Capítulo LIII

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Theo desvia o seu olhar para algum ponto atrás de mim, pensativo e nitidamente angustiado. Eu, por outro lado, permaneço encarando-o, esperando por uma resposta. Ainda em um misto de raiva, preocupação e curiosidade.

— Não me obriga a falar, isso é coisa pessoal — suplica, com pesar. — Olha... eu pensei por muitos meses antes de falar com você.

Ele dá uma pausa. Longa até demais, o que me faz até pensar que ele não irá dizer mais nada, mas quando estou prestes a ceder à minha impaciência ele finalmente continua.

— Eu contei para o Dominic apenas uma parte da história, não contei a parte que foi eu que disse para o se pai sobre vocês.

Engulo em seco, sentindo a apreensão me invadir. Theo nunca foi de fazer cerimônia comigo, sempre fomos abertos um com outro, então seu comportamento é no  mínimo estranho.

— Qual... qual foi a p-parte que você não contou? — Algo dentro de mim não pressente boa coisa.

Ele se vira de costas e passeia as mãos pelos cabelos com fúria, olhando-o assim, parece até o Nick, com a mesma mania. Depois do que parece ser uma longa batalha interna ele se vira novamente para mim, com uma certa timidez em seu olhar.

— Que eu... porra, Rebeca, estava me apaixonando por você.

Prendo minha respiração por um instante, aturdida com sua revelação. As palavras ressoam no ambiente, mas não parecem fazer sentido, não se tratando dele. Do meu melhor amigo.

— E-eu...

Theo é meu melhor amigo desde a infância, seu sentimento por mim não é algo fácil de assimilar, principalmente porque eu nunca havia percebido em que ponto da nossa longa convivência seus olhos começaram a me observar de outra perspectiva. Sempre acreditei que seu ciúme em relação ao Dominic fosse uma proteção fraternal.

— Não diz nada por favor, de qualquer maneira, eu nunca poderia competir com ele — Theo desvia o olhar. — Mas não se preocupe, eu aprendi a lidar com isso.

— Mas... mas e a Ana Paula? — pergunto mecanicamente, ainda incrédula.

— Bem, eu estava realmente tentando me interessar por alguma garota — responde, frustrado — Eu só percebi o que realmente estava começando a sentir quando percebi que estava rolando algo entre vocês dois.

— E-então foi por isso que se afastou?

— Sim eu precisava colocar a cabeça no lugar, me lembrar de que somos amigos de infância e eu não podia estragar isso e... bem, funcionou, mas não foi só por isso, como eu poderia olhar para você quando eu estava contando para o seu pai tudo o que eu via?

Ele solta um longo suspiro antes de voltar a se sentar na cama, encarando o chão com desinteresse. Ainda sinto uma profunda raiva por ele, imaginar que o meu próprio amigo estava me espionando e contando tudo para o meu pai, não é algo fácil de assimilar, ainda mais pelo fato de ele não querer me contar seus motivos. Embora seja minha maior vontade, não vou pressioná-lo a me dizer. Não agora.

— Não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós.

Balanço a cabeça, ainda atordoada com essa nova informação. Lentamente me movo em sua direção, sentando-me ao seu lado deito minha cabeça em seu ombro e agarro sua mão carinhosamente, entrelaçando nossos dedos.

— Sabe o que eu acho? — sussurro. — Que na verdade, você só não queria dividir minha atenção com o Dominic, você o odeia e sempre o viu como um inimigo, qual é, Theo, lembra aquela vez em que tentamos nos beijar? Foi horrível.

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