Capítulo XLVI

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Dominic

Uma dor martelava violentamente a minha cabeça, a bebida e todas as merdas que usei na noite passada ainda pareciam estar em efeito no meu corpo. Não estava com ânimo para ir à aula, mas eu já havia sido suspenso por uma semana e me atrasei nas matérias, não poderia correr o risco de reprovar e dar ao meu pai o gostinho de me humilhar como fez no último ano. Sem contar que precisava focar no meu futuro para não depender mais dele, não existe nada pior que depender de uma pessoa. Elas sempre encontrarão uma maneira de lembrá-lo disso.

Me levanto contra minha vontade, tudo que desejo nesse momento é passar o resto do meu dia deitado, então, contra a minha verdadeira vontade, alcanço o frasco em cima do meu criado mudo, engolindo em seco a anfetamina. Era a única maneira de me manter acordado, embora seu efeito em meu corpo já não fosse como antes, o que me obrigava a tomar doses maiores. Mas hoje decidi que não cederia à tentação de ingerir mais um comprimido.

[...]

Encarei seu armário sentindo um misto de decepção e incômodo por não vê-la nele. Rebeca sempre chegava primeiro que eu, e eu adorava a forma como ela me encarava enquanto me aproximava, queimando de desejo tanto quanto eu. A tensão sexual entre nós era palpável. Então me encostei em seu armário e esperei por ela, pelo o que o pareceu ser uma eternidade até finalmente vê-la dobrar o corredor. Dessa vez, seus olhos não encaram os meus, ela se aproxima do armário fitando o chão e ignorando a minha presença. 

— Hey, garotinha — lanço um sorriso para ela, mas não me devolve.

Ela estende sua mão, mantendo uma expressão séria e distante. Agarro o envelope que me entrega sem prestar muita atenção nele. Tudo o que importa no momento é a razão pela qual está agindo tão friamente comigo. Estava tudo bem até ontem, então não entendo sua atitude.

— Eu preferia retirar o convite, mas ele já estava pronto — Suas palavras me atingem duramente. — É para o meu aniversário.

Limpo a garganta, tentando não parecer abalado com sua ofensa.

— Como assim? Seu pai não quer que eu pise os pés em sua casa.

— Ele quer conhecê-lo melhor e, talvez, reconsiderar a opinião que tem sobre você — Fala enquanto rapidamente pega seus livros no armário, fechando-o ruidosamente em seguida. Então ela começa a se mover em direção a nossa sala.

— Ei! — agarro seu braço, impedindo-a de se afastar de mim. — O que aconteceu?

— Nada, pode me soltar, por favor? — Ela não me olha e eu sinto o incômodo me invadir. Droga de garota conplicada.

Ela se desvencilha do meu aperto em seu pulso, então tudo o que me resta fazer é deixá-la ir. Que porra eu fiz agora?

No intervalo fui para o meu lugar de refúgio, o que era uma merda de ideia, porque isso me lembrava a primeira vez que nós dois trocamos palavras. Eu queria esfriar a cabeça, mas eu acabei ficando ainda mais atormentado. Ao toque do sinal, lentamente me movo de volta para a sala de aula, ainda restam três aulas e eu estou a um triz de me levantar e ir embora. Minha cabeça ainda lateja e nada do que todas essas merdas de professores falam parece fazer sentido. Mais uma vez estou exagerando em meus remédios. Fazem seis meses que parei de fazer acompanhamento psicológico e sinto que tenho tido uma piora em meu estado. Minha psicóloga disse algo uma vez que ainda martela em minha mente toda vez que recebo e ignoro uma ligação de seu consultório. Ela disse algo como: cuidados tanto da nossa saúde física, pelo menos a maioria das pessoas, mas ignoramos completamente os pedidos de socorro da nossa mente. E isso nunca pareceu tão verdadeiro quanto agora, somos quase todos assim, relapsos. Rebeca sequer seguiu o conselho da enfermeira da escola sobre cuidar melhor dos seus problemas com a ansiedade. E eu estaria sendo hipócrita se a julgasse sobre isso.

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