Capítulo LX

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Já é a décima vez que ligo para o Dominic e sou ignorada, uma parte de mim se sente profundamente irritada e uma outra pequena parte, aquela bem lá fundo, intuitiva, grita em meus ouvidos que algo está errado. Ele nunca agiu assim antes.

No decorrer das últimas semanas, ele mal trocou palavras comigo, toda vez que tentava me aproximar ele se esquivava e arranjava uma desculpa para me deixar falando sozinha, seja nos corredores ou na sala de aula. O fato de vê-lo online no whatsapp enquanto ignorava minhas mensagens estava me destruindo. E a pior parte disso tudo é não saber a razão da sua frieza, não saber o que eu fiz de errado. Nick conseguia ser imaturo nos níveis mais profundos. Isso me fez questionar diversas vezes se valia a pena insistir em uma relação assim, onde a comunicação é inexistente.

[...]

Seus olhos ainda permanecem focados em seu caderno, embora não esteja escrevendo nenhuma palavra sequer. Tudo para fugir do meu olhar, suspiro e balanço a cabeça, voltando a prestar atenção na aula, se é assim que ele quer agir, tudo bem, vou entrar no seu jogo infantil e imaturo. No intervalo, ele desapareceu rapidamente da sala, dessa vez, não faço questão de ir atrás. Aninho minha cabeça entre meus braços sobre a mesa e espero paciente o fim do intervalo. Jessy está em reunião com outros alunos para discutir sobre a festa de formatura que se aproxima rapidamente, então estou feliz de não ter que lidar com os seus questionamentos. Um ruído na cadeira na minha frente faz com que eu levante a cabeça assustada, por um momento pensei ser o Nick, mas é só o Theo com seus cachos bagunçados, ele parece ter tido uma péssima noite de sono, visto as suas olheiras escuras.

— O que está rolando entre você e o roqueiro? — encaro-o com o cenho franzido, não achei que ele estivesse prestando atenção nisso. Ele sempre foi tão lunático.

Sua antipatia por ele ainda não parece ter se extinguido totalmente e sinceramente, duvido que um dia os dois serão ótimos amigos inseparáveis, mas ficarei feliz apenas com o fato de eles não estarem mais tentando se matar o tempo todo.

— Eu vi que vocês nem estão mais juntos no intervalo e ele sequer olha para você — Ele ergue a sobrancelha desconfiado e eu suspiro, fugir dele é quase tão difícil quanto da Jessy. Suspiro e abaixo a cabeça, sem saber o que dizer.

— Beca, você sabe que merece mais e eu não estou falando de mim, antes que pense besteira...

Nossos olhares se encontram e eu engulo em seco, lembrando de como as coisas ficaram estranhas entre nós há um tempo atrás. Balanço a cabeça, espantando os pensamentos.

— Você sabe o que sinto por ele, Theo, não dá para simplesmente controlar isso.

Ele inspira e encara a parede atrás de mim, parecendo ponderar sobre algo.

— O que acha de irmos àquela boate hoje? Eu, você e a Jessy, como nos velhos tempo.

Seus olhos tem um brilho divertido, então eu sorrio para ele, inundada pelo sentimento nostálgico, fazem meses desde a última vez em que saímos nós três. Acho que tudo que preciso nesse momento é de um tempo com os meus melhores amigos.

[...]

Mal tenho tempo de abrir a porta e Jessy já está empurrando-a bruscamente, invadindo meu quarto como um furacão. Em seus braços ela carrega uma pilha de roupas e eu reviro os olhos já tentando prever quantas horas ela vai me fazer perder assistindo ao seu pequeno "desfile de moda" para que eu escolha qual lhe cai melhor. Meu ânimo para sair com meus amigos desapareceu de repente. Eu não consigo parar de pensar no Nick e nem em como ele está fodendo com a minha mente.

— E então? — Jessy pergunta, batendo o pé impaciente, ela claramente notou minha desatenção. Encaro o vestido azul justíssimo que está exibindo para que eu avalie. Embora não seja do meu gosto ele fica lindíssimo em seu corpo, então aceno em aprovação, mas a expressão irritada não some de seu rosto.

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