Capítulo 17

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O parque era lindo e me trazia uma sensação de ambiente familiar, talvez pela quantidade de crianças gritando nos brinquedos ou pelos piqueniques espalhados pelo gramado.

Eu e Jaine nos sentamos em uma das mesa sob uma enorme sombra de árvore.

Já fazia algum tempo em que estávamos aqui e conversamos sobre vários assuntos.

Descobri que Jaine ainda cursava a faculdade e que usava o dinheiro dos serviços prestados na casa de Jack para arcar com as despesas de casa. Assim como eu, ela recebia bem, mesmo que fosse para trabalhar apenas dois dias na semana. Além da limpeza na residência Giluer, ela prestava serviços para mais dois apartamentos do prédio, onde o senhor Giluer caridosamente lhe cedeu um pequeno apartamento no primeiro andar.

Jaine tinha uma irmã mais nova, que agora estava com a sua tia e pelo que eu entendi, as duas eram muito unidas, sendo assim, Jaine fazia de tudo por ela.

Contei a ela minha história e ficamos comparando para ver que era a mais lascada do rolê. Também rimos abertamente de vários momentos hilários de nossas vidas.

Ainda assim, me comoveu saber que Jack não foi bom apenas comigo, ele acolheu Jaine e sua irmã, oferecendo um bom salário a mulher e lhe recomendando para os moradores. Graças a ele, a mulher e sua irmã levavam uma vida confortável e sem passar necessidades.

-Eu quero um churros, já volto - ela falou, se levantando para comprar o alimento.

Instantes depois de Jaine sair, ouço uma voz muito familiar ao meu lado.

-Cadê a Jaine? - Cassini, pergunta.

Eu o olho assustada e fico ainda mais surpresa ao perceber que Jack está ao seu lado.

-Foi comprar churros - eu disse.

-Vou ajudar ela e trazer mais dois - ele disse saindo em direção a área de alimentação.

Jack estava horrível. No sentindo de fisionomia. Era notório que ele estava emocionalmente detonado. Suas orelhas estava ainda mais escuras do que quando eu o conheci, sua expressão parecia cansada e seus olhos estavam deprimidos.

Ele vestia um short leve com uma camisa comprida. Os cabelos, como sempre, estavam parecidos com um ninho de pássaros e os óculos estavam tortos em seu rosto.

-Ola - ele disse, sem graça.

Jack encarou o chão e batia o pé de encontro com a madeira, parecia desconfortável.

-Oi - eu o respondi. - Sente-se.

Ele me olhou receoso, mas por fim sentou.

-Como você está? - puxei assunto.

Jack me lançou um sorriso fraco e sem emoção sussurrando "bem". Mas era evidente que ele estava tudo, menos bem.

Sua boca se abriu para falar alguma coisa, mas logo voltou a se fechar. Ele repetiu isso umas três vezes, até por fim suspirar e apoiar a cabeça nas mãos.

-Me desculpa - ele disse com os olhos tampados pelas mãos.

-Não tem que se desculpar - eu disse, dando de ombros, mesmo que ele não pudesse ver.

-Ainda assim, eu não deveria ter fugido de você nessa última semana - ele falou.

-Então admite que estava fugindo de mim - eu disse em tom de brincadeira.

Ele me encarou, soltando uma risada sem humor.

-Não se preocupe, Jack, tudo bem - eu falei.

Seus olhos estavam confusos, mas cheios de carinho. 

-E o que achou do parque? - perguntei, tentando mudar de assunto.

Ele ainda estava sem graça e continuava a se mexer constantemente em sua cadeira.

-Diferente - ele disse pensativo. - Não é o tipo de lugar que eu pensaria em ir, mas fico feliz por ter topado o convite. 

Tenho que concordar, aquele lugar não se enquadrava com aquele homem caseiro. Fiquei surpresa da vez que fomos a boate e penso que os drinks que ele ingeriu antes foram essenciais para não fazer com que ele desistisse. 

-Deveria se abrir para conhecer novos lugares - eu falei.

Ele sorriu, malicioso. Finalmente tinha conseguido arrancar um sorriso do seu rosto. 

-Minha cama é o lugar perfeito, por que eu tentaria outro lugar? - ele riu. 

-Seu argumento é muito bom, meu caro amigo - eu disse.

A palavra amigo pareceu surtir um efeito diferente nele.

-Então somos amigos? - ele perguntou sorrindo.

-Por que não seríamos amigos? - retruquei. 

Ele me lançou um olhar cheio de significados, mas optou apenas por sorrir de forma debochada e dar de ombros.

Aquele homem sabia me desestabilizar com apenas um sorriso.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora