Decepção com o retorno

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"O que quer dizer cativar? É uma coisa muito esquecida. Significa criar laços. "

Antoine de Saint-Exupéry, O pequeno príncipe


Iruka

Aquela casa de terreno grande fazia seu peito doer, as cercas de ferro retorcido com pontas afiadas com as colunas espessas davam um visual sóbrio ao lugar; às árvores cheias junto das roseiras altas eram exatamente como recordava. Sabia que mais para o fundo havia um bangalô com mais árvores densas e aquele era o seu lugar favorito da casa da família Hatake, era onde passava horas distraindo-se do mundo. A grande casa — passada de geração em geração da família — possuía grandes janelas de uma madeira escura lustrosa, um telhado alto de cor marrom e portas altas que combinavam com toda a estrutura.

As paredes externas eram adornadas com decorações em pedra, figuras de lobos eram o detalhe final que tornava tudo ainda mais luxuoso. Porém, agora não era hora para perder-se em seus devaneios nostálgicos, precisava conversar com Kakashi.

O homem e ele mantiveram contato por cartas enviadas com frequência regular durante o primeiro ano que viajou de Londres; porém, de súbito parou de receber as respostas do grisalho e logo entendeu que o contato havia sido cortado de forma brutal. A última vez que conversaram, o assunto era sobre sua relação com Rin Nohara, para ser mais preciso, era sobre o aniversário de um ano de casados e em como eles pretendiam ampliar a família em questão de tempo.

Mentiria se afirmasse que não sentiu o peito doer ao responder às palavras cheias de empolgação, "parabéns pela sua relação com Rin, Kakashi. Tenho certeza de que vossa família será bela e extensa", foram exatamente essas as palavras que enviou para o Hatake; as mais sinceras que poderia enviar. Quando se despediu do homem ele estava recém-casado com a herdeira dos Nohara, uma família prestigiada entre a elite Britânica e que com certeza iria ajudar a expandir as indústrias da família Hatake.

Entretanto, isto não era o foco no momento — Iruka já se martirizou demais pela estranha mágoa que tinha do homem pelo matrimônio, como se isso o afetasse de forma direta. A única coisa que desejava no momento era encontrar-se novamente com Kakashi e bem, com a nova Hatake. Segurou na argola presa ao portão e bateu-a na grade de aço com força, ouvindo o som desagradável ecoar por todo o espaço.

Esperou alguns segundos, estreitando os olhos estranhando a demora para algum funcionário vir o recepcionar; recordava-se muito bem de como havia no mínimo uma dezena de funcionários usualmente na propriedade. "Ninguém em casa?" pensou, mesmo que a ideia parecesse distante demais. Por isso empurrou novamente o arco com força, querendo ter certeza de que chamava atenção.

Desistiu com um suspiro pesado, se ninguém havia o atendido até agora é porque provavelmente não há alguém para fazer isso. Porém, parou de caminhar para trás quando ouviu com nitidez o som dos latidos dos cachorros — no mínimo três latidos diferentes — e parou de súbito quando os olhos castanhos se focalizaram na figura masculina que caminhava de forma despreocupada — e lenta — em direção ao portão.

— Kakashi! — falou o nome de homem ainda surpreso, piscando algumas vezes antes de caminhar até as barras de ferro.

Aquele era seu amigo, mas com certeza não estava com a fisionomia que se recordava. Os olhos negros possuíam chamativas olheiras embaixo, os lábios outrora vermelhos de forma delicada agora possuíam sutis rachões como se ele não se hidratasse com frequência. Não precisava ser muito inteligente para saber que algo estava errado.

— Oi. — Sorriu para o grisalho que o olhava com desinteresse, o que incomodava o Umino; fazia anos desde que se viram, merecia ao menos um sorriso fino vindo dele. — Eu voltei... — pontuou de forma automática como se já não fosse óbvio o seu retorno; o Hatake tinha esse efeito nele, conseguia fazer seus pensamentos tornaram-se completamente enrolados diante das mais triviais situações.

Devir - KakaIru!AUOnde histórias criam vida. Descubra agora