Consequências

Capítulo XLIV

Jessy estava parada bem no meio da sala com as mãos na cintura e a expressão tão furiosa que imagino que ela seria capaz de matar um de nós nesta sala. Nenhum de nós se movia, ou sequer ousava dizer alguma coisa. Eu menos ainda, sabia que ela ficaria com raiva de mim por dias e não estava afim de piorar a situação.

— Estou esperando uma explicação.

— Amor, eu... — Felipe começa, em uma tentativa de se explicar.

Ela levanta a mão em sua direção, interrompendo-o, enquanto ainda mantém seus olhos nos meus. Uma mágoa estampa o seu rosto. Ela parece se esforçar para parecer forte em sua presença.

— Não falei com você, estou perguntando para vocês dois — Seus olhos passam de mim para Nick e vice versa.

— Relaxa aí, Jessy, pensei que seria bom vocês conversarem — Nick intervém, com um tom neutro em sua voz. — Você precisa ouvi-lo.

— Não venha defender seu amigo, traição não tem desculpas — retruca histérica.

Fico divida entre tentar acalmá-la ou deixar que ela lide sozinha com sua ira. Somos amigas desde a infância, mas eu nunca aprendi como lidar com sua raiva, Jessy sempre foi muito inconstante, compreendê-la é quase tão difícil quanto aprender mandarim.

— Eu não te traí, caralho, me deixa explicar o que aconteceu por favor — Felipe suplica, o cansaço está estampado em seu rosto.

— Não, eu não quero ouvir nada.

De forma infantil, Jessy coloca as mãos em seus ouvidos em um gesto irritado. Então ela lança um olhar gélido em sua direção antes de se virar para alcançar a porta.

— Jessy, por favor, eu te amo! — Felipe suplica, em um gesto de angústia e desespero.

Sua simples frase é o suficiente para que ela fique estática, ainda de costas para nós, e ainda assim, é possível perceber sua respiração alterada. Ouvir essas palavras parece tê-la deixado tão perplexa quanto eu fiquei quando ele confessou seus sentimentos ao Nick e a mim outro dia. Um longo e torturante silêncio preenche o ambiente, todos parecem tensos com a demora para que a minha amiga reaja. Felipe se aproxima dela a curtos e lentos passos. Ela ainda parece sem reação.

— Eu comprei essas drogas de alianças porque queria que você fosse minha namorada — A voz do Felipe soa trêmula.

— Acho que vou vomitar — Nick revira os olhos. — Vamos deixá-los conversarem, Rebeca.

Ele pega a chave do seu carro em cima da mesa de centro, então sua mão agarra delicamente a minha. Lanço um último olhar para minha amiga, que parece prestes a se derramar em lágrimas, dessa vez, esse garoto conseguiu derrubar o orgulho dela. Então Dominic e eu caminhamos para fora do seu apartamento. Seus dedos continuam entrelaçados aos meus até que chegamos ao seu carro. Ele disse que me deixaria em casa e depois iria até o pub do Felipe cuidar das coisas por lá, já que seu amigo tinha problemas mais importantes para resolver.

— No que está pensando, garotinha? — pergunta depois de um tempo dirigindo. A noite está tranquila e amena.

— Eu... bem, fiquei surpresa que o Felipe tenha tanto sentimento por ela — divago, encarando a beleza da lua cheia e cintilante no horizonte.

— É, confesso que nunca o vi tão apaixonado, há um tempo atrás ele gostava de uma garota, mas não parece chegar nem perto do que ele sente pela Jessy, ele não para de falar dela, isso é irritante pra caralho.

— Bem, a Jessy tem sorte — sorrio, sentindo uma pontada de inveja.

Nick me lança um olhar indecifrável, então volta seus olhos para a estrada e um longo silêncio se instaura entre nós. Sendo preenchido apenas pela música em seu rádio. Ele me deixa na entrada do condomínio antes de partir para o seu destino. Nós nos despedimos apenas com um beijo dele em minha testa, nenhum de nós dois voltamos a falar do que aconteceu em seu apartamento antes do Felipe chegar. Mas fico internamente aliviada de que as coisas não tenham ficado estranhas entre nós. Afinal, foi ele quem tomou a iniciativa e eu, com a forma como ele me deixa, não seria capaz de negar suas carícias. Entretanto, eu estou completamente ciente de que nada mudará, nós dois sabemos bem que isso é o melhor.