Capítulo I

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Estamos no fim de janeiro, o que significa que o fim das férias também se aproxima e isso não me deixa nada animada, conhecer novos alunos, lidar com os antigos, pensar na faculdade e ainda lidar com a bagunça que é a minha cabeça não é lá um trabalho muito fácil, ainda mais para alguém como eu que se sente absolutamente perdida no mundo, acho que a vida poderia ser um pouco menos complicada, ou talvez seja eu que a complique.

Hoje finalmente meus pais e eu voltaremos para casa, depois de passar quase um mês no México, era o sonho da minha mãe conhecer o país, eu até que me diverti, considerando que eu passei boa parte dos meus dias aqui conversando com meus dois melhores amigos por videochamada, Jessy e Theo, nós não conseguimos ficar muito tempo sem nos falarmos, é uma amizade que vem desde o jardim de infância, nossos pais são amigos e sempre marcam festas e reuniões casuais, o que consequentemente gerou um laço quase familiar entre nossas famílias.

— Rebeca já estamos indo, se apresse meu amor — Minha mãe grita atrás da porta que eu sempre faço questão de trancar, tenho o costume de ficar apenas de roupas íntimas, isso me deixa mais confortável. Visto uma roupa rapidamente.

— Já estou indo — resmungo fechando a tela do notebook e colocando-o debaixo do braço.

Destranco a porta e minha mãe está encostada na parede junto a porta com uma expressão meio enfurecida, aproximo-me lentamente.

— Algum problema, mãe? — pergunto cuidadosa, temendo ser eu a responsável por seu súbito mau humor.

— Sim, seu pai, ele sempre é o problema — Fico mentalmente aliviada, é só mais uma das birras que minha mãe faz quando meu pai não cede a algum de seus caprichos, às vezes ela parece mais adolescente do que eu.

— O que o papai fez agora? Não quis te comprar uma bolsa? — indago num tom de brincadeira.

Ela me olha e sua expressão se torna ainda mais irritada. — Não fale assim com sua mãe, garota, o que acha que sou? Uma mulher fútil que só pensa em bens materiais?

Levanto as mãos em sinal de defesa.

— Eu não disse nada.

Seus olhos se estreitam e ela suspira. —Tudo bem, ele não quis que ficássemos mais uma semana aqui, queria aproveitar um pouco mais, o spa daqui é maravilhoso.

Reprimo minha vontade de rir, eu sabia que era algum capricho, é sempre assim, ela sempre se contraria quando não consegue o quer do meu pai. Manha não é algo que combine com uma mulher de quarenta e dois anos.

Meu pai aparece no corredor com os dedos apontados para o relógio em seu pulso. —Alice e Rebeca, o que estão fazendo? O voo sai daqui uma hora, vou deixá-las para trás se demorarem mais.

— Não seja rabugento Carlos, acho que deveríamos ficar um pouco mais de tempo — Mamãe resmunga cruzando os braços.

— Alice, nós já conversamos sobre isso, preciso voltar ao trabalho e Rebeca às aulas — Ele esfrega a mão na testa com a expressão meio impaciente.

Meu pai parece mais cansado do que quando chegamos aqui, deve ser porque ele não parou de atender ligações importantes, a justificativa dele é que ser diretor de uma empresa não dá oportunidades para descanso, ele poderia simplesmente desligar o celular, é o que minha mãe vive dizendo, mas afastá-lo de seu trabalho é realmente uma tarefa impossível.

Embarcamos no avião depois de meia hora de atraso, estou começando a ficar um pouco mais ansiosa por saber que logo irei rever meus amigos e pelo novo ano escolar que se inicia. Minha mãe conseguiu convencer meu pai a fazer uma festa para revermos parentes e amigos, já que não passamos as festas de fim de ano junto. Achei um exagero, não é como se tivéssemos ficado um longo tempo fora. Mas eu não me arrisco a opinar de forma alguma, vê-la irritada é a última coisa que quero.

A viagem de volta para o Brasil será longa, nove horas, para ser mais precisa. Então como uma maneira de me distrair sempre tenho em mãos um livro que Theo me deu, romance policial, não é bem o meu gênero favorito, tanto que estou a três meses tentando lê-lo, pelas minhas contas devo estar na página dez das trezentas e sete.

Pronta para finalmente passar para a décima primeira página algo me fez parar, uma fotografia que pensava ter jogado fora estava entre as páginas. Respirei fundo e a peguei, era a foto de um casal supostamente feliz e que tinha o mundo a descobrir juntos, tudo mentira. Naquela época, eu achava que os meus sentimentos eram suficientes para que tudo desse certo. Quanta Ilusão!

Meu ex namorado, Eduardo, o garoto por quem eu achava estar perdidamente apaixonada me traiu com umas de minhas "amigas" na época, me doeu mais do que qualquer coisa, eu tentei por muito tempo entender onde errei, mas um dia me toquei que algumas pessoas simplesmente não merecem nosso amor, dedicação ou o que for. Passo rapidamente minha mão pelo meu rosto para limpar a maldita lágrima que deixei escapar, amasso a foto com toda a minha força, pronta para esquecer o passado e enfrentar tudo o que me espera nesse novo ano.


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