Capítulo XIII

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Por um longo tempo deixo suas palavras pairarem no ar, sem sequer olha-lo ou responde-lo. Ainda me sinto enraivecida com tudo que tive que lidar essa noite.

- Não deixe que essa garota estrague sua noite - Encaro seus olhos, tentando entender o porquê de ele achar que estou assim por causa dela, ela não tem culpa. Nick é que agiu estupidamente ao me trazer a esse lugar.

- Eu não me importo com ela. - murmuro, ainda encarando a paisagem.

- Então por que está aqui e não lá dentro? - arqueia a sobrancelha com um sorrisinho debochado.

Suspiro e desvio novamente os meus olhos.

- Não estou afim de ouvir detalhes sobre a vida sexual do Dominic, mas parece que todos resolveram falar sobre isso.

Ele solta uma gargalhada.

- Entendi, ciúmes - A raiva se apodera lentamente do meu corpo, antes que eu tenha tempo de dizer qualquer coisa ele se levanta.

- Vem, quer beber comigo? - pergunta estendendo sua mão para mim.

Relutante assinto com a cabeça e o sigo. Sentada no banco do bar, ao lado de um completo desconhecido, reflito sobre o porquê de o Dominic me trazer aqui, enquanto observo ele sentado ao longe, no lounge, olhando distraidamente para um ponto qualquer. A inquietude da minha companhia chama minha atenção.

- Eu costumo ser bem direto, então vou dizer logo. - Seus olhos vagueiam pelo ambiente, como se procurasse por algo, então se vira novamente para mim. - Eu te achei linda e uma garota incrível, posso te beijar?

Abro a boca surpresa, isso realmente me pegou desprevenida, balanço a cabeça positivamente ainda atordoada, não posso negar o fato de ele ser muito atraente, os olhos verdes contrastando perfeitamente com seus cabelos escuros.

Ele se aproxima lentamente e instantaneamente um nó se forma em meu estômago, ainda indecisa sobre isso. No entanto, não o impeço. Seus lábios finos e gélidos se encaixam perfeitamente aos meus em um beijo lento e calmo.

Um pigarreio faz com que eu me afaste de seus lábios, assustada.

- Estou interrompendo o casal? - Dominic nos encara com um olhar sombrio, o que me faz querer saber o que se passa em sua cabeça nesse momento.

- O que você acha? - Ironiza Nataniel, claramente irritado com sua inconveniência.

- Posso falar com você, Rebeca? - Nick pergunta, ignorando completamente a resposta de seu amigo.

Encaro Nataniel sentindo-me completamente desconfortável com a situação, ele parece um pouco surpreso com a ideia de eu estar cogitando aceitar, quase como se estivesse ofendido.

- Vem. - Ele insiste, agarrando meu braço delicadamente, me incentivando a acompanha-lo.

- Às vezes você é um imbecil. - Vocifera Nataniel atrás de nós.

Fora do estabelecimento e de toda barulheira Nick se encosta na parede ao lado da entrada, cruzando os braços enquanto seus olhos castanhos profundos parecem sondar o meu mais secreto íntimo.

- Você... Quero dizer, está rolando alguma coisa entre vocês?

- Isso não é da sua conta. - Digo, aproveitando a oportunidade perfeita para mostrar-lhe que sou indiferente a ele, mas eu sei bem a verdade. - Mais alguma coisa?

Seus lábios se entreabrem, surpreso. Irritação parece passar por seus olhos, mas ele trata rapidamente de esconder.

- Na verdade, só quero me desculpar por aquilo, ela e eu... - Suas mãos passam nervosamente pelos seus cabelos desgrenhados. - Nós não estamos ficando, não mais.

- Você não me deve explicações, Dominic.

- Caralho Rebeca, ainda insiste em me chamar assim? - suspira irritado. - Tenho a impressão que me chama pelo nome quando está com raiva de mim, odeio isso.

Me remexo desconfortável, ele notou.

- Não estou com raiva de você.

- Não está?

- Não seja convencido, não é só porque me deu um fora que significa que vou ficar como uma cadelinha atrás de você. - Retruco e dou-lhe as costas seguindo em direção a porta.

- Que porra de garota difícil. - posso ouvir seu baixo praguejar assim que me afasto de sua presença.

Pela terceira vez passo pela entrada do bar, as pessoas devem estar se perguntando se tenho algum problema, porque a cada vez que entro sinto seus olhares curiosos sobre mim, em especial de alguns caras bem mais velhos sentados em uma mesa ao canto oposto da mesa de sinuca, secando-me com os olhos como se fossem lobos famintos à espreita de sua presa. Sinto-me enojada. Então, sem qualquer cerimônia levanto meu dedo do meio para eles, que parecem surpresos com minha atitude. Alguns desviam seus olhares, envergonhados. Enquanto outros dois parecem achar que isso é uma espécie de desafio, posso notar sorrisos maliciosos em seus lábios.

Desvio minha atenção deles para Jessy, que está aos beijos com Felipe, eu já tinha certeza absoluta de que seria exatamente assim que os dois terminariam. Se pegando.

Então, mais uma vez eu me encontro sozinha, minha amiga esqueceu da minha existência, Nataniel parece ter sumido do bar e de maneira nenhuma eu queria estar perto de Dominic ou daquela sua suposta namorada psicótica. Ainda tento entender porquê as mulheres sempre parecem estar uma em competição, por que simplesmente não pode haver amizade entre duas garotas sem envolver garotos?

Durante todo o trajeto tentei ao máximo evitar lançar-lhe sequer uma palavra, enquanto Jessy e ele tagarelavam sobre o quanto Canadá parecia um ótimo país para passar as férias de julho, ou sobre em qual loja Nick comprava seus acessórios, eu mantinha meus olhos na estrada conciente de que seu olhar, em alguns momentos, se direcionava a mim. Pude sentir preocupação ou quem sabe chateação vinda dele. Mas eu o ignorei, mesmo quando parou seu carro a alguns metros da minha casa. Ele também não parecia tão disposto a querer conversar comigo, acho que ele sabe respeito o espaço das pessoas.

Depois de chegar em casa completamente exausta e arrependida de ter posto meus pés para fora de casa, tomo um longo banho, ainda pensando no porque de, de repente, Nick achar que deveria convidar-me para conhecer seus amigos. Nós não temos nada a ver, seu mundo é completamente diferente do meu.

No entanto, não posso deixar de reconhecer o quanto minha atitude é estupidamente infantil. Ele não me deve satisfação nem sequer deveria se importar se estou chateada com ele, mas ele fez questão de tentar esclarecer as coisas, me pergunto se isso significa algo.

A semana passou rapidamente sem que nada de extraordinário acontecesse, ensaiamos todos os dias, mas ainda estávamos muito longe de estarmos bons o suficiente, o problema era sempre as brigas entre Jessy e Theo pelo fato de ele sempre mudar os passos a cada ensaio. Nick continuava impassível em relação à mim, e eu tentava ao máximo ignora-lo. Trocamos algumas poucas palavras durante os ensaios, mas a parede de gelo continuava entre nós, cada vez mais grossa e firme. Dominic respeitava a minha chateação mais do que eu gostaria. Mas podia entender o seu medo de criar esperanças em mim, ele não queria me machucar e isso era fofo.

No sábado de manhã, fui até a ONG me volutariar para passar o dia fazendo atividades com as crianças, era divertido estar com elas, enquanto seus pais saiam em busca de trabalho para que assim pudessem dar uma vida melhor para seus filhos. É exatamente isso o que a organização incentiva. A noite chegou rapidamente e sem planos para sair decidi colocar em dia minhas séries na Netflix e acabei dormindo rapidamente, ainda incerta sobre meu futuro.

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