Centelha

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"O humor ilude-nos como uma faísca num campo escuro. A verve um tanto imoderada, uma corrupção do sentimento que se faz galhofa, um medo de ganhar nome de suspeita virilidade. Quem não troça é beato ou é eunuco."

Agustina Bessa-Luís


Iruka

Prendeu os fios com firmeza em seu tradicional penteado, encarando por alguns segundos seu reflexo no espelho do quarto. Revisou — mentalmente — seu plano mais uma vez, essa noite antecede o retorno de Kakashi aos negócios e deseja lhe ajudar a distrair-se um pouco de toda a tensão, mesmo que o clima entre eles continue estranho. Já fazem dias desde que Kurenai veio e jogou as informações para eles terem de lidar, seja lá o que trataram dentro daquela sala acabou mudando a visão do homem quanto sua relação com Iruka.

Agora, com os quase quarenta dias de convivência, possui uma boa noção do estado mental dele, mesmo que não fique o abordando com perguntas e avaliações, não esqueceu de sua pesquisa. Na verdade, avançou bastante, acredita que é questão de tempo para possuir algo digno para apresentar aos acadêmicos.

Sorriu antes de respirar fundo, decidido a ir até o grisalho e torcer para que as coisas aconteçam como deseja, está cansado de se esforçar para chamar a atenção dele e não ser retribuído.


— Ansioso para amanhã, Kakashi? — falou juntando toda a coragem que tinha, torcendo para ser o bastante para chamar a atenção do homem que, sentado no banco posicionado na varanda, encarava o céu.

— Iruka... pensei que já estava se preparando para dormir.

Os olhos escuros passaram a olhar na direção do moreno, encarando-o com a intensidade de sempre, como se houvesse um poder magnético intenso no olhar experiente, tão intenso que é impossível para Iruka desviar do contato visual.

— Sim, eu estou um pouco receoso com o que pode acontecer, entretanto, a ideia que não tenho outra escolha me conforta. É impossível pensar em adiar o inevitável, afinal.

— Quer falar sobre isso? — Jogou o orgulho que tinha para longe, consegue sentir o medo no tom de voz do amigo, mesmo que ele tente esconder, sabe que Kakashi Hatake está apavorado. — Ou posso só me sentar ao seu lado e te fazer companhia para fingirmos que não há nada de mais planejado para amanhã.

— A segunda opção, por favor. — Um sorriso surgiu nos lábios do mais velho, que não parecia incomodado com a situação. O Umino suspirou baixo, finalmente soltando o fôlego que segurava sem que sequer se desse conta. — Ao menos se sente ao meu lado, distante dessa forma parece que tem medo de mim.

Caminhou devagar até o banco de madeira escura, sentando ao lado do homem que prestava atenção em cada ato seu. Apoiou as mãos em seus joelhos, antes de olhar na direção do grisalho pronto para falar o que desejava.

— Eu sei que você está assustado, que pensa que não está pronto para retornar a sua vida, ao menos uma parte dela. E pior, sei que se prende justamente pelo sentimento de culpa que existe em teu peito. — Notou a surpresa no olhar do mais velho, sabe que está sendo direto demais, mas é o que precisa ser feito. — Rin jamais desejaria que você continuasse vivendo como está, você não está sendo egoísta por viver depois de tudo o que aconteceu.

— Você me disse que não iria falar sobre isso, eu não gosto de ser enganado, nem você tem esse direito — falou após alguns segundos em silêncio, em um tom que se assemelhava a um sussurro. — Suas palavras podem confortar, mas agora eu não as desejo, prefiro lidar com minha dor em silêncio.

Devir - KakaIru!AUOnde histórias criam vida. Descubra agora