Capítulo 43

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Pela primeira vez em dias, eu resolvi dormir no meu quarto. Aquilo foi um choque para Jack e eu sabia que o magoaria, mas eu precisava de espaço para organizar meus pensamentos.

No sábado pela manhã, Cassini me informou que ele teve que sair para uma reunião de emergência e que provavelmente só voltaria depois do almoço.

Então me joguei no sofá para assistir algo e me distrair.

A campainha tocou bem na hora que o filme tinha começado a ficar bom e eu tive que me levantar para receber quem quer que fosse.

Assim que abri a porta, Nina e sua mãe estavam paradas no corredor.

-Você? - Nina perguntou.

-Ela deve ser a empregada, meu amor - Margo disse em tom cortante.

-Gorvenanta - eu a corrigi.

A mulher não esperou um convite e entrou de forma grosseira dentro do apartamento.

-Onde está meu genro? - ela perguntou. - Chame-o para mim, empregada.

Ela disse a última palavra com prazer.

-Ele está em uma reunião, só retornará depois do almoço - falei, tentando ignorar o tom de veneno da mulher.

-Vamos esperar - ela disse sorrindo.

Meu dia do piorava.

Me sentei no sofá novamente e peguei meu celular para informar Cassini sobre as visitas.

-Você está bem a vontade na residência a qual deveria limpar, não acha? - a tal Margo tinha um fim doce, mas eu conseguia ver o veneno em cada palavra.

-Meu trabalho não é limpar, mas sim cuidar do pequeno Rafael - eu disse, apenas.

Ela se sentou na poltrona e Nina se sentou no outro sofá.

-Ah, o pequeno Rafael - ela disse. - Trágico a morte de Mona, mas merecido.

-Mona? - perguntei.

Eu conheci uma Mona na faculdade e ela também morreu no parto de seu filho, mas só tive notícias delas bem depois que faleceu. Ela havia se escondido de todos durante a gestação.

-Sim, ela e Jack estudaram juntos e acabaram se relacionando em uma noite de bebedeira - disse Nina em um sussurro, como se aquilo fosse um grande segredo.

Margo me encarava com os olhos curiosos. Ela era bem calculista e ao julgar por seu sorriso triunfante, ela tinha chegado a uma boa conclusão de suas análises.

-Em qual faculdade você se formou mesmo? - ela perguntou.

Fiquei espantada por ela saber que eu já havia cursado a faculdade, mas talvez tenha sido apenas uma suposição.

-Universidade Federal de São Paulo - eu disse.

Ela me encarou mais uma vezes.

-Ah, então você conhece Jack da faculdade? - perguntou.

Eu a encarei confusa.

-Não, conheci ele a algumas semanas quando vim para a entrevista de emprego - eu disse.

-Ah, achei que tivesse se conhecido na faculdade, ele e a Mona estudaram nessa mesma instituição - ela disse.

Por um momento meus pensamentos correram pelas salas de aula da faculdade. E me lembrei de um rapaz que estava em uma aula de ética e português avançado. Ele sempre sentava umas duas cadeiras atrás de mim e passava a maior parte do tempo de cabeça baixa.

Lembro que o homem era invisível e eu não sabia dizer em que momento ele havia entrado ou saído da sala.

Uma memória veio em minha cabeça de quando eu estava em uma festa. Eu o vi pela primeira vez sem os moletons e achei seu cabelo bagunçado um graça. O álcool já havia batido em minha veia com força, mas me lembro de ver ele sorrindo. Um sorriso como o de Jack.

Ele já me conhecia? Eu já o conhecia?

De repente o pensamento ficou martelando em minha cabeça e eu comecei a lembrar de tudo. Quando ele dizia com convicção que já me conhecia bem, mesmo que eu tivesse começado em sua residência a poucos dias, ou quando eu sentia que seu rosto era familiar.

Jack se lembrava de mim e não me contou? Pior de tudo, ele teve um relacionamento com Mona... Eu e ela fomos muito próximas no início da faculdade, mas seus interesses eram diferentes dos meus. Ela corria atrás de homens ricos e eu queria o sucesso por mérito.

Acabamos nos distanciando, mas ainda nos falavamos.

E então veio em minha cabeça as últimas lembranças que tenho dela eram sempre no fundo da sala ao lado de o senhor invisível. Fazia sentido, já que eles estavam juntos.

-Tudo bem, querida? - Margo estava com um tom cínico bem evidente e parecia contente com o resultado que tinha obtido.

-Sim, estou.

Eu a encarei. Não ia deixar aquela mulher me abalar, mas mesmo assim eu tinha que saber mais sobre esse assunto. Não poderia simplesmente deixar que Jack escondesse aquilo de mim.

Ele deve ter tido seus motivos, mas não acho certo que esconda de mim o fato de me conhecer e de ter se relacionado com uma amiga minha.

Respirei fundo e fui em direção a brinquedoteca.

Eu sabia onde eu poderia encontrar minhas respostas. Nos álbuns que Jack escondia uma gaveta do armário da brinquedoteca.

Me sentei no tatame e encarei os álbuns empoeirados.

Abri o primeiro.

Era Mona grávida de Rafael, várias fotos de diversos períodos de sua gestação. Ela sorria feliz e em algumas fotos Jack aparecia beijando a barriga ou segurando ela.

Peguei outro álbum e encontrei diversas fotos de Cassini e Jack no campus da faculdade. Em outras fotos havia Charles e Mona. Todos pareciam felizes.

Vi uma foto de Jack e Mona no meio de várias pessoas em uma festa, ele parecia desanimado, mas sorria mesmo assim.

Encontrei algumas fotos da turma da faculdade, nelas estavam mistas as turmas de administração, direito e contabilidade. Eu me vi na frente sorrindo com as minha colegas de turma e encontrei Jack no fundo, com uma cara de que queria fugir daquele lugar.

Eu suspirei, com raiva.

Mas ainda sem entender o que estava acontecendo e como tudo isso acabou virando essa bola de neve. Passei uns trinta minutos analisando todas as imagens até por fim ser interrompida por Cassini.

-Sofia - ele chamou e encarou a bagunça a minha volta.

-O que é isso? - perguntei, revoltada.

-Eu posso te explicar - ele falou.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora