Capítulo 24

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DIAS DEPOIS

LUA

Desde que Rick assumiu a relação comigo, ele fez questão de sempre me buscar na construtora depois do expediente e me levar pra casa... Eu já estava subindo pelas paredes porque Rick cismou que só ia transar comigo, depois que oficializasse nosso namoro perante minha mãe. Ele diz que quer provar que realmente me quer.

Finalmente sábado, eu aguardava ansiosa a chegada de Rick em minha casa. Fiz faxina em tudo e fiz questão de preparar o jantar, peguei tudo fiado na venda é claro, não ia oferecer arroz com ovo-. Já havia perdido as contas de quantas vezes eu me encarava no espelho verificando meu vestido.

— Filha se acalma, ainda faltam 15 minutos para o seu namorado chegar. — Mamãe sorriu me encarando através do grande espelho pendurado na parede sem reboco da sala e eu suspirei ajeitando o cabelo pela milésima vez.

— Ai mamãe, eu... tô muito ansiosa. E se ele não gostar daqui? Da comida, sei lá... — Aperto os dedos uns nos outros. Eu estava parecendo uma garotinha nervosa como se eu fosse assumir meu primeiro namoro.

— Deus, filha! Escuta, você me disse que o rapaz é gente como a gente, sendo assim ele não vai reparar na nossa humilde casa. E claro que ele vai gostar do jantar! Você preparou tudo com carinho, o molho e o nhoque estão com um cheiro delicioso, filha! — Respirei fundo me acalmando e me sentando no sofá.

— Será que o refrigerante gelou? — Mamãe meneou a cabeça pensativa e preocupada.

— Eu espero que esse rapaz faça muito bem a você, filha. Te conhecendo como eu conheço, você está completamente apaixonada. — Engoli seco absorvendo as palavras da minha mãe.

— Ai mãe. Eu gosto do Rick, mas ainda não sei se é paixão mãe! Ainda é cedo pra isso... — Digo temerosa. Mamãe se senta ao meu lado e pega minhas mãos alisando-as.

— Olha, conselho de uma velha experiente... quando você se sente muito tempo sozinha, surge alguém que por algum motivo te faça se sentir bem, seja sexual ou sentimental, você acaba se apegando sem perceber e quando finalmente enxerga, já está totalmente entregue. — Eu gosto do Rick é claro, ainda mais agora que ele me trata melhor... Apaixonada é demais e não tenho certeza... confesso que estou com medo de quebrar a cara novamente, assim como quebrei a cara com Nando...

— E a senhora, mãe? Nunca me contou nada relacionado a senhora sobre questão amorosa. — Minha mãe pareceu incomodada.

— Ah, filha. Minha vida amorosa não tem nada demais. — Ergui a sobrancelha e sorri.

— Nunca falou nada do meu pai. — Minha mãe se levantou rapidamente ficando de costas pra mim.

— Por que falar do meu pai te incomoda, mãe?

— Você não teve pai, Lua. Eu te criei sozinha, passando o pão que o diabo amassou. — Respirei fundo e me levantei indo de encontro a minha mãe que rodeou a sala nervosamente.

— Por que não me conta o que aconteceu? Eu nunca soube nada de relevante... — Ouvi o barulho da buzina interrompendo a minha curiosidade e logo me toquei que era Rick que havia chegado.

— Acho que seu namorado chegou! — Minha mãe abriu um sorriso aliviada e eu a encarei desconfiada.

— Salva pelo gongo! — Pisquei para ela que apenas abanou a mão com um sorriso sem graça.

RICK

Observei a rua de Lua e vi meninos pequenos brincando uns com os outros. Tão diferente do meu condomínio aonde as criançadas de hoje em dia brincam através da tecnologia... Com certeza, isso era uma realidade muito distante para essas crianças.

Olhei para direção da casa de Lua. Seu muro baixinho me fez ter a visão da janela aberta e a luz acesa, a simplicidade da residência me assusta. Eu tenho pavor em pensar viver uma vida assim.

Balanço a cabeça para dispersar esses pensamentos insano. Me encaro no retrovisor e suspiro. Hora de atuar e virar um cara da classe média que sobrevive de Uber. Dei três buzinadas e me preparei para sair do carro.

Com pouca demora lá estava ela, linda em um vestido simples lilás e com um sorriso apaixonante no rosto.

— Rick! — Fechei o carro acionando o alarme e me aproximei dela a abraçando e beijando seus lábios docemente.

— Lua... eu confesso que eu estava ansioso para essa noite. — Ela encolheu os ombros parecendo tensa.

— Ah, eu também. Vem vamos entrar, só não repara a minha humilde casa. Ainda vou reformar... — Assenti entrelaçando minha mão a dela e caminhamos para dentro do pequeno quintal.

Assim que ela entrou em sua casa comigo, a realidade bateu forte em meu peito. Lua realmente é uma mulher bem simples. Sua pequena casa é o tamanho do meu quarto na zona sul da cidade, o chão é grosso de cimento coberto com um tapete na sala tentando encobrir as imperfeiçoes, as paredes em tijolos sem reboco com janelas e porta de aço. Apesar de ser um casebre, me impressiono com o cheiro de limpeza do ambiente.

— Mamãe, deixa eu te apresentar, esse é o Erick, o meu namorado. — Lua me apresentou sem desviar os olhos de mim com um sorriso tímido. Eu encarei a senhora de aparência cansada a minha frente.

Ela me encarou com um olhar avaliatório sorrindo para mim e me entregando a mão para um aperto.

— Boa noite, Erick! Bem-vindo. —

— Boa noite, senhora Marcia. Sua filha fala sempre da senhora para mim. — Pisco para ela e pego sua mão, dando um beijo em seguida.

— Oh, Deus! O meu genro é bonitão mesmo! — Caímos na risada nós três.

— Vem, Rick, vamos jantar antes que a comida esfrie. Eu preparei nhoque! — Lua disse empolgada me puxando pela mão até a pequena cozinha.

— Hum! Deve estar delicioso. Amo nhoque! — Lua se derreteu com meu comentário. Era verdade, eu amo nhoque, mas nunca havia comido nhoque fora de um restaurante refinado. Observo a cozinha rapidamente e vejo que todos os moveis são improvisados em tábuas, exceto uma mesinha redonda com 4 cadeiras mal-ajambradas e tem um fogão e uma geladeira, ambos velhos.

— Senta, meu filho. A Lua vai servir você. — A senhora sorrio simpaticamente e assenti, me sentando na velha cadeira de assento frouxo encarando a pequena mesa a minha frente.

Realmente eu nunca havia entrado em uma casa humilde assim e sinceramente não sei por qual razão eu estou entrando nessa.

— A minha filha disse que você trabalha como motorista de aplicativo. Sinceramente se ela não me contasse, eu acharia que você estava mentindo. A sua aparência e esse cheiro de perfume caro mostra outra coisa.

— Mamãe! — Lua a repreendeu enquanto colocava um prato simples de vidro azul cheio em minha direção. Sorri para as duas e meneei a cabeça.

— Oh, sim. Eu recebo esses comentários no dia a dia. Deve ser porque gosto de cuidar da minha aparência. — A mãe de Lua assentiu e Lua a serviu em seguida.

— Tem razão. Você tem cara de modelo, filho de gente rica. Digo isso porque trabalhei anos da minha vida como faxineira. — Assenti e logo Lua se sentou a mesa para comermos juntos.

— Bom, então vamos jantar porque eu tô morrendo de fome! — Lua brincou animada e eu assenti aliviado de sair desse assunto com a mãe dela.

Dei a primeira garfada naquele nhoque e me surpreendi com o sabor. Para mim estava até mais gostoso que os do restaurante que eu frequento. Lua me encarava apreensiva e eu sorri para ela terminando de engolir a refeição.

— Parabéns! Está divino! Muito melhor que o... — Me corrigi no ato antes de falar que frequento restaurante refinado.

— Muito melhor que o da minha mãe. — Lua respirou aliviada e com os olhos brilhando de entusiasmo.

— Modéstia a sua, Rick! O da sua mãe deve ser perfeito! — Assenti dando outra garfada no nhoque. Se ela soubesse... Dona Branca não sabe fritar nem ovo, quem dirá preparar nhoques...

A Carona do Prazer - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora