Consequências

Capítulo LXVI

Uma música alta toca no rádio enquanto Nick e eu cantarolamos no mesmo tom. É save your tears do the weeknd, uma parte minha se sente feliz que tenhamos essa sintonia, como se nos conhecêssemos há anos. Não está tão tarde, então o trânsito está um tanto quanto caótico, levando um tempo considerável para finalmente chegarmos ao seu apartamento.

Quando a porta se fecha atrás de nós mal tenho tempo de fazer qualquer coisa, seus braços já estão envoltos ao redor do meu corpo, possessivamente. Com a respiração entrecortada ele encosta sua testa na minha.

— Senti tanto a sua falta, tive medo de que nunca me perdoasse — Seu tom é quase de desespero.

Sorrio contra sua boca, quase colada à minha.

— Você sabe que não consigo ficar longe de você.

Com um beijo casto em meus lábios ele se afasta, ainda que relutante.

— Vou pegar algo para bebermos, temos que comemorar o fim desse inferno escolar.

Sorrio para ele, que me lança uma piscadela divertida antes de se mover para sua adega. Suspiro e lanço um rápido olhar para a sua sala desorganizada, me demorando no chão próximo ao seu sofá, onde o vi convulsionar. Com um gosto amargo na boca, espanto as lembranças assustadoras da minha cabeça e caminho para um lugar onde eu possa respirar com mais facilidade.

A vista da sua sacada é linda, a lua brilha bem alto no céu e o barulho da cidade ainda está consideravelmente irritante, então presumo que ainda nem seja meia noite. Aprecio a vista enquanto Nick ainda procura algo em sua adega, apenas ouço seus ruídos. A brisa me faz fechar os olhos por um momento, deixo-a acariciar o meu rosto com leveza. Enquanto isso, tento acalmar minhas preocupações internas, é estranho saber que as coisas mudarão completamente daqui para frente, que não encontrarei meus amigos todos os dias, nem terei que lidar com as tagarelices da Jessy sobre coisas fúteis. De agora em diante, são as obrigações, estudos e trabalho que ocuparão o nosso tempo e talvez, com sorte, possamos ter um pequeno tempo para nos recontrarmos algumas vezes no ano. Tudo muda na vida adulta, a liberdade que tanto desejamos na infância e adolescência é completamente ilusória. 

— Minha mãe quer que eu vá para uma clínica de reabilitação — Me sobressalto com sua voz atrás de mim.

Suspiro e me viro para encará-lo, ele estende um copo para mim e em seguida, se recosta contra o parapeito da varanda, o olhar vazio não me permite decifrar seus pensamentos. Antes de respondê-lo bebo o líquido de uma só vez, franzindo o cenho para a queimação que se estende pelo meu esôfago. Deixo o copo em cima da pequena mesa rodeada de cadeiras estofadas com estampa florais, cuja as quais nunca vi Nick sentado, ele não parece ser do tipo que gosta de sentar em uma varanda no final da tarde para apreciar o pôr do sol. Deixo esses pesamentos de lado e o encaro.

— Acho que pode ser bom, porque você... 

— Não é como se eu fosse um viciado, Rebeca! — Ele me interrompe elevando notavelmente o seu tom. Depois de perceber sua grosseria, ele suspira e desvia o olhar.

Comprimo os lábios, tentando não transparecer minha insatisfação. Teimoso como o de costume.

— Mas isso aconteceu mais de uma vez, você pode não ter a sorte de ser salvo por alguém na próxima — murmuro cuidadosa, certa de que sua reação não será das mais amigáveis. Mas o que se precede me deixa surpresa.

Sua mão direita agarra minha nuca com delicadeza, me incentivando a encarar seus olhos escuros e profundos, a tristeza é notória em sua expressão, embora ele se esforce para escondê-la.

— Não vai ter próxima vez, eu fiz uma promessa a você e pretendo cumprí-la.

Embora a determinação esteja em seu rosto e em sua voz, ainda não me sinto segura de suas palavras, quero acreditar que ele não usará mais essas porcarias, mas quem pode garantir que ele conseguirá manter sua promessa na próxima crise? Ou quando seu pai lhe fizer mais um de seus insultos? Nick sempre buscou refúgio nas coisas e lugares errados, não acredito que isso seja um comportamento tão simples de ser mudado. Mas por ora, quero acreditar que tudo ficará bem.

Ainda com o copo em sua mão esquerda, ele toma um longo gole e se aproxima um pouco mais, colocando meu cabelo para trás usando a sua direita, deixando meu pescoço livre para que seus lábios o toque, sua língua fria desperta uma onda de calafrio pelo meu corpo e instintivamente agarro sua lapela, puxo-o para um pouco mais perto, até não haver mais espaço entre os nossos corpos.

Lentamente me permito ser levada por suas carícias, inspiro profundamente o cheiro delicioso que exala do seu pescoço, posso identificar uma suave nota cítrica. Sua mão leva o copo até a mesa antes de me pegar em seu colo, me fazendo soltar um pequeno grito de surpresa. Seus lábios se colam aos meus com fervor enquanto nos guia para o seu sofá, me fazendo sentar sobre suas coxas. Ele afasta seu rosto, porém seus olhos se mantém concentrados nos meus. E por um momento, apenas um pequeno momento, ele deixa transparecer toda a sua adoração, quase como se estivesse me mantendo em um pedestal, nesse momento, tenho a plena confirmação de que seus sentimentos são tão profundos quanto os seus. Permanecemos assim por um pouco de tempo, como se só existisse nós no mundo inteiro. Não demora muito para que sua mão se mova até os cabelos da minha nuca, agarrando-os possessivamente, fazendo o meu corpo se inclinar para ele, enquanto meu pescoço fica livre para receber, mais uma vez, a sua língua pela minha pele. Com uma certa pressa nós arrancamos as roupas um do outro, desesperados para sentir nossa pele uma contra a outra. Me esfrego contra a sua ereção e ele geme em resposta, minha nítida agonia para senti-lo logo o faz soltar uma pequena risada.

Suas mãos me tiram delicamente de cima do seu colo, então ele se levanta e posso ter uma visão perfeita de sua bunda nua enquanto ele caminha em direção ao seu quarto para pegar um preservativo. Não demora muito para que ele volte, seus olhos intensos apreciam meu corpo enquanto se aproxima novamente com um sorriso malicioso em seus lábios.

Firmemente ele me puxa para o seu colo e eu não posso evitar de soltar um grito de surpresa, sem se controlar, sua boca envolve meu seio com afinco. Cravo minhas unhas em seus braços e ergo a cabeça, com os olhos fechados aprecio o seu gesto. Seguro seu pau pela base e então deslizo lentamente sobre ele, me delicio com o grunhido que sai de sua garganta enquanto me preenche por completo. Suas mãos agarram meu quadril, me ajudando a pressioná-lo ainda mais forte contra o seu.

[...]

Deitada em seus peito, encaro a fraca luz do luar atravessando o fino tecido da sua cortina, iluminando o chão da sua sala. Nós não voltamos para a festa como era o planejado, mas eu não poderia desejar estar em um lugar melhor do que esse. Seu peito sobe e desce lentamente, seu sono é profundo, enquanto a insônia me flagela. Tudo o que consigo é deixar os pensamentos inudarem minha mente.

[...]

Eu não tenho certeza e menos ainda respostas sobre um monte de coisas. Nunca soube o que meu pai ofereceu ao Theo para que ele me delatasse; não sei quanto tempo de fato Eduardo ficará preso depois de sua ridícula sentença de dez anos, embora no fundo eu saiba que em breve ele estará solto, é assim que as coisas funcionam quando se tem dinheiro e influência. Se ele virá atrás de mim para se vingar, só com o tempo saberei. Espero estar bem longe daqui quando isso acontecer e acima de tudo, espero que ele não faça nenhuma outra vítima. Nick está se esforçando para cumprir sua promessa de se manter longe das drogas, embora ele ainda fume seus cigarros. Bem, dos males, o menor. Seu pai continua irredutível e indiferente ao próprio filho, eu não acho que isso seja algo que irá mudar tão cedo. Nick também não parece muito interessado em se aproximar dele, então os dois continuam suportando a presença um do outro, eu esperava de todo o meu coração que tudo o que aconteceu, de alguma forma, amolecesse o coração de Raul, mas é como sempre dizem, na vida real não existem finais felizes, pelo menos não pela eternidade. Então tive que aceitar que eu não estava no controle de tudo, haviam coisas que eu não poderia mudar. E apesar de tudo isso, esse era só o começo de uma longa e incrível jornada que seria a minha vida.

FIM.

♡♡♡

Peço mil desculpas pela enorme demora, como eu já havia dito não estava muito bem, a depressão tem me deixado bem desanimada. Enfim, quero deixar meu agradecimento para quem leu até aqui, é uma história bem clichezinha que escrevi apenas como um passatempo e fico muito feliz que alguém tenha gostado dessa merda. Deixei algumas coisas em aberto porque pretendo escrever uma continuação, aprofundando mais em diversas questões importantes que abordei de forma leve nesse livro.

Revisão em breve.

Mais uma vez, muito obrigada pela leitura.