Prólogo

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⍟ Avisos ⍟

➪ Essa história é postada no Spirit, com ritmo regular de atualizações; aqui estarei migrando aos poucos os capítulos já postados por lá. Então, não será algo simultâneo. 

➪ É um romance lento, além de trabalhar questões sociais e mentais. Não procure um romance fácil, ou direto, as coisas aqui fluem em um ritmo lento. 

➪ Todo feedback é bem-vindo! Eu sou novo no Wattpad, então não se acanhe em deixas suas opiniões (assim vamos surtar juntos por Devir). 

➪ A capa foi feita pela minha querida amiga, dona de todas as capas das minhas históras e do meu coraçãozinho.

Com todos os avisos, boa leitura e espero que gostem! 

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"O lar é onde o coração do homem cria raízes"

Henrik Ibsen

Nostálgico. Era assim que se sentia enquanto percorria as ruas asfaltadas de Londres, sentindo o sutil balançar das rodas do automóvel. A cidade parecia a mesma com as suas estruturas grandes e colunas decoradas; a família real sempre foi chamativa e o governo parlamentar continuou a cuidar dos marcos históricos. A guerra ainda era algo recente, a dor das perdas continuava presente em todos, mas parecia que o coração da Inglaterra jamais fora afetado por isso, ao menos olhando da forma que ele olhava, apenas admirando as pessoas que caminhavam pelas calçadas. Distante, Londres continuava sendo a mesma cidade de quando partiu.

O real golpe em seu peito foi quando o carro parou em frente a pequena casa, cuja frente era uma pequena varanda protegida por altas barras de ferro estilizadas. Aquele era o seu lar. As roseiras agora já não existiam, muito menos as janelas estavam abertas para a brisa adentrar nos pequenos espaços e as cores claras da pintura estavam desbotadas — porém, não deixava de ser sua casa.

— Pronto, doutor Iruka. — Sorriu para o simpático motorista de meia-idade que o conhecia desde a infância, o homem era amigo de sua mãe. — Sua casa, exatamente como foi deixada por você.

— Já lhe disse que não sou doutor, senhor Oswald. Eu só estudei fora. — Justificou-se enquanto o outro, que havia saído de dentro do automóvel, abria a porta para si. — Obrigado. — Complementou quando o olhou diretamente, saindo em seguida.

Caminhou rapidamente em direção ao baixo portão de ferro, abrindo-o com um sútil empurrão e ouvindo o longo rangido que indicava seu tempo em desuso — outrora, teria que cuidar de grandes coisas na casa. Pegou a chave no bolso de sua calça de linho e rapidamente destrancou a porta de carvalho escuro.

Agradeceu em um gesto mudo ao homem que surgiu detrás de si, segurando as pesadas maletas de material negro e adornos prateados. E, com um sorriso nos lábios, abriu a porta e adentrou sendo seguido pela figura familiar. Sabia que deveria logo agradecer a ajuda e despedir-se do homem, mas seus pensamentos estavam distantes demais para fazer isso no momento.

Os móveis, agora empoeirados estavam exatamente onde ele se lembrava, cada item de madeira era uma recordação sua; cada objeto contava um pouco de si, da sua infância e da sua família. Apertou os olhos sem desejar chorar — ao menos não a vista dos outros — e suspirou fundo antes de voltar o olhar para o homem que havia cruzado o arco de sua porta.

— Obrigado pela ajuda, senhor. — Aquela era a sua voz de sempre, tranquila como se nada pudesse o abalar. — Quanto lhe devo? Tanto pela viagem quanto por trazer minhas malas até aqui, sei que estavam pesadas.

— O filho de Kohari Umino sempre terá passe livre comigo. Quando precisar de algo sabe onde me procurar. — Um sorriso simpático formou-se nos lábios do mais velho, mostrando que de fato eram palavras sinceras. — Sua mãe era uma boa mulher, Iruka, todos nós lembramos dela com o coração apertado.

Sua mãe. Só a menção da mulher de longos fios castanhos e olhos da mesma cor fazia seu peito apertar. Ela era uma pessoa incrível e quando partiu há seis anos, foi o pontapé que ele precisou para desprender-se da cidade; seguir o sonho que ela sempre falou aos ventos: ver o seu filho crescer. Kohari trabalhou com ávido para garantir que Iruka tivesse acesso a um futuro diferente e só o homem sabe da luta dela.

— Obrigado. — Foi a única coisa que conseguiu dizer enquanto encarava o homem, tentando ao máximo manter-se firme. Partiu jovem de Londres, mas agora era maduro e precisava se portar desta forma. — Se afirma que não lhe devo, somente posso te agradecer. Tenha um bom restante de dia, senhor.

— Até! — Despediu-se levando a mão ao chapéu redondo, imitando o gesto de tirar o mesmo; um típico cumprimento.

Iruka esperou que o outro batesse a porta no arco de madeira, mantendo-se quieto até ouvir o rangido alto do motor. A verdade era que não sabia o que fazer a partir de agora. A casa com certeza precisava de uma limpeza, a dispensa precisava — com urgência — ser reabastecida, além disso, voltar para cá depois de tanto tempo significava o retorno de seus pensamentos mais antigos.

Enquanto vivia a quilômetros daqui, em Oxford, as coisas que havia deixado — e esquecido — em Londres, pareciam ter desaparecido; toda a sua confusão e mágoa com seus próprios sentimentos ficaram para trás. Entretanto, agora tudo retornava lentamente a sua mente. Suas memórias de infância, seus receios da juventude e pior ainda, suas frustrações adquiridas com o tempo.

O Iruka de seis anos atrás ainda existia no fundo de sua alma, o rapaz que praticamente embarcou no trem sentindo unicamente o sabor salgado de suas lágrimas. Cresceu muito em Oxford, aprendeu mais sobre si durante aquele tempo distante das pessoas que fizeram parte de sua vida. Porém, suas inquietações ainda eram as mesmas, suas dúvidas eram as mesmas de quando era apenas um rapaz.

Caminhou lentamente até a janela da frente da casa, não tardando em puxar os ferrolhos para cima e abrir a estrutura; permitindo que uma sutil brisa adentrasse na casa e fizesse seus fios balançarem junto da sensação refrescante. Em certo momento de sua vida teve vergonha dos fios longos, mas agora, os tinha como sinônimo de sua força. E com tudo isso em mente, foi que decidiu qual seria seu primeiro ato na cidade: visitar o — antigo — amigo, Kakashi Hatake.

Devir - KakaIru!AUOnde histórias criam vida. Descubra agora