Capítulo XXX

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Queria poder dizer que estou lidando bem com essa situação, mas essa seria uma grande mentira. Estou enlouquecendo e não sei quanto tempo vou conseguir manter tantas mentiras.

Estava na porta da casa do Eduardo, embora seja o último lugar em que queria estar, não tinha muitas escolhas, ou eu teria que lidar com a reação catastrófica que meu pai teria quando descobrisse sobre meu envolvimento muito íntimo com o Nick.

- Obrigado por ter vindo, Beca - cumprimenta, se aproximando para depositar um beijo em meu rosto, prontamente desvio.

Seus lábios se apertam e ele abre passagem para que eu entre.

- Não é como se eu tivesse tido uma escolha - respondo ácida.

- Não faça essa cara, tenho certeza de que vai adorar.

Eduardo me guia até a cozinha, onde uma pequena cozinheira prepara agilmente algum tipo de massa em suas mãos magras e pálidas, enquanto um aroma muito agradável invade minhas narinas.

A cozinha permanece exatamente como da última vez em que estive aqui, enquanto ainda era namorada dele. As cores pastéis dos azulejos trazem uma vaga lembrança dos bons e divertidos momentos que tivemos nesse ambiente, enquanto fazíamos minha receita preferida, brownie. Mas isso é algo que desejo intensamente esquecer.

Assim que nos sentamos na mesa a mulher se aproxima com uma bandeja prateada nas mãos, deixando-a na minha frente e rapidamente se afastando. Eduardo me encara, como se estivesse ordenando que eu provasse.

Brownie. Ele sabe o quanto amo, certamente está tentando apelar para minhas memórias.

Suspiro e levo o pequeno retângulo à boca, sentindo o suave sabor do chocolate. Está delicioso. Mas não irei dar o gostinho de satisfação a ele. Deposito o pedaço restante no prato, forçando uma expressão de desagrado, e então levanto meu olhar gélido em sua direção.

- O que achou? - pergunta esperançoso.

- É comível - seu sorriso murcha lentamente. - Me obrigou a vir aqui só para isso?

Eduardo suspira e balança a cabeça negativamente, sua mão faz um singelo sinal para a cozinheira, que rapidamente nos deixa a sós.

- Achei que isso faria você perceber que não me esqueci dos seus gostos. - seus lábios se curvam em um sorriso. - Mas tudo bem, o que quero te dar é algo que será impossível não gostar.

Franzo a testa sem entender exatamente ao que se refere.

Ele se levanta e puxa uma pequena caixinha de seu bolso dianteiro, um sorriso convencido permanece todo o tempo em seu rosto. Então, estende para mim e eu agarro hesitante e desconfiada.

Mesmo que eu esteja lutando para parecer indiferente aos seus esforços, é impossível não me surpreender com o que vejo ao desfazer delicadamente o laço que prende a tampa da caixa de cor azul escuro.

As pequenas pedras negras brilham sob a luz do ambiente, ao lado de cinco pingentes, cinco pequenos querubins.

É uma pulseira. Uma pulseira fodidamente cara.

Ele sabia o quanto eu desejava essa pulseira, porque pertence a uma coleção exclusiva e limitada, ou seja, existiam apenas três peças, e eu não havia conseguido comprá-la a tempo. Eduardo sabia o quanto eu a queria.

Levanto meu olhar para encara-lo, ainda aturdida, um enorme sorriso estampa seus lábios, completamente presunçoso.

Levo alguns segundos para, finalmente, conseguir dizer algo.

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