XLV

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"Sinto falta do pensamento de eu e você para sempre" - strangers

Nick já não estava mais suspenso, voltaria às aulas hoje. Eduardo não apareceu no colégio na semana passada, mesmo que sua suspensão fosse de apenas três dias. Não poderia negar que estava aterrorizada com a ideia de vê-lo novamente. Ele ainda não tinha dito nada ao meu pai, o que era estranhamente suspeito. Ainda acreditava que ele tinha alguma carta na manga, porque o conhecia muito bem para saber que ele não gostava de sair perdendo. Não importa se você está jogando ou não.

— Ai, amiga — Jessy se recosta ruidosamente no armário ao lado do meu, me assustando, sua expressão plenamente contente. — Você não faz ideia de como sábado foi incrível.

— Olha só, a desaparecida resolveu dar a cara — cruzo os braços, encarando-a séria.

Eu estou irritada, mas estou mais aliviada de não ter que enfrentar Eduardo sozinha do que com o fato de ela ter me deixado quase dois dias sem notícias. Torço internamente para que ele me deixe em paz hoje.

— Me desculpa, Felipe e eu tivemos uma longa conversa, acho que nós precisávamos disso.

Eu ainda encaro o corredor apreensiva. Cada rosto parecido com o dele que dobra o corredor causa um nó em meu estômago. Tudo sobre ele agora me assusta, seu olhar, seu sorriso maldoso e diabólico, a violência com que ele me toca. Eduardo me faz temer pela minha própria segurança, ele nunca aceitou bem o fim do nosso namoro e bem, não é preciso ser muito antenado nas notícias para saber de casos com fins trágicos porque um homem não soube lidar com a rejeição de uma mulher. Todos conhecem um caso assim. E isso é assustadoramente comum. E o pior de tudo, é saber que talvez você possa se tornar uma vítima.

— O que você tanto olha? Está esperando o trem? — Jessy indaga, claramente irritada com a minha falta de atenção no assunto, que com certeza é importante para ela. Me sinto uma idiota.

— Não, não é nada — balanço a cabeça, expulsando meus temores. — O que estava dizendo? Vocês se resolveram?

Ela levanta sua mão direita, exibindo sua delicada aliança. Abro um largo sorriso, me sentindo imensamente feliz por ela. Embora eu particularmente não goste de aliança, nem anéis no geral.

— Dei um voto de confiança a ele, espero de verdade que ele não me machuque, visto seu histórico com garotas — Ela encara mais uma vez sua aliança, pensativa. — Enfim, tenho muitas outras coisas para contar, mas não agora.

— Não se preocupe, se ele te magoar, nós o matamos e livramos do seu corpo em um rio qualquer, ou talvez pudéssemos usar ácido... — Acaricio meu queixo, tentando me lembrar como os assassinos ocultam corpos nos inúmeros casos criminais que já assisti.

Jessy cai na gargalhada, balançando a cabeça desacreditada.

Nick dobra o corredor e uma onda de alívio invade o meu corpo, agora eu me sinto ainda mais segura. Com os dois ao meu lado sinto que posso enfrentar mais um dia escolar. Ele se aproxima de nós duas com seu jeito despreocupado e os cabelos bagunçados, tão pretos como o de costume. A tatuagem do seu pescoço está à mostra e eu não sou capaz de desviar meus olhos de sua pele pálida, de repente um calor parace tomar conta do meu corpo.

Ele cumprimenta a Jessy e me lança um sorrisinho convencido, parecendo ciente dos meus pensamentos impuros e do efeito que sua presença tem sobre mim. Me sinto quase arrependida de ter concordado em não termos mais nada. E para piorar, eu sequer conseguirei transar com outro cara sem pensar nele, porque ninguém será capaz de me fazer sentir as coisas que ele me faz sentir. Jessy pigarreia e eu finalmente saio do meu transe, seguindo ao lado dos dois para a sala de aula, para a aula de sociologia, que a propósito detesto.

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