Capítulo 44

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LUA

Observo os dois homens na minha frente trocando olhares desafiadores.

— Estou esperando resposta. O que está acontecendo aqui? — Pergunto novamente sentindo a animosidade entre os dois "armários" na minha frente. Juca me encara.

— Não é nada demais, Lua... apenas não estamos entrando em acordo. — Juca responde e eu arqueio a sobrancelha desconfiada.

— Certo... Ric... Henrique, a lista? — Ele bufa deslizando a mão pela cabeça e assente.

— Vou mandar, chefa! — Ele entona enfaticamente a palavra chefe e eu anuo me retirando da sala evitando uma discussão boba pelo tom de voz que ele usou.

— Certo. Vamos trabalhar... — Fecho a porta atrás de mim e quando atravesso o corredor, a mão de Juca me segura pelo meu braço. Eu franzo o cenho.

— Precisamos conversar, Lua. — Engulo a seco e anuo em curiosidade.

— Vamos para a minha sala. — Ele assente me seguindo até a sala. Fecho a porta assim que ele passa por ela e o encaro cruzando os braços.

— Então? — Ele aperta os lábios com o semblante preocupado.

— É sobre... nós três. — Eu meneio a cabeça e abro um sorriso confuso.

— Nós três?

— Eu, você e o Rick. — Permaneço em silencio e Juca me puxa pela mão até o pequeno sofá no canto do escritório.

Eu me sento com ele e ele bufa.

— O que está acontecendo? Eu não tô entendendo, Juca.

— Eu desafiei o Rick.

— Como assim? Seja direto. — Peço já impaciente e ele assente.

— Eu disse a ele que também estou apaixonado por você e não vou desistir... ele tomou como um desafio. — O encaro boquiaberta. Tá eu pedi para que ele fosse direto, mas não assim. Eu me ergo abruptamente e caminho para o meio da sala sem coragem de me virar de frente para o Juca.

— Espera... você... você está dizendo que? — Ele nega.

— Não! Eu não estou apaixonado por você. Não ainda! Mas é inegável o meu interesse por você, você é linda, inteligente, forte. Eu não sou nenhum boneco de cera, Lua... se você me desse ao menos uma chance para sairmos mesmo que sem compromisso, pode ter certeza que eu aproveitaria cada segundo... — Eu abaixo a cabeça ainda confusa com tudo que Juca disse.

— Juca eu... — Ele para na minha frente e ergue meu rosto, me fazendo olhar em seus olhos.

— Eu não quero que se sinta pressionada. Apesar de tudo gosto da sua amizade, não estou pedindo nada que não seja a amizade sincera que temos e claro, se tiver que acontecer algo que seja porque você também quer.

— Certo. Então por que você tinha que dizer isso para o Rick? — Juca da de ombros e vaga o olhar.

— Eu disse aquilo para o Rick no impulso, ele sempre solta piadinhas sobre o que eu sinto por você e também pra ele saber que tem concorrentes a altura dele. — Juca dá de ombros e eu rolo os olhos.

— Você não deveria ter feito isso, Juca. Vocês são melhores amigos e eu não quero ficar no meio de vocês. — O advirto e o vejo comprimir os lábios segurando uma feição de nervosismo.

— Me desculpa... eu fui um tolo. E nós somos adultos Lua, independente se um dia você voltar com o Rick ou eu... me envolver com você, minha amizade com ele não iria mudar.

— Já se perguntou se para ele mudaria algo? — Juca sorri divertidamente assentindo.

— Você ainda se importa com ele, não é? Você é apaixonada no Rick é claro... — Nervosamente ajeito a barra da saia.

— Olha! É melhor voltarmos ao trabalho, que tal? Tô cheia de coisas para fazer. — Digo me afastando e indo em direção a minha mesa. Juca permanece sorrindo.

— Vamos voltar ao trabalho. — Ele pisca e sai da minha sala.

O que foi tudo isso?

Rapidamente volto aos meus afazeres e vejo que Rick acaba de me mandar a lista que preciso. Ótimo, mãos na massa!

[...]

— Droga! Agora que tenho dinheiro preciso urgentemente tirar uma carteira de habilitação e comprar um carro... — Digo em voz alta enquanto caminho para fora da empresa com o celular na mão em busca de um carro de aplicativo para me levar pra casa. Estou exausta, o salto está me matando e preciso descansar.

— Se quiser, eu posso ser seu motorista particular. — Estremeço com o toque de Rick sobre minha cintura e sua voz baixa em meu ouvido.

— Você se afasta de mim! Eu não preciso de motorista particular nenhum. — Digo tentando me afastar dele que sorri caminhando ao meu lado com a mão no bolso.

— Já se instalou na zona sul? Conheço tudo por aqui e posso te levar pra casa... — Ele avisa e eu começo a me lembrar da minha primeira carona com ele, a carona do prazer e do caos sentimental que ele me causou.

— Não ainda. — Respondo sem hesitar e ele sorri abertamente enquanto me esforço para ser indiferente a aproximação dele.

— Melhor! Eu me mudei ontem e tô morando naquele apartamento, fica uns 12 minutos da sua casa... eu posso... — Eu o corto assim que colocamos os pés para fora do prédio.

— Rick, olha. Não fica forçando algo entre a gente não, tá? Não é porque você trabalha diretamente comigo que devemos ter uma relação tão amigável assim! Eu apenas tô te tolerando até arrumar alguma vaga para você bem longe de mim. — Ele fica em silencio parecendo pensar em uma resposta. Suas enormes mãos cobrem meus ombros e ele me encara com os olhos intensos, entristecidos e cansados. Meu estômago se embrulha em nervosismo por tê-lo tão próximo. Sua respiração quente toca minha pele me causando arrepios e eu permaneço com a feição inflexível para que Rick não perceba que eu sou sensível a sua aproximação.

— Lua... eu já te pedi perdão por tudo que eu fiz. Eu sei que fui um idiota, um canalha da pior espécie, mas caramba! Eu tô tentando mudar... eu juro! — Eu gargalho alto de escarnio enquanto tiro a mão dele de mim.

— Você tá tentando mudar... não faz nem dois dias que você se mudou pra um condomínio do subúrbio e começou a trabalhar como uma pessoa normal de classe média e baixa faz, e acha que está fazendo grande coisa? Coloca uma coisa na sua cabeça, Henrique. Você me fez perder total interesse que eu tinha em você. Então entenda de uma vez por todas, eu e você, não existe mais! — Me afasto dele, mas Rick me puxa pelo braço me fazendo bater contra seu peitoral firme.

Eu estremeço sentindo o calor do seu corpo no meu e sua respiração rápida no meu rosto. E eu ofego quando seus lábios quase roçam os meus e seu olhar não me deixa em nenhum momento.

— Tem certeza, Lua? Tem certeza que você não sente nada mesmo? Porque... eu confesso que está agora sentindo o calor do seu corpo, o cheiro da sua pele, a respiração quente da sua boca, não me deixa nenhum pouco indiferente, pelo contrário, eu tô quase te beijando aqui e te levando embora comigo para o meu apartamento. Matar a saudade que eu tô sentindo de você... — Ele diz lentamente cada palavra enquanto sua mão permanece colada em minhas costas me prendendo contra seu corpo robusto.

Eu fecho os olhos brigando com meu inconsciente que a todo momento grita para eu me entregar.

— Eu estou apaixonado por você, Lua... se eu estou tentando mudar é por você. Quero ser melhor somente para você. — Reúno toda força que está se esvaindo e o empurro me afastando.

—A mudança que você tanto diz, tem que vir de dentro para fora como progressão. Não porque você acha que fazendo isso vai me conquistar. Não basta mudar pelos outros e se sentir fora de si mesmo. Se for para impressionar, é melhor desistir Henrique se não as amarguras, a infelicidade e a insatisfação virão com o tempo... — Ele fica em silencio e eu caminho quase correndo para o mais longe dele possível.

Essa foi por pouco... 

A Carona do Prazer - CompletaOnde histórias criam vida. Descubra agora