TDAH e Asperg

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Nova York 8am

Segunda- Lavar o cabelo três vezes

Terça- Separar a roupa por cores e deixar na lavandaria

Quarta- Caminhar pela orla antes de ir para o trabalho

Quinta- Maratonar qualquer coisa com a Maite

Sexta- Fazer fachina em casa

Sábado- Ir ao mercado

Domingo- Ir a biblioteca

Todos os dias, todas as manhãs, e antes mesmo de eu resolver cuidar da minha higiene pessoal, eu precisava dar uma olhada no meu cronograma de tarefas. Aquela foi a forma mais fácil que eu encontrei de pelo menos deixar a minha cabeça menos confusa. Digamos que eu tenha uma extrema facilidade em me distrair com coisas básicas. Por exemplo, quando estou lavando o meu cabelo em todas as Segundas, rapidamente começo a contar um por um dos azulejos que cobrem as paredes o chão do banheiro, só voltava ao normal depois de quase trinta minutos.

E não, eu não sou louca! 

Você já ouviu falar da síndrome de TDAH e também Asperg? Se a resposta for positiva então ok, você não é uma pessoa tão desligada assim, e se for negativa... bom, pegue uma caderneta, uma caneta e preste atenção.

Com pouco menos de oito anos, eu já sabia que não era como as crianças consideradas "normais". Sempre perguntava para mim mesma por que divagava tanto quando estava assistindo às aulas, enquanto lia um livro ou assistia um desenho, algo assim, em que você deve, e também precisa prestar atenção. Eu imaginava por que cargas d'água aquilo tinha que acontecer comigo, já que sempre fui uma pessoa de hábitos peculiares. A minha cama deveria sempre estar milimetricamente arrumada, as roupas organizadas por cores, estilos e tecidos, nunca utilizar as calcinhas por mais de duas vezes, o cabelo sempre cortado dois centímetros abaixo dos ombros, coisas assim. E em alguns momentos cheguei a me recriminar por ser assim; achava que só poderia ser alguma falha de caráter, que no fundo deveria ser uma desinteressada de absolutamente tudo. Afinal, eu olhava para o rosto da minha professora, por exemplo, nos explicando uma matéria importante, e embora nos primeiros quinze minutos conseguisse acompanhar, depois de um certo tempo via o rosto dela se transformar em uma tela de cinema, em que passavam vários acontecimentos de minha vida, ou planejamentos, ou ainda o que imaginava que estava por vir, sonhos, fantasias... e quando voltava no tempo e espaço presentes, já não fazia ideia do que estava sendo dito. 

Em muitos casos usa-se a expressão 'pegar o bonde andando' para descrever uma situação em que você pega algo no meio e não entende nada... Mas para alguém como eu, acho que é o contrário. Você pega o bonde parado, fica nele até um certo ponto e depois cai. O bonde continua e você fica para trás.

Apenas com onze anos descobrimos que eu tinha a síndrome de TDHA e também Asperg. Uma descoberta que quase levou os meus pai a separação, porque quando o Dr. Shepherd, meu psiquiatra e grande amigo da família, disse que provavelmente eu nunca seria como as outras crianças da minha idade, mas que ainda assim poderia levar uma vida aparentemente normal, a minha mãe foi atingida por um choro compulsivo,  e no mesmo momento sugeriu que fossemos a procura de outro profissional de saúde supostamente mais competente, e o meu pai  só queria me ajudar a organizar por ordem alfabética os livros que estavam no consultório do Dr. A partir daquele momento as discussões começaram, acusações sem fundamentos e por pouco, muito pouco eu me tornaria filha de pais separados.

Pessoas com Transtorno de Deficit de Atenção apresentam uma excessiva dificuldade em manter o foco em uma atividade que exija esforço mental prolongado; uma atividade que precise ser desempenhada com regras, prazos pré-determinados. Além disso, crianças com déficit de atenção têm dificuldade para começar e terminar suas tarefas, podem ser completamente introspetivas, apresentar problemas de memorização e rendimentos baixos. Já pessoas com Asperg, apresentam um Q.I acima dos níveis normais. E por terem habilidades verbais muito desenvolvidas, com vocabulário amplo, diversificado e rebuscado, reforça aos pais a ideia de que seus filhos são superdotados. Apresentam ainda sintomas associados ao isolamento social, inadequação de comportamentos ou manifestações de ansiedade, depressão ou irritabilidade.

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