Devir - KakaIru!AU

Culpa, sentimentos e medo

"O que é terrível na culpa é que ela atribui ao medo, o maior mal que existe no mundo, um enorme direito."

Hofmannsthal Hugo

Kakashi

Por que tinha feito aquele questionamento a Iruka? Além disso, qual era o motivo de desejar tanto saber a resposta dele? Não compreende, só sabe que foi um completo impulso, enquanto deslizava seus dedos pelos sedosos fios seus pensamentos viajaram e naquele momento julgou certo saciar sua curiosidade.

De certa forma, já sabe a resposta. Lembra com perfeição da conversa que tiveram no dia em que Kurenai retornou para conversar com ele sobre seu trabalho, quando Iruka confessou conversar com ela sobre seus sentimentos por um homem e, por fim, saiu da sala jogando a frase: "Lide com isso da melhor forma" para ele.

Desde aquele dia algo mudou em seus pensamentos, algo mudou dentro de seu coração... Mesmo que não pareça ser algo óbvio, talvez seja o medo de perder o melhor amigo para outra pessoa ou outra coisa que ainda não consiga compreender. A verdade é que está tão confuso que nem sequer sabe o que passa em sua mente, está parecendo alguém completamente desnorteado.

Apertou os fios grisalhos enquanto encarava o teto claro, já deveria estar dormindo; mas sua mente não lhe daria folga esta noite — Iruka Umino claramente tirou seu sono. Se dormir, será por conta do cansaço físico.

~

Acordou de sobressalto, respirando ofegante enquanto sentia o suor frio escorrer pelo seu rosto. Se sentou na cama e olhou para os lados completamente confuso, como se desejasse ter certeza que tudo aquilo não havia passado de um estranho sonho, de um terrível delírio de sua mente cansada.

— Nada disso aconteceu, Kakashi — falou baixo, com os lábios ressecados doendo com o mais sútil dos movimentos. Sabe que está sozinho e sabe o quão estranho é falar sozinho, mas esta é a única forma de aquietar seus pensamentos. — Rin não está aqui, e se estivesse ela não me julgaria. Ela não...

Calou-se com as lembranças desconexas do sonho surgindo em sua mente. Rin lhe olhava com firmeza no olhar, como se fosse capaz de encarar diretamente sua alma assustada, e falou aquelas palavras que até agora lhe causam calafrios; a voz outrora doce, parecia um síbilo que incomodava dentro de seus ouvidos.

"Você nunca me tocou daquela forma, Kakashi", foi o que ela lhe disse. "Você nunca pensou em mim com o mesmo carinho que pensa nele, eu nunca fui alguém verdadeiramente querida por você... enquanto Iruka Umino mora em seu coração."

Sentiu a lágrima lenta escorrer por sua face, enquanto a angustiante culpa crescia em seu peito; havia, por um momento, esquecido por completo de toda essa inquietação quanto sua relação com Rin, com o fato de não ter sido um bom marido, nunca ter sido alguém que a amasse de forma romântica.

— Me perdoe, Rin! — Fechou os olhos com força a medida em que sua mente doía, na verdade, todo seu corpo parecia gritar em protesto. Era como se estivesse mergulhando na escuridão, até mesmo seus pensamentos soavam mais distantes dentro de seu cérebro.

— Kakashi! — Iruka praticamente gritou depois de abrir a porta do quarto. E mesmo sabendo que o amigo estava lhe chamando, não teve forças para abrir os olhos e voltar a realidade.

Ouviu os passos do mais novo ecoarem pelo recinto e não se surpreendeu quando o colchão afundou perto de si, sabe que o Umino pretende lhe dar apoio, como sempre faz.

— Você não quer falar, eu entendo. — Os braços quentes do moreno lhe envolveram em um abraço desajeitado. — Porém, saiba que eu estou aqui. Eu sempre estou aqui, pode contar comigo.