Capítulo VII

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Passamos pelo hall de entrada, seguindo até a cozinha e atravessamos a porta que dá para os fundos da casa. A água da piscina brilha sob os raios do sol escaldante dessa cidade, não fosse os irrigadores a grama estaria seca e morta. Jessy decide que vamos ensaiar no espaço gourmet que apesar da churrasqueira e da enorme mesa de madeira e cadeiras acolchoadas, tem espaço de sobra para todos nós. Theo aparece de repente, vindo de algum lugar de dentro da casa e me envolve em um abraço rápido. Noto que nossos dois outros colegas de grupo estão sentados no chão, Luana está abanando furiosamente um leque enquanto Nick está com os braços sobre os joelhos olhando distraidamente para a piscina. Ele está mais lindo que nunca, os cabelos escuros e lisos um pouco rebeldes, uma camisa de uma banda que não conheço, calça e tênis escuros.

Seus olhos encontram os meus e mal consigo controlar o tremor em meus joelhos. Céus! Como ele é lindo. Um pequeno sorriso surge em seus lábios, como um cumprimento.

— Oi — murmuro timidamente para todos. Luana gesticula um aceno com a mão.

— Não precisa se acanhar, Beca. Ele não vai te morder. — Theo debocha e sinto meu rosto arder, a vergonha me faz querer sumir, eu o fuzilo com os olhos controlando-me para não esbofetear esse garoto. Ele me devolve um sorriso travesso.

Luana e Nick encaram-me como se não tivesse entendido absolutamente nada, me sinto instantaneamente aliviada por não terem compreendido o que o idiota do meu amigo quis dizer com isso.

— Ãhn... O que acham de começarmos a ensaiar? — Jessy intervém, tentando mudar de assusto. Pelo menos ela tem o bom senso de não fazer piadinhas e me deixar ainda mais constrangida.

O ensaio foi confuso e com opiniões divergentes. Demoramos mais de meia hora para finalmente conseguirmos chegar a um acordo. Optamos por hip hop, não era um estilo muito fácil de se aprender a dançar, mas Theo insistiu tanto que todos concordamos apenas para que ele calasse a boca. Escolhemos uma música e ensaiamos os primeiros passos, tive que me controlar para não rir da falta de sincronia de Nick. Tínhamos um longo caminho pela frente graças a soberba de Theo em achar que é um dançarino profissional e que todos vão conseguir dançar um estilo tão complicado facilmente. Quando o sol está quase para dizer adeus nos sentamos no gramado e comemos os sanduíches que a cozinheira da casa preparou para nós. Em nenhum momento vi Natália, a mãe da Jessy, fazer parte do mundo da moda ocupa mais a sua mente do que ser presente na vida da filha, não consigo imaginar como deve ser solitário para Jessy desde que seu pai decidiu começar sua vida com outra mulher. Talvez nem ele suportasse a indiferença da esposa.

Jogamos conversa fora por um longo tempo, mas o fato de Nick não direcionar uma palavra sequer a mim estava me deixando mais do que incomodada. No colégio poderia até ser porque ele sempre estava acompanhado dos seus novos amigos que se vestiam de uma forma um tanto quanto peculiar, no entanto, não há motivos para ele não conversar comigo agora.

— Terra chamando Rebeca — A voz risonha de Luana me tira dos meus pensamentos e me faz ficar ainda mais ruborizada. Notando minha total falta de atenção ela repete: - Quais são seus planos para a faculdade?

— Bem... ainda não sei bem, talvez faça administração de empresas para seguir os passos do meu pai. — Dou de ombros encarando o céu azul-alaranjado.

— Que coisa mais chata. — Nick resmunga e não consigo decifrar se foi deboche ou brincadeira. Sua expressão é enigmática.

— E você Dominic? Montar uma banda de rock? — A voz fria e sarcástica de Theo o questiona, não fazendo a menor questão de disfarçar sua antipatia.

Nick parece notar, abre um sorrisinho de lado mantendo sempre a sua pose superior. Antes de responder ele tateia o bolso de sua calça pegando um cigarro de seu maço, logo em seguida levando à boca e acendendo com seu isqueiro prateado. Seus lábios dão uma longa tragada e então, ele solta a fumaça na direção de um Theo muito irritado, que abana a mão na frente de seu rosto tentando dissipar a névoa que se formou ao seu redor. Sinto uma vontade imensa de rir, mas me controlo. Sei que a partir de hoje, uma rixa se iniciou entre eles.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora