Capítulo 4

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Depois do jantar, Rafael resolveu brincar e quando voltei para lavar a louça, encontro o senhor Giluer já o fazendo.

-Pode deixar comigo, senhor - eu o digo.

-Não se preocupe, senhorita Sofia, vamos conviver nessa casa e acho que o mínimo que posso fazer é ajudá-la - ele disse.

Eu dei uma risadinha e isso chamou sua atenção.

-Disse algo de estranho? - perguntou, com as sobrancelhas arqueadas.

Ele lutava com as mãos molhadas para erguer os óculos e ficou uma visão engraçada.

-Eu sou paga pelo senhor, lembra? - eu digo.

-Para cuidar do meu filho, apenas - ele acrescentou.

Já havia notado que ele era bem teimoso.

-Tudo bem, senhor - cedi.

Peguei um copo de água e me sentei no balcão.

-Que tal um filme? - ele perguntou.

-Claro, eu adoraria - respondi.

Eu não vi sua reação, mas ele pareceu contente.

-Já que vamos conviver, podemos ser amigos, então se precisar de algo é só me falar - ele disse de repente.

Era evidente que o homem estava tentando mesmo tornar os próximos dias agradáveis.

-Me sinto no dormitório da faculdade - eu disse. - Só que sem a parte das meias suja e o pouco espaço.

Ele deu uma gargalhada doce.

-Você parece ter vivido bons momentos na faculdade - ele disse enquanto enxaguava os pratos.

-Não tenho do que reclamar - falei. - Fiz bons amigos e aprontei bastante também. E o senhor? Viveu bons momentos?

Ele me olhou pensativo.

-Nunca fui muito de me enturmar - ele revelou. - Minha aparência nerd também não me ajudava muito.

-Serio? - foi a única coisa que fui capaz de dizer.

Se meu chefe se cuidasse um pouco mais, tenho certeza que seria um dos mais populares na sua época.

-Ainda não sei o que a mãe do meu filho viu em mim - ele riu sarcasticamente.

Sua voz tinha amargura. Ele sabia o que ela tinha visto e parecia que o assunto o machucava.

-Muitas mulheres não procuram beleza, se o cara for gentil já é o suficiente - e pela forma como me tratava, eu sabia que ele era gentil, acrescentei mentalmente.

Ele deu de ombros ao mesmo tempo que arqueava as sobrancelhas. Uma combinação estranha.

-Talvez - ele me lançou um sorriso e finalizou as louças.

-Vou chamar o pequeno para o filme - eu disse.

Jack assoviou.

-Não precisa, vou colocar ele no quarto dele - ele falou. - Já são quase nove horas, logo ele pega no sono.

Antes que ele alcançasse o corredor me intrometi na sua frente.

-Aceito que lave a louça, mas cuidar da criança é minha função - eu disse sorrindo. - Enquanto eu coloco o pequeno na cama, o senhor escolhe o filme.

Ele ficou curioso, mas cedeu sem pestanejar.

-Tudo bem, senhorita Sofia - ele foi em direção a televisão.

Cheguei a porta da brinquedoteca.

-Toc, toc - eu falei.

Rafa me lançou um sorriso, muito parecido com o do seu pai. Eles não só eram parecidos na personalidade, mas também na aparência.

-So.. Sofia - Rafa disse, timidamente.

-Oi, meu bem - falei carinhosamente.

Passei minha mão em seus cabelos castanhos e sorri.

-Vamos para o seu quarto? - eu perguntei assim que o vi bocejar.

O rapazinho estendeu os braços e eu o peguei em meu colo.

-Obrigada, Sofia - ele murmurou com a cabeça rescostada em meu ombro.

Assim que me virei levei um susto ao ver que Jack esperava na porta.

-Não me aguentei - ele sussurrou. - Sempre o coloquei para dormir e me senti estranho.

Ele passou a mão pelos cabelos timidamente.

-Tudo bem, pode me acompanhar, eu deixo - sussurrei.

Ele me seguiu lentamente, acompanhando cada passo cuidadosamente.

No quarto de Rafa, o acomodei em sua cama. Seus olhos já estavam praticamente fechados e não demoraria muito para que entrasse em um sono profundo.

Jack se aproximou e beijou a testa de seu filho.

Ele era um ótimo pai.

-Vamos - ele me puxou docemente para fora do quarto.

Nos encaramos no corredor escuro. Seus olhos estava fixos em mim, cheios de algo que eu não conseguia identificar.

Eu segui em direção a sala, cortando seja lá o que tenha acontecido.

-Escolhi um filme de mistério, quero ver se você adivinha quem é o assassino - ele apareceu na entrada do corredor.

Sua expressão era bem animada.

-Desafio aceito - eu disse.

Filme escolhido: Um contratempo. E no fim, eu adivinhei quem era o culpado. Fiquei orgulhosa de mim e ele pareceu contente com o resultado.

-Podemos repetir isso, qualquer hora - ele falou enquanto desligava a televisão.

-Eu apoio, é só me chamar - eu lancei um sorriso para ele.

-No próximo vou trazer um que duvido que você acerte o assassino - ele falou confiante.

-Não duvide de mim, Jack - eu ri. - Não sou só um rostinho bonito.

Ele sorriu para mim, um sorriso lindo e aconchegante.

-Eu sei que você não é só um rostinho bonito, senhorita Sofia - ele disse.

Aquela frase me pegou despercebida. Era como se ele já me conhecesse bem só com aquelas poucas horas que estivemos juntos.

-Vejo que o senhor é um apreciador de filmes - eu disse, mudando de assunto.

Ele balançou a cabeça.

-Gosto muito de assistir filmes e séries - ele falou animado. - É um ótimo passa tempo.

Nos levantamos e caminhamos lado a lado pelo corredor.

-Tenha uma boa noite, senhorita Sofia - ele falou carinhosamente.

-Boa noite, senhor Giluer - eu respondi.

Sorrimos um para o outro e entramos nos nossos respectivos quartos.

Encarei a porta do banheiro tristonha. Não queria que a noite tivesse acabado, eu estava muito confortável ao lado de Jack.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora