Capítulo 50

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Para onde eu fui? Para onde Amie estava. Para onde eu queria ir? Qualquer lugar longe da terra. 

Entrei dentro do taxi e pedi que ele fosse para o mais longe possível. 

Vi pela janela, Jack aparecendo na entrada da casa e correndo atrás do carro. O motorista me encarou curioso, mas indiquei que continuasse. 

Mandei uma mensagem para Amie avisando que eu precisava dela e desliguei o celular.

Depois de todo o percurso pensando no que havia acontecido, finalmente comecei a chorar.

Não ter a confiança de Jack foi como um tiro no peito. Fiquei me perguntando que tipo de pessoa ele achava que eu era para cogitar atitudes assim vindo de mim.

Sempre fui extrovertida e intrometida. Arrumei alguns barracos na faculdade, mas nunca parti para a violência. Isso era algo que eu repudiava a todo custo. Então não entendia o que fez Jack associar esse comportamento a mim.

Ou ele como ele pode acreditar tão fácil em Nina. Ali eu percebi que ele tinha na cabeça que era muito mais fácil eu ser a agressora do que Nina.

-Sofia - Amie me chamou assim que sai do carro e jogou o dinheiro em direção ao motorista. - Vamos entrar.

No fim das contas, acabei indo de encontro a Amie em seu novo apartamento. Seu namorado não estava, pois tinha viajado a negócio e só voltaria amanhã.

Dessa forma tínhamos privacidade e eu consegui chorar por horas.

Depois que me acalmei, o que levou um bom tempo, comecei a ler contar sobre o ocorrido e ela ficou em silêncio.

-O que vai fazer agora? - ela perguntou ao me entregar um copo com água.

Dei de ombros.

-Não posso mais ficar lá - eu disse.

-Vai terminar? Vocês acabaram de começar - ela gritou.

-Talvez seja o melhor a fazer - falei.

-Nem vem, você está é querendo fugir - minha amiga falou.

Eu revirei meus olhos, mesmo sabendo que talvez fosse verdade.

-Não é só sobre isso - falei.

Amie estava com os braços cruzados sobre o peito e uma expressão de dar medo em qualquer pessoa.

-É exatamente sobre isso - ela rosnou. - Você vai estragar tudo com essa sua auto sabotagem. Vai jogar a oportunidade de estar com alguém que realmente gosta de você e que te trata bem.

-Você não tem como saber isso, só viu ele uma vez - eu disse.

Ela bufou.

-Independente disso, crie coragem e vá até ele - ela falou. - Amanhã quando estiver mais calma, volta pro apartamento e converse com ele. Se ainda estiver disposta a jogar tudo para o ar, okay, mas não faça isso sem lutar.

Amie me virou as costas e saiu.

Ela tinha razão. Eu precisava conversar com ele antes de tomar uma decisão mais evasiva.

Assim o fiz.

Apesar da noite de insônia, acordei cedo e me arrumei com as algumas peças de roupa do guarda roupa de Amie.

Liguei o telefone e me espantei com o número de ligações que tinham no celular, porém ignorei todos por receio de que eu mudasse de ideia.

Peguei o que precisava e fui rumo ao apartamento de Jack.

Assim que cheguei no prédio todos me recepcionaram bem, como era de costume.

Subi os andares apreensiva.

Uma sensação estranha tomava conta de mim e eu estava com um frio na barriga.

Talvez tivesse sido melhor se eu tivesse dado meia volta e corrido, mas eu insisti em continuar em direção a porta do apartamento.

Meus braços levaram a chave até a porta e a abriram.

Então eu percebi que devia ter ouvido meu instinto.

Ao abrir a porta, encontrei Nina comendo uma maçã na cozinha. Ela usava uma camiseta larga e um calça moletom de Jack. Eu conhecia aquelas peças e eu sabia a quem pertenciam.

Ela abriu um sorriso malicioso em minha direção.

-Opps - ela fingiu estar surpresa.

Jack apareceu em seus trajes do dia a dia, seus olhos fundos e com as olheiras destacadas que indicaram uma noite conturbada em que ele mal tinha dormido.

Assim que me viu ele seus olhos se iluminaram e correu em minha direção e assim que se aproximou eu o empurrei.

-Sofia - ele me chamou.

Mas eu apenas encarava Nina. Ela estava vestida com as roupas dele? Me perguntei.

Então de repente ele olhou para Nina e depois para mim freneticamente, finalmente percebendo a situação em que estava. Sua expressão se alterou completamente e vi medo em seu olhar.

-Não é nada disso que você está pensando - ele se prontificou em dizer.

Nina sorriu mais uma vez, demonstrando o quanto estava contente com aquela situação.

-Para de negar, Jack, ela já percebeu - falou em um tom sedutor.

Jack a encarou surpreso com as palavras e voltou a me olhar balançando a cabeça.

-Mande as minhas coisas para o meu antigo apartamento - eu falei, sem conseguir lhe encarar. - Eu estou me demitindo.

Jack tinha uma expressão de terror no rosto, como se tivesse acabado de perder todo o ar de seus pulmões.

Corri em direção ao elevador, mas mesmo com o pequeno momento de paralisia, Jack ainda conseguiu me alcançar.

-Sofia, me deixa explicar - ele chamou, tentando não chorar.

Seu rosto estava repleto de dor e eu quase cogitei abraçar ele e o perdoar por tudo, mas meu orgulho estava ferido. Meus sentimentos estava confusos e, principalmente, eu estava irritada.

-Me deixa ir embora, Jack - gritei. - Não me faça odia-lo ainda mais nesse momento.

As palavras acertaram ele como um coice. Isso pareceu surtir efeito de dentro para fora nele e quando o elevador chegou ao andar, me joguei para dentro, deixando Jack com uma fisionomia perplexa no rosto.

Eu estava novamente desempregada, mas agora eu sabia o que poderia fazer e corri para o escritório de seu Raimundo.

A solução era bem simples. Eu precisava de um emprego o mais longe possível de Jack e somente ele poderia me ajudar.

A secretária, como me conhecia bem, logo me deixou entrar e fingiu não notar meu desespero.

-Oh menina, fico tão feliz que esteja bem - ele disse me abraçando. - Nós deixou preocupados ontem.

Sorri em retorno. Seu Raimundo em alguns momentos tinha seus ataques de carinho.

-Aquela proposta de emprego para a sua empresa está de pé? - perguntei.

Ele me olhou curioso e se sentou no sofá.

-Sim, tenho uma vaga no Rio de Janeiro para uma advogada, se quiser - ele falou.

-Eu quero, vou pra lá amanhã - eu disse.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora