Capítulo LXIII

1.1K 76 8
                                    

— O q-que houve? — As palavras saem baixas e minhas mãos começam uma tremedeira incessante. O mau pressentimento é esmagador.

— E-eu não sei, ele está estranho, falando coisas sem nexo, as pupilas estão muito dilatadas e... e... Porra, Nick — Sua voz se afasta do celular, o que só aumenta minha angústia. Ela parece sussurrar algo para ele antes de voltar para o telefone. — Vem logo por favor, eu não sei o que fazer, papai não pode saber que ele ainda está se drogando.

Me levanto da cama em um salto, agarro qualquer roupa do meu armário e a visto em desespero. Não perco tempo avisando meus pais, provavelmente já estão dormindo e além disso, tudo o que consigo pensar é em chegar até o apartamento do Nick o mais rápido possível. Com os dedos trêmulos digito o endereço no aplicativo do uber, são longos e agonizantes minutos até que algum motorista finalmente aceite a corrida. Nesse momento, me odeio por ainda não ter tirado minha carteira de motorista.

Escancaro a porta agradecendo mentalmente por ela não estar trancada. A cena que presencio deixa-me em completo estado de choque e meu corpo demora longos segundos para finalmente tomar uma ação. Corro até o Nick, que está estirado no chão convulsionando, seus olhos estão abertos e sem foco e a sensação de desespero me invade.

— Ele... está... Ambulância! Chama uma ambulância! — berro para Raquel, que parece tão desnorteada quanto eu.

— Se acalma, eu já chamei.

Habilmente ela vira o corpo dele posicionado-o de lado e então coloca sua cabeça para descansar sobre uma almofada. Encaro-a admirada por ela saber prestar primeiros socorros. O suor escorre do rosto dele, deixando alguns fios de cabelo grudados em sua testa, afasto-os carinhosamente, enquanto sua irmã segura seus braços para que ele não se machuque com os movimentos involuntários. Vê-lo nesse estado me desestabiliza, minhas lágrimas escorrem livremente pelo meu rosto. Um ruído nos sobressalta e eu só percebo que deixei a porta aberta quando vejo os paramédicos passarem por ela, carregado a prancha e a bolsa de resgate.

— Se afastem dele — O socorrista pede e nós prontamente obedecemos.

— O que aconteceu? — Ele nos pergunta, encarando-nos por cima de seus óculos, enquanto coloca suas luvas.

— E-eu acho que ele está tendo uma overdose — Raquel responde, enquanto em um estado de choque. Não consigo dizer nada. A dor está me dilacerando.

— Qual medicamento ele ingeriu?

Raquel hesita em responder, mas então ela se abaixa e agarra algo no chão, se levantando logo em seguida. Ela mostra um pequeno pino entre seus dedos.

— Cocaína? — Ela balança a cabeça, confirmando. O paramédico suspira, sua expressão agora parece ainda mais cansada.

— Checa a pressão — Ele ordena para o segundo socorrista que habilmente o coloca no pulso esquerdo do Nick. Enquanto o primeiro prepara uma seringa. Alguns longos segundos se passam até finalmente ele dizer algo. — Sistólica 183, diastólica 142. Frequência 147.

Nesse momento percebo o quão perto de um infarto ele está. Não precisa ser muito inteligente para entender que sua pressão está altíssima, se ele fosse um idoso e tivesse algum problema cardíaco talvez já não tivesse resistido. Observo o paramédico aplicar algo na veia do Nick e eu me pergunto internamente do que se trata, enquanto sinto um desconforto no estômago observando a enorme agulha.

— Não é a primeira vez que ele tem uma overdose — Raquel sussurra e eu a encaro surpresa, engolindo em seco.

O socorrista não parece nem um pouco surpreendido, é claro, já está acostumado a lidar com inconsequentes.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora