A Versão de Luna

50 10 56
                                    

Luna

Faltava menos de uma semana pra minha tão esperada festa de aniversário. Estava na porta do banheiro, discutindo com meu irmão, quando meus pais nos chamaram para uma reunião familiar. Pensei em chamar Tony que ainda estava dormindo por chegar tarde do trabalho, mas meus pais preferiram que ele não participasse desta conversa.

Me sentei perto da mamãe e longe de Raul.

-- Chegou a hora de vocês conhecerem quem nós realmente somos! Luna está perto de completar 16 anos e será inevitável a sua transformação! -Meu pai exclamou com uma alegria que eu nunca tinha visto nele.

Eu ia abrir a boca quando minha mãe me repreendeu com o olhar, levando o indicador no lábio para que eu só ouvisse. E meu pai continuou:

-- Seus avós virão jantar essa noite e...

-- Avós??? -Luna e Raul questionaram surpresos.

-- Sshhiii... Apenas terminem de ouvir seu pai. -Repreendeu Ruth.

-- Sim. Vocês têm dois avôs e duas avós. Nossos pais. -Continuou apontando a esposa. --E eles estarão aqui esta noite para os conhecerem. Espero que essas diferenças entre vocês dois se encerrem a partir de agora. Contenham os ânimos. Precisamos nos manter unidos e principalmente calmos para que nenhuma tragédia aconteça.

-- Mas é ela que começa. -Reclama Raul apontando para a irmã, sem ainda entender a importância da conversa.

-- JÁ CHEGA! -Grita Thomas. -- A partir de agora terão que me ouvir até o fim, sem uma palavra e sem mais reclamações de ambas partes.

Meu pai nunca havia brigado assim conosco. Assustados, nós dois mantivemos a boca fechada.

-- Sei que será um choque para vocês, mas se me obedecerem e me ouvirem, Anthony irá partir desta casa neste fim de semana.

Agora sim papai tinha toda atenção de Raul. Meu irmão aguardava isso ansioso e faria qualquer coisa para o plano de papai dar certo.

-- Vocês sabem que adotamos Anthony não foi por amor. Eu e a mãe de vocês fomos obrigados a largar tudo o que conhecíamos para cuidar dele. Ele não é nada para a nossa família, apenas uma pedra no caminho da nossa liberdade. Não é filho de um irmão meu e nem mesmo é da família... Não somos simples humanos como ele. Somos licantropos, homens lobos.

Eu e Raul ficamos abismados. Mas depois dos xingamentos dos pais decidimos esperar pela explicação dos mesmos. Se não fosse a seriedade que senti em meus pais, acharia que era uma piada. Onde está a câmera escondida?

-- Sua mãe e eu crescemos conhecendo bem essa vida, mas vocês dois não sabem nada. Foi necessário que nunca soubessem nossa identidade, para a nossa segurança. Geralmente, nós lobos, temos a primeira transformação quando nos deparamos pela primeira vez com um grande conflito. Em uma vila de pessoas da nossa raça isso costuma acontecer até os dez anos. Já aqui em casa, sempre reprimimos esses conflitos em ambos, para que a transformação não ocorra antes da hora. Porém, com a chegada do 16° aniversário de Luna essa transformação será inevitável.

Ainda sem acreditar nas palavras de meu pai, mas prestando atenção em tudo, eu levanto o dedo pra perguntar algo, com medo de ser novamente impedida de falar.

-- Agora pode perguntar, Luna. -O pai assente com a cabeça.

-- Papai, eu não posso ser isso, já combinei minha festa com minhas amigas. Como eu irei ir vestida de lobo?

-- Você não entendeu nada. Vou te mostrar! -Thomas foi tirando a camisa e desafivelou o cinto.

Num piscar de olhos havia um lobo castanho e gigante no meio da cozinha.

Meu Mundo SombrioOnde histórias criam vida. Descubra agora