Confusão

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"O preconceito é uma opinião não submetida a razão."

Voltaire


Kakashi

Desistiu de beber algo, sabendo que agora a bebida não teria mais o mesmo sabor adocicado. Sabia que Iruka continua ao seu lado aguardando uma resposta, mas a realidade é que não sabe o que responder. Seus pensamentos parecem doer enquanto várias coisas surgem, vários sentimentos e temores que manteve somente em seu íntimo. O que deve dizer? Qual postura deve adotar diante da confissão confusa? E, além disso, como se sente por saber que seu melhor amigo deseja homens?

— Por favor, Kakashi, me responda! — Engoliu em seco ao notar o desespero na voz do amigo, nem precisa olhar para o lado para saber que ele continua com os olhos marejados desejando com todas as forças receber uma resposta. — Você me odeia?

— Eu... jamais te odiaria, Iruka Umino. Por qual razão deveria te odiar? Por unicamente ser diferente de mim? Além disso você ser assim não fará com que deixe de ser o homem que conviveu comigo durante anos. E, de certa forma, eu já sabia que você era... diferente, mesmo que não entendesse exatamente em quê.

Juntou toda a força que tinha para voltar a olhar para o moreno, sentindo o peito apertar com a visão dele completamente desnorteado, devastado por estar pela primeira vez se mostrando por completo. Queria ser alguém melhor e estar pronto para lhe ajudar nesse momento, porém não é evoluído o bastante para fazer isso.

— Porém, eu confesso que não sei como devo agir com isso. Eu quero que você tenha uma boa vida, Iruka, mas não posso te proteger de toda a maldade do mundo.

— Não preciso de sua proteção, a única coisa que anseio é sua aprovação. Eu sei muito bem como o futuro pode ser sombrio para homens como eu, mas eu estou cansado de me esconder para você. Nós amadurecemos juntos, não te contar essa parte de mim é esconder quem eu sou.

— Você pode me dar um tempo? Quero terminar essa garrafa sozinho e pensar sobre as coisas, juro que quero compreender a situação. Só... é difícil.

— Claro. — O Umino não demorou para levantar, não conseguindo esconder a frustração em seu olhar agora cansado. — Eu ainda sou o mesmo homem de antes, não desejo que mude seu comportamento comigo. Não quero perder você.

Assentiu já olhando para frente, ignorando por completo o mais novo que agora caminhava em direção à saída. O céu agora possui belos tons de laranja, marcando o fim de mais um dia. "Não quero perder você", a fala de Iruka ainda ecoa em seus pensamentos como um sussurro incessável, sabe muito bem aquele é o maior medo de seu amigo e dele mesmo.

Não é um extremista, um daqueles homens que vivem desferindo ódio aos homossexuais, acredita que todos tenham o direito a contemplar sua existência, mas isso longe dele. O Umino é outro caso, eles moram juntos. O que seu pai diria se soubesse disso? Com certeza Sakumo faria um discurso sobre as aparência, em como será mal falado se souberem do estilo vida do amigo.

"Aparência", com certeza isso importava demais para o seu pai, sempre foi educado para saber como as manter. Porém, é o Iruka, ele está se referindo ao homem que conhece desde a infância, ao homem que esteve ao seu lado durante muitos anos e ainda continua. Ninguém oferece a tranquilidade e o carinho que Iruka lhe fornece, ninguém é capaz de tocar o seu coração da mesma forma e Kakashi sabe disso.

Um suspiro escapou de seus lábios antes de encher a taça até a borda. Não deveria beber demais, mas é o que deseja para apaziguar seus pensamentos.

Devir - KakaIru!AUOnde histórias criam vida. Descubra agora