho de verdade que ela é psicopata, sério, tô com medo. Ela até mudou as aulas dela para poder estar mais próxima a mim.
-- Você sabe como as garotas me amam.... -Diz ele dando risadas.
-- Sei sim! E você nunca dá bola pra ninguém, não sei porquê. Poderia ter pego tantas garotas na vida... Mas só algumas poucas insistentes tiveram chance com você. Se não te conhecesse bem, e soubesse como pode ser safado, acharia que você era gay... -Betty começa a rir.
Dessa vez eu que dei uma cutucada nela com o cotovelo, rindo e pedindo pra parar.
Sentamos em uma mesinha redonda da lanchonete e pedimos logo nosso lanche. Sempre eram os mesmos. O dela com salada, hambúrguer de frango e ovo e o meu com tudo que poderia ter e com carne dupla.
-- Linda! -Betty chama a garçonete. -- Traga também dois sucos de laranja, por favor!
-- Então, mas não posso morar com você e outras 3 garotas.
-- Enquanto caminhávamos até aqui já pensei nisso.
Betty tinha esse poder. De fazer um monte de coisas ao mesmo tempo e ainda pensar em todos os detalhes.
-- Hoje, se quiser, você pode dormir no meu sofá. Minha mãe te conhece bem, não vai se importar. Amanhã você vai buscar suas coisas em casa e depois vamos juntos pedir conta em seus serviços. Se conseguirmos sair até às cinco da tarde da cidade, não chegaremos muito tarde. Daí você pode dormir um só dia em meu apê com as meninas, explico sua situação a elas. Só precisa ter cuidado com a doida da Jully. Ela ficará eufórica quando souber que vai te conhecer... Ela andou me perguntando muito de seus pais, mesmo eu dizendo que estavam mortos e que você não os conheceu, ela ainda me enche de perguntas sobre as circunstâncias da morte deles e outras coisas. Não sei o motivo dessa obsessão, mas achei que devia te contar. Cuidado de verdade com a psicopata.
-- É... Pode ser. Quero a conhecer para saber melhor dessas intenções em conhecer todos os detalhes da minha vida.... Outra coisa... tudo bem ficar um dia com vocês, mas como arrumar uma casa depressa por ali?
-- Tem um apartamento ao lado do meu, de um só quarto, que acabou de ficar vago. Já até tinha cogitado com o dono de o alugar só pra mim e tentar sair de perto da Jully. Por isso acho que consigo alugar e dividir com você o AP até acharmos um lugar melhor. O que acha?
-- Nossa! Você já pensou em quase tudo. Mas ainda iremos precisar de móveis, fogão, geladeira...
-- Engano seu. Claro que pensei nisso. A única coisa que esqueci foi te dizer que os apartamentos de meu prédio, como muitos estudantes os usam, já são mobiliados com todos esses itens básicos para moradia. Só precisaremos o deixar com nossa cara.
-- Desculpe, você sempre pensa em tudo mesmo. Eu fico na sala então, até arrumarmos algo melhor. Tem certeza que não irei te atrapalhar?
-- Não preciso nem responder... - Betty fica brava. -- Você sabe que você é o irmão que eu não tive. Nunca vai me atrapalhar.
Pegamos táxi para ir embora. Já em casa, ela me entrega uns travesseiros e cobertas. Havia começado a chover mais forte e até esfriou um pouco, acabamos nos molhando. Betty me deu um beijinho no rosto antes de ir se deitar, prometendo acordar cedo para não perdermos nossa programação do dia seguinte. Por me sentir quase em casa eu tirei minha roupa molhada e estendi em uma cadeira, acabei ficando só de cueca box. Me enrolei em uma das cobertas acomodando em seu sofá.
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Meu Mundo Sombrio
FantasyUma tragédia, um bebê perdido, um amor encontrado e muito poder. Antony não se sentia bem morando com os tios, mas precisava disso até juntar dinheiro e sair dali. Seu mundo vira de ponta cabeça quando perde tudo o que conhecia, confiava e amava. A...