Capítulo X

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É terça feira. Não dá para acreditar que ainda não estamos nem na metade da semana e eu já me sinto completamente esgotada, o dia de ontem foi cheio e confuso.

E o pior: humilhante.

Depois que havia chegado em casa tive que fazer um esforço imenso para que meus pais não notassem meus olhos vermelhos, graças ao meu choro copioso debaixo do chuveiro. Então tive que manter meus olhos no prato, mas é claro que aquela velha desconfiança parecia incomodar meu pai. Principalmente depois que tive que mentir sobre quem me levou para casa e porquê eu havia voltado mais tarde que o habitual. Não tenho certeza se ele acreditou na minha desculpa esfarrapada de que Jessy me emprestou dinheiro para o táxi.

Entro na sala de cabeça baixa, ainda não estou com vontade de falar com Jessy, eu sei que ela fez isso com a melhor das intenções, no entanto, eu deveria estar ciente desse plano ridículo de tentar me juntar com Nick. E por falar nele, ele não me olha em nenhum momento quando me sento na carteira ao seu lado. Tudo o que consegue focar é no celular em suas mãos, um dia ainda irei perguntar o que de tão interessante ele faz que os seus olhos parecem ser grudados na tela.

Ótimo.

Estou sem amigo nenhum hoje. Theo está me encarando com o semblante de cão arrependido do outro lado da sala, desvio o olhar. Ele também fez parte disso tanto quanto a Jessy, simplesmente não consigo entender como ele concordou com isso sendo que ele odeia o Nick? Como ele pôde deixar que ela seguisse com esse plano estúpido? Não consigo entender.

Em alguns momentos da aula, lancei rápidos olhares na direção de Dominic e, algumas poucas vezes, seus olhos encontravam os meus e eu sentia como se uma onda eletrizante percorresse cada centímetro do meu corpo. Seus olhos âmbar pareciam varrer minha alma, ele não tem ideia do que causa dentro de mim. Mas ele sempre parece alheio.

No intervalo não consegui falar com ele, porque está sempre com os novos amigos dele e não estou afim de correr o risco de ser ignorada na frente deles. Já passei vergonha demais. Então a solução será esperar o fim das aulas.

Mal consegui prestar atenção no que a professora de história falava e muito menos a de português. Quando finalmente o sinal de saída toca me levanto e me apresso para sair da sala. Nick já desapareceu, ele deve ter praticamente corrido para fugir de mim. Vejo-o dobrar o corredor em direção à saída.

— Nick, espera! — Corro para alcança-lo. Ele para e se vira de repente, quase me fazendo trombar com ele.

— O que você quer? — Indaga de forma ríspida. Essa é a primeira vez que o vejo tão irritado e algo dentro mim, como um sexto sentido, me diz que não será a última.

— Por que está me tratando mal como um idiota? — ralho, um pouco mais alto do que deveria.

Ele eleva sua cabeça e suspira. Dando-me uma visão perfeita de seu pescoço e dos traços fortes do seu maxilar.

— Acho que talvez seja melhor não sermos amigos. — solta de repente. — Vai ser o melhor para você e... e para mim, eu não quero alimentar suas esperanças, Rebeca.

Minha cabeça parece, momentaneamente, atordoada. O que exatamente ele está tentando dizer com isso?

— Quê?! Por que isso agora? — inspiro, tentando controlar a irritação que teima em subir pela minha bile. — Quer saber, dane-se.

Obrigo minhas pernas a se moverem para longe dele, mas meus passos são interrompidos por sua mão segurando meu pulso abruptamente. Afasto meu braço torcendo para que ele não tenha notado o meu arfar quando aquela conhecida corrente elétrica percorreu caminhos inimagináveis pelo meu corpo. Causado apenas pelo seu toque singelo.

ConsequênciasOnde histórias criam vida. Descubra agora