Consequências

Capítulo LXV

Eu visitei o Nick três vezes durante as duas semanas em que ele permaneceu internado, em seu olho esquerdo foi colocado um tampão por causa do derrame ocular que ele sofreu, estava horrível e ele preferiu escondê-lo até que se recuperasse. Seu fígado também sofreu lesões causadas por sua overdose e lembro de ouvir o médico dizer à sua mãe sobre o comprometimento do nervo periférico do seu braço esquerdo, o que diminuiria consideravelmente a sua sensibilidade sensorial. Estava profundamente aliviada que não foram consequências tão graves, mas de qualquer forma, Dominic nem parecia se importar. Nós também não voltamos a falar sobre nós dois, nosso relacionamento. Eu evitava a todo custo esse assunto, mesmo quando Nick parecia angustiado para que eu o ouvisse, o fato de ele quase ter morrido me causava remorso, mas essa foi uma escolha ruim dele, não minha. Permanecer com alguém por medo de que ela faça alguma besteira não é certo. Eu o amo profundamente, mas definitivamente acho que precisamos de um tempo para refletirmos, para olharmos a situação de uma outra perspectiva. E só então termos certeza do que será disso. E pelo que soube ele foi liberado da obrigação de fazer as provas finais, suas notas eram relativamente boas então ele poderia concluir o ensino médio, imagino que ele tenha se sentido aliviado. Enquanto o resto de nós sofremos na longa e exaustiva semana de provas.

 [...]

O corpete do vestido incomoda e eu mentalmente xingo os alunos do conselho estudantil pela escolha idiota de tema, quero dizer, baile? Em que século eles acham que estamos? Tudo bem, sei que já reclamei demais sobre isso, mas é inevitável. Encarando-me no espelho, a cor vinho até que me cai bem. Meu cabelo e maquiagem já estão prontos, minha mãe fez questão de que eu fosse a um bom salão para fazê-los, eu não queria, já que ir à essa festa era a última coisa que eu desejava, mas contrariá-la é quase como provocar um tsunami. Então apenas forcei uma cara feliz e a obedeci. 

As luzes brilhantes me deixam momentaneamente cega quando adentro o caótico salão de festa, a decoração remete a um baile vitoriano. Lustre enorme pendurados e flores, muitas flores, de cores claras, colocadas cuidadosamente em vasos dourados. Todas as garotas estão em seus impecáveis vestidos de gala, quase todas acompanhadas de seus elegantes parceiros, e eu mal posso notar os alunos que estão desacompanhados. Poucos são os "fracassados" da festa, ao menos era assim que Jessy os definia quando assistíamos filmes clichês adolescente. Perco um longo tempo comendo os aperitivos da mesa de buffet, afinal, o que é melhor nessa vida do que comer? Pelo menos assim posso ocupar minha mente para não ceder à frustração de estar sozinha. Luana, que está acompanhada de uma outra garota, faz um sinal para mim no meio dos corpos dançantes, franzo o cenho, mas a sigo. Ela caminha em direção ao banheiro feminino e logo a alcanço. 

Luana sorri para mim e se recosta contra a pia, cruzando os braços sobre o peito enquanto lança um olhar sugestivo para a garota loira. Perco alguns segundos encarando seu vestido verde escuro, com uma longa e sensual fenda em sua perna direita. Ela está divina.

— Essa festa está um porre — Ela estende sua mão para a garota que, só agora, percebo que está carregando uma bolsa debaixo do braço. Ela retira dois cantis de bebida e os entrega para Luana, que me encara com um olhar divertido e desafiador. — Pegue, acho que você também está precisando.

Sorrio e aceito o cantil sem titubear, abrindo a tampa e dando um longo gole. Vodca, forte e quase intragável ao meu paladar fraco, mas resisto à vontade de tossir. Eu preciso de algo para aguentar essa festa e uma bebida forte parece o ideal.

— Está tudo bem com o seu bad boy? — Sua expressão agora é quase pesarosa, inspiro fundo, a overdose do Dominic não é segredo para ninguém desse colégio. Ela sempre gostou do Nick e de seu estilo, embora os dois nunca tenham sido tão próximos. Então tenho certeza de que sua preocupação é genuína.