Angústia

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"Solidão é quando o coração, se não está vazio, sobra lugar nele que não acaba mais."

Antonio Maria


Kakashi

Mordiscou a torrada sem ânimo para comer, mesmo que seu estômago esteja doendo. Mesmo sabendo que Mei fala algo, não se importa o bastante para fingir interesse, prefere continuar quieto com sua amargura. Sinceramente, nunca pensou que poderia se sentir tão sozinho, nem mesmo quando Rin partiu e se trancou do mundo experimentou uma solidão tão dolorosa.

Faz uma semana. Uma semana que na primeira hora da manhã Iruka partiu e não fez nada para o impedir, incapaz de vencer a culpa. Era culpa sua, se não fosse tão inseguro jamais teria permitido que os pensamentos negativos invadissem sua mente com tamanha força.

E desde então se deita a custo, procurando no escuro o corpo que já estava tão acostumado a abraçar. Às vezes, quando se empolga com algo, procura com o olhar Iruka pela casa, desejando compartilhar com ele as emoções e sempre se decepciona porque lembra que está sozinho.

Naruto, por sua vez, segue tranquilo, mesmo que esteja com saudades do Umino — infelizmente, mentiu para o filho, falando que o homem precisou viajar a trabalho; não teve a coragem de dizer a ele que, talvez, Iruka jamais volte.

— Pai!

Se assustou com a voz do loiro, mas logo arrumou a postura e sorriu para o garoto que está envolto nos braços da governanta

— Me perdoe, Naruto — falou envergonhado, se tornou frequente se perder nos pensamentos. — O que deseja me falar?

— Eu vou levar o pequeno Naruto para passar um pouco, senhor, caso não se importe. Está uma manhã muito agradável e ele já fez amizade com outros da sua idade.

— Claro, podem ir. Não se preocupe comigo, quando terminar o desjejum eu organizo a mesa. — Parou por um instante, olhando para Naruto que parecia muito animado. — Se divirta, filho e tenha cuidado.

Ela sorriu antes de fazer uma curta reverência, saindo da cozinha em seguida, com seus passos ecoando pelo ambiente silencioso. Continuou sentado até ouvir a porta da frente sendo aberta, sabendo que ambos partiam. Esperou mais alguns segundos para finalmente levantar da cadeira, deixando a sua refeição quase inteira no prato.


Suspirou quando parou em frente a lareira apagada, é impossível esquecer do dia que pediu a mão de Iruka; se sentiu o homem mais importante do mundo quando ele aceitou o seu pedido. Se fechar os olhos, consegue imaginar perfeitamente a figura do Umino, que com os olhos marejados trocou as alianças nesse exato lugar.

Conhece o ciclo, muito em breve andará até o quarto onde Iruka se hospedou e ficará lá por muito tempo, olhando para cada canto do cômodo, admirando os detalhes únicos que o homem que ama colocou no ambiente. Essa é sua rotina desde que o Umino partiu, uma dolorosa rotina baseada em memórias.

Entretanto, hoje, o universo parecia ter outros planos, já que ouviu a porta da frente ser impacientemente esmurrada. Infelizmente, não tem esperança de ser Iruka, conhece até mesmo a forma dele de bater na porta, mas se apressou em recepcionar a pessoa misteriosa.

— O que diabos você tinha na cabeça, Kakashi?!

Engoliu em seco, Kurenai Sarutobi nunca pareceu tão ameaçadora quanto agora. Os olhos firmes pareciam olhar no fundo de sua alma, enquanto o semblante era fechado; dessa forma, ela parecia ser capaz de lhe golpear por longas horas.

Devir - KakaIru!AUOnde histórias criam vida. Descubra agora