Capítulo 54

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Ontem tinha sido uma confusão.

Meu coração quase saiu pela boca ao ouvir Jack. Confesso que passei o resto da noite com a ideia de que era possível reatar o que tínhamos.

Eu ainda era louca por ele, não tinha como negar.

No entanto, meu orgulho me impedia de pegar meu telefone e ligar para ele. Na época eu fiquei muito ferida e não sei se teria coragem de dar o primeiro passo para esse retorno.

Sempre achei que seria mais simples se eu o ignorasse. Se fingisse que ele não estava na mesa junto com a gente. Mas eu via as mulheres chegando e entregando seus números de telefone... Aquilo me subia um ódio.

-Então aquele é seu famoso ex namorado? - Heitor perguntou enquanto eu arrumava os papéis para a reunião.

-Nós namoramos por um dia, não sei de conta - falei dando de ombros.

Ele revirou os olhos.

-Eu com um gato daquele jamais teria ido para o Rio - ele falou.

-Se esse gato tivesse te magoado, você entenderia - falei.

-Ah, convenhamos Soso, você foi bem infantil com relação ao fim do relacionamento - ele falou. - Muito dramática. Ir embora para outra cidade? Você é louca?

Balancei a cabeça.

Na hora pareceu a coisa certa a se fazer.

-Olha pelo lado bom, você acabou me conhecendo - eu disse sorrindo. 

-Ah, nossa, estou tão feliz - ele disse fingindo estar triste. 

 A porta da sala se abriu e Cassini entrou acompanhado de Jack. 

-Vocês que falarão conosco hoje? - Cassini perguntou abrindo um sorriso. 

Olhei para Jack, ele realmente tinha assumido seu estilo de deus grego. Dessa vez eles estava com um óculos, porém a armação agora era bem mais sofisticada e combinava perfeitamente com o desenho do seu rosto.

-Vocês são os representantes da Indústria de Alimentos Lima? - perguntei.

-Sim, somos - Jack disse em seu tom grave que me fazia tremer as pernas. 

-Achei que mandariam os advogados, já que o assunto é referente ao contrato - eu disse, foleando algumas anotações.

Ouvi uma risada sem humor e olhei para Jack. 

-Não se preocupe, senhorita Valenc, estamos capacitados para essa negociação - Jack falou. 

Ele estava diferente. Seu rosto estava sério e ele carregava um olhar triste.

Percebi que ele encarava Heitor e parecia desconfortável com a sua presença.

Será que ele estava com ciúmes?, pensei. 

-Vamos começar então - Heitor disse, me entregando algumas folhas. 

A reunião se seguiu calma. Heitor tomou a frente das explicações e conduziu muito bem toda a reunião. Jack o encarava como se ele fosse um saco de pancadas e parecia estar com o pensamento em outro lugar. 

-Os argumentos são bons, mas vamos pensar no assunto - Jack falou. 

Cassini o encarou com os olhos semicerrados, mas preferiu não interferir em sua decisão. 

-Tudo bem, assim que tiverem um posicionamento, estaremos aqui para lhes atender - falei. 

Jack concordou e se levantou.

-Vamos tomar um café - chamou Cassini. - Faz tempo que não nos falamos. 

Olhei para Jack que disfarçou um pequeno sorriso que começava a aparecer em seu rosto.

-Infelizmente tenho uma reunião daqui a alguns minutos - eu falei. 

-Larga de bobagem, eu te cubro - Heitor falou. - Você precisa reencontrar seus amigos. 

Heitor me deu uma piscadela e sorriu maliciosamente. 

-Viu, seu namorado vai te cobrir - Cassini provocou. 

Heitor soltou uma gargalhada alta. 

-Namorado? - ele voltou a rir. - Não, ela não faz o meu tipo. 

Meu amigo pegou alguns documentos e saiu da sala, deixando nós três olhando para a cara um do outro.

-Jurava com vocês namoravam - disse Cassini com sarcasmo.

Jack pareceu ficar mais tranquilo, mas ainda manteve os olhos atentos.

-Ele foi um amigo que me ajudou muito na minha adaptação na nova cidade - falei, apenas.

Um lado meu queria provocar Jack, mesmo sabendo que era errado.

-Vamos, senhorita Valenc - Cassini brincou.

-Claro, senhor Carlos Cassini - retribui o deboche.

Peguei meu blazer na cadeira e minha bolsa, seguindo os homens para fora do escritório.

Ao sairmos pela empresa os olhares de todas as mulheres pousaram em Jack conforme ele andava. Consegui ouvir algumas suspirar e outras darem leves gritinhos.

Me senti como se tivesse ao lado de uma celebridade ou algo do gênero.

-Onde deseja ir, princesa? - perguntou Cassini docemente.

-Vocês quem mandam - falei.

O telefone do rapaz de repente começou a tocar e ele nos pediu licença.

Eu e Jack ficamos nos encarando em silêncio até que Cassini voltasse.

-Desculpa, Sofi, minha amada precisa de socorro - ele disse chacoalhando o celular. - Mas não se preocupe, meu amigo Jack lhe fará uma ótima companhia.

A cara de pau daquele homem nem ardia. Era bem óbvio que ele tinha planejado aquela situação, principalmente quando abriu um sorriso divertido ao falar sobre Jack.

-Claro, tudo bem, eu entendo - falei, agindo conforme seu plano.

Cassini estudou o peito orgulhoso e sorriu para nós, se despendido.

-Esse cara é impossível - eu falei.

Jack se retraiu e me lançou um olhar triste.

-Se não quiser ir, tudo bem, podemos marcar um horário com ele depois - falou sem graça.

Fazia tanto tempo que eu não via aquela feição inocente que eu tanta amava. Meu ex chefe era o cara mais desengonçado e atrapalhado que eu conhecia, mas ao mesmo tempo tudo aquilo era o que me encarava mais nele.

Aquele sorriso tímido em seu rosto era a prova de que comigo ele conseguia ser ele mesmo e não precisava parecer o herdeiro insensível.

-Vamos, eu estou com fome - falei indo em direção ao estacionamento.

Olhei para trás e Jack estava parado com um sorriso no rosto. Um grande bobão, pensei.

-Você não vem? - perguntei.

Ele correu até mim, sem consegui conter sua expressão.

-Claro, o carro está logo ali - falou animado.

Talvez... Só talvez... A gente pudesse dar certo mais uma vez.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora