Capítulo 06

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Após eu entregar meus documentos na empresa, assinar o contrato e pegar meu crachá, lá vou eu...

Cumprimento meus futuros colegas e entro no elevador. Me encaro no espelho e ajeito meu rabo de cavalo. Solto um sorriso e começo a lembrar da carona de ontem... Mordisco a ponta da unha num mix de emoções entre feliz, ansiosa, com medo e extasiada...

Finalmente o elevador abre e caminho em um corredor... O mesmo de ontem. Me aproximo da sala do executivo onde está escrito "presidente". Sorvo o ar e bato.

— Pode entrar! — Ouço a voz do senhor LeBlanc e abro a porta lentamente. O mesmo me encara com um olhar paterno e ao mesmo tempo admirado.

— Bom dia, minha nova secretária! Pronta para começar? — Assinto.

— Bom dia, senhor LeBlanc! Estou prontíssima! — Aviso me aproximando de sua mesa e o cumprimento com um aperto de mão.

— Fico feliz! Bom, então sente-se, preciso explicar o básico. Temos muitos trabalhos pela frente.

[...]

Já está quase na hora do almoço e nem vi as horas passarem. Fiquei meia hora com o senhor Leblanc me explicando o meu trabalho e ele sempre bastante solicito quando preciso de ajuda.

Bom, não vai ser dessa vez que você vai conseguir um CEO lindo, novinho, milionário, frio e calculista, Lua.

Volto o meu olhar a agenda lotada do senhor Leblanc. Meu Deus! Como esse homem consegue ter vida?

— Bom dia. O Bernardo está? — Uma senhora com aparência de perua me encara. Eu presumo que seja alguém importante ao senhor Leblanc e fico de pé ajeitando meu vestido.

Ela me encara de baixo pra cima como se estivesse me examinando. Eu me olho vendo se tem algo em meu vestido já que ele é tom pastel e pode sujar à toa. Ao perceber que não vejo nada de errado, volto o meu olhar a senhora na minha frente.

— Bom dia, a senhora é? — Ela suspira parecendo entediada.

— Brenda Leblanc, esposa do Bernardo. — Assinto um tanto boquiaberta, mas logo volto a minha postura profissional.

— Eu vou ver se o senhor Leblanc pode atender, porque ele estava numa reunião de vídeo conferencia e... — Ela me corta sinalizando com os dedos cheios de anéis.

— Olha mocinha, se meu esposo não disse, vou te dizer. Para mim não tem essa de disponibilidade. Com licença. — Ela empina o nariz e caminha em direção a sala do senhor Leblanc. Dou de ombros e meneio a cabeça.

Bem que dizem que os opostos se atraem, enquanto o marido é um amor de pessoa, a mulher e azeda como um maracujá verde.

Volto a minha atenção a lista para redigir algumas notas até que ouço os tons de vozes alterados. Arregalo os olhos e mordo a ponta da caneta.

O que será que está acontecendo lá dentro?

Bom, meus padrões éticos me informam em meu subconsciente que não devo escutar conversa do chefe, ainda mais sendo pessoal. Mas e se essa conversa tem a ver comigo, já que ela aparentemente não gostou da minha presença?

Quer saber? Dane-se os padrões! Não consigo deixar de ser curiosa eu preciso saber!

Caminho pé por pé até a porta e colo meu ouvido ali.

— Por Deus Bernardo! Essa menina não presta pra ser sua secretária! Tá na cara que nem estudo ela tem direito! — Me seguro na vontade de mandar essa bruaca pra puta que pariu.

— Não fale assim Brenda. Ela tem muita vontade de aprender e mostra ser esforçada. Diferente do seu filho! — A velha sorri.

— Eu acho que ela quer mesmo é seduzir o coroa milionário. Vestida com um vestido colado no corpo e um decote provocante... Essas meninas de hoje em dia só pensam em se dar bem! Acho melhor demiti-la. — Essa velha está falando que eu sou interesseira? Eu só quero trabalhar para dar uma vida melhor pra minha mãe! Que velha maluca!

— Não diga asneiras, Brenda! Ela fica aqui e ponto. Eu sou o dono dessa construtora, eu mando e acabou! — Um silencio se faz presente e eu sorrio ao saber que não irei perder meu emprego. Pelo menos o senhor Leblanc não é um cachorrinho da mulher.

— Ah claro. Você que manda, aliás é o dono do dinheiro.

— Eu acho melhor você invés de me atormentar com besteiras, colocar juízo na cabeça do seu filho que só sabe gastar dinheiro e não quer trabalhar! — Afasto meu ouvido da porta.

Já ouvi demais e não quero ser pega no flagra e ser demitida no meu primeiro dia de serviço por bisbilhotar.

Volto ao meu serviço e não demora para a dona Brenda sair feito furacão da sala do senhor Leblanc, mas sem antes me dar uma olhada mortal. Ela ajeita a bolsa e sai.

Eu suspiro e volto a minha atenção ao trabalho. Já vi que a esposa do dono disso tudo aqui não foi com a minha cara... Eu tô ferrada se ele começar a cair na pilha dela.

[...]

Finalmente encerro meu expediente e já estou no ponto de ônibus para voltar para casa. Dessa vez na hora certa e com algumas pessoas no ponto.

Até que gostei de trabalhar na construtora/empresa, apesar do contratempo com a esposa do senhor Leblanc. Ainda não fiz nenhuma amizade porque mal saí do escritório para aprender ainda mais como funciona tudo. Espero que nas próximas semanas eu começo a me enturmar melhor.

Mordo o lábio novamente lembrando daquele homem gato. Tem hora que eu acho que eu sonhei com essa noite. Num piscar de olhos tudo desapareceu... nem um sinal dele.

Confesso que achei que ia vê-lo frequentemente por aqui, já que ele é motorista de aplicativo e esse horário é a hora do rush. Muitos saindo do trabalho...

Ai Lua. Esquece esse cara. Se ele quisesse um repeteco, ele com certeza teria pedido seu número ou algo assim...

Enfim o ônibus do meu destino chega. Não vejo a hora de ir para casa tirar esses saltos que estão me matando. Uma hora quase em pé esperando esse bendito.

Vida de pobre não é mole não!

[...]

Chego em casa e desabo no sofá retirando os saltos.

— Então minha filha, como foi o primeiro dia? — Minha mãe pergunta animada e eu a encaro cansada.

— Foi ótimo. Só a esposa do meu chefe que ficou com ciúmes de mim, acredita? — Minha mãe me encara surpresa.

— Seu patrão é tão novo assim? — Sorrio para minha mãe massageando meus pés doloridos.

— Que nada mamãe. Antes fosse! Ele é um cora com idade para ser meu pai. Não sei o porquê de ela cismar comigo.

— Essas madames são assim mesmo filha. Geralmente elas foram interesseiras na vida e acreditam que outras também vão ser. É normal. Lidei muito com isso quando mais nova.

— Oh de casa! —Ouço Nando chamar na porta e mamãe sorri. Ela é da torcida que acha que eu devo voltar pro Nando...

— Pode entrar filho! — Minha mãe responde e Nando entra. Ele me encara.

— Vou lá na venda comprar mais ovos... Já volto. — Mamãe pisca para nós dois e eu suspiro.

Só queria tomar um banho e descansar... 

A Carona do Prazer - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora