Capítulo 36

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Eu entrei na cozinha e Jack estava parado encarando a pia. Seu olhar estava perdido e ele parecia exausto, provavelmente tinha ficado acordado a noite. 

Jack estava perfeito naquela manhã em seu clássico moletom, cabelos bagunçados e óculos caídos no nariz. Ele estava sem camiseta, o que melhorava ainda mais o visual.

-Bom dia - eu falei.

O homem levou um susto e me encarou com os olhos arregalados. 

-Bom dia - ele respondeu, envergonhado. 

Eu estava com saudades dele e passei o resto do domingo encarando a porta e querendo correr em direção ao seu quarto. 

-Minha mãe ligou avisando que ia levar o Rafa para a creche - ele disse.

Jack agora lavava a louça, evitando me encarar. 

-Okay, vou deixar o almoço pronto para quando ele chegar - eu disse. 

-Podemos almoçar fora hoje - ele falou. 

Dei de ombros, de qualquer forma eu não poderia criar expectativas com aquele convite e deveria me lembrar do meu lugar naquela casa. 

-Tudo bem, senhor Giluer - eu disse. 

Sei que formalidade o deixou tenso. Jack odiava que eu o chamasse daquela forma, mas meu lado infantil não me permitia lhe chamar pelo nome. Mesmo quando todo o seu corpo se enrijeceu, eu não quis chama-lo de forma informal. 

-Sofi... - ele me chamou.

Sua voz estava fraca e seus olhos tristes.

Mas novamente fomos interrompidos e vi Cassini entrando pela porta. 

-Bom dia família - ele entrou com um enorme sorriso no rosto. 

Ao lado de Cassini estava Jaine em seu uniforme casual de faxina. Ambos sorriam um para o outro de forma harmoniosa. Pelo olhar da minha amiga, eu sabia que a noite de jogos tinha rendido ótimos resultados entre aqueles dois. 

-Que funeral está nessa cozinha - Jaine falou. 

Cassini pareceu notar o clima e nos estudou com os olhos.

-Jack, vim te buscar para a reunião dos acionistas - disse Cassini. 

Jack o encarou surpreso. 

-Qual reunião? - perguntou. 

-Da empresa do seu pai... - Cassini olhou para mim e para Jaine com cautela. - Parece que estão chamando os acionistas. 

Ele não concluiu a frase, o que deixou uma dúvida no ar. 

-Puts, eu esqueci - Jack disse e saiu correndo para seu quarto. 

Ficamos conversando sobre o boliche e alguns minutos depois Jack apareceu em sua forma mais majestosa. Ele trajava um terno preto fosco que provavelmente havia sido feito sob medida, pois se alinhava perfeitamente ao seu corpo. Os cabelos estavam alinhados com um gel e ela havia se livrado dos óculos. 

Até a postura de Jack havia mudado e ele estava mais alto que o habitual, como se as roupas proporcionassem a ele um aumento de estatura. 

Era incrível como aqueles olhos verdes se destacavam em sua fisionomia e, naquelas roupas, fazia ele parecer os CEO que as escritoras descreviam no meus livros de romance. Agora eu entendia o que as protagonistas queriam dizer com "irresistíveis em seu terno".

-Vamos - ele disse enquanto ajeitava seu relógio no braço.

Eu e Jaine estávamos na cozinha e ficamos encarando até que os dois saíssem pela porta.

-Pode começar contando tudo - eu disse, pegando uma maça e a mordendo. 

-Nem tem muito para contar, mas depois que saímos daqui ele me acompanhou até meu apartamento... - ela começou. - Quando chegamos lá ele disse que eu tinha roubado um beijo dele, nisso ele me beijou e disse que estávamos quites. 

Eu dei gritinhos de alegria, como uma adolescente. 

-Eu sabia que o Cassini era afim de você - eu disse. 

-Ele foi um fofo, amiga - ela disse, iniciando a limpeza da cozinha. - Na verdade, ficamos um bom tempo conversando e antes de ir embora nos beijamos de novo. 

Ela sorria, feliz. 

-Você merece alguém assim - eu disse. 

-Por falar em beijo... - ela arqueou as sobrancelhas enquanto puxava o lixo da pia. - E você e o patrão?

Dei de ombros. 

-Ah, nem vem, pela cara que ele fez quando saímos, eu jurava que ele ia te dar uns garros - ela riu. 

-A gente meio que ficou, mas de ontem para hoje o clima esta meio estranho - eu contei a ela. 

Jaine levou o lixo para a dispensa e voltou com um aspirados e um pano nas mãos. 

-Você deveria conversar com ele - ela disse. 

-Foi conversando que acabamos nessa situação - eu falei. 

Jaine deu uma risada engraçada e sorriu. 

-Jack é diferente dos demais homens, ele tem um pensamento de medo - ela falou. - Acho que ele apenas não soube se expressar nessa conversa que vocês tiveram e você acabou entendendo errado. 

Comecei erguer as cadeiras e coloca-las viradas sobre a mesa para ajudar Jaine. 

-E o pior é que eu sei disso, mas também não sei como poderíamos ter essa conversa novamente - eu falei.

Ela deu de ombros e iniciou sua arrumação. 

-Ainda assim, deveria tentar - ela falou. - Jack é um homem incrível e gosta de você, então aproveite. 

Revirei os olhos. Como se eu já não soubesse o que estava perdendo agindo dessa forma infantil. Mas é muito mais fácil julgar do que tomar uma atitude.

-Podemos marcar algo hoje e nisso vocês podem ficar mais a vontade e voltar a se falar aos poucos - ela disse. 

Eu peguei as almofadas e comecei a bate-las, me livrando da poeira. 

-Não acho que ele vá topar fazer algo com a criança dele por perto - eu disse, afinal Rafa estaria em casa. 

-Não precisamos exagerar e nem forçar uma saída, podemos apenas começar uma casual conversa entre amigos que pode se estender para uma noite de pizza - ela falou. - Nem tudo na vida se resumo a irresponsabilidade. 

Eu dei uma risada, pois fazia sentindo. 

-Vamos ver - eu disse, indo para os quartos recolher as roupas sujas. 

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora