Capítulo XXXI

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"Tudo o que fazemos é pensar nos sentimentos escondidos." - drive

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- N-nada, eu não disse nada - respondo rapidamente. - Vamos dançar.

Agarro seu braço e puxo-a em direção a pista de dança, mas ela se mantém estática, com os olhos arregalados.

- Não, Rebeca, me explica agora essa história - Sua mão me puxa, me forçando a encará-la. - Como assim se droga? De onde você tirou essa informação?

Suspiro, enquanto pressiono minhas têmporas, agoaniada e arrependida por não ser capaz de controlar a minha própria boca. Se Nick já está irritado comigo, imagina só o que acontecerá se descobrir que contei à Jessy algo que ele ordenou para que eu não me intrometesse.

- Naquela festa na casa do Felipe, depois que o Nick ganhou um soco do Nataniel eu fui ajudá-lo a se limpar no banheiro...

- Vá direto ao ponto, Rebeca - insiste, impaciente.

- Ok, ok, se acalme - balanço minhas mãos nervosamente. - Eu fui procurar um analgésico na gaveta embaixo da pia e acabei encontrando anfetaminas.

Ainda aturdida ela parece tentar ponderar, desviando os olhos como se se concentrasse em formular uma explicação sensata. Era óbvio que ela se negaria a acreditar.

- Você sabe que anfetaminas são usadas em remédio de emagrecimento ou para tratar tdah. - Ela argumenta, me deixa surpresa que tenha prestado atenção às aulas.

- Felipe não é obeso e duvido muito que tenha déficit de atenção, ele teria te dito - retruco. - E anfetaminas não são mais permitidas no Brasil, então a única razão para ele ter isso em casa é porque se droga.

- Talvez ele tenha déficit e tenha esquecido de me contar, merda. - Ela coloca a mão na testa, ainda buscando explicações.

- Chega, Jessy! - Me exalto, cansada de suas vãs justificativas. - Para de bancar a inocente, no frasco estava simplesmente escrito amphetamine, se fosse remédio não acha que teria um nome? E eu acabei de dizer que são proibidas.

Um longo silêncio paira entre nós, mergulhadas profundamente em nossos próprios pensamentos confusos, não prestando atenção a batida alta da música eletrônica de fundo. Eu queria poder lhe dizer algo que a deixasse menos perplexa, mas ela parece concentrada em digerir sua nova e chocante descoberta.

- E-eu, eu preciso falar com ele - Seus olhos revelam um leve brilho quando ela pronuncia a frase, deixando nítido a sua vontade de chorar. - Isso é muito grave.

Ela deixa sua taça sobre a bandeja do garçom que se aproximou oferecendo mais champanhe; e se move para a saída do espaço. Corro sobre meus saltos na tentativa de impedi-la, agarro seu braço antes que ela a alcance.

- Espera! Você mesma disse que não queria falar com ele e agora vai atrás? - questiono indignada.

Seus lábios se entreabrem e Jessy me analisa com perplexidade, como se não acreditasse nas minhas palavras.

- Diferente de você eu sinto empatia pelas pessoas. - Ela solta, tão irritada que suas bochechas parecem mais rosadas que o habitual.

Digiro suas palavras como se levasse um soco no estômago. Balanço a cabeça, profundamente magoada, ela mais do que ninguém sabe como me dedico aos menos afortunados e ouvi-la dizer que eu não tenho empatia, é realmente doloroso.

- Não faça essa cara, você sabe que não são só os pobres que precisam de ajuda. - Ela continua. - Não adianta alimentar alguém que nem conhece quando sequer se importa com os sentimentos de uma pessoa próxima.

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