Capítulo 1

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Meu contrato com a escola logo terminaria e nenhum dos meus superiores tocou no assunto de renovação. Mas mesmo assim, eu ganhava muito pouco para uma professora.

Para lista do desespero, acrescentei mentalmente o 'desemprego' como um ponto importante.

Além disso, teria que procurar logo um local para morar. Minha melhor amiga havia decidido se mudar para a casa do namorado e eu ficaria sozinha com as despesas de casa.

Xinguei Amie mentalmente, se ela tivesse me ouvido quando fomos atrás de um apartamento, hoje estaríamos em um local mais em conta para eu bancar sozinha.

Mais um ponto para a lista do desespero: 'despejada'.

Eu tinha uma outra proposta de emprego para trabalhar como supervisora de pátio em um colégio menor na zona leste. Mas a distância do apartamento até o local era imensa.

De qualquer forma, além de procurar um local para morar, eu ainda tinha que encontrar um que fosse próximo ao meu novo emprego.

-Senhor, vou querer a vaga de supervisora - eu disse ao senhor Raimundo da agência de empregos.

-Menina Sofia, o salário é péssimo - ele disse apontando para a folha de proposta.

Eu ri, sem humor.

-Creio que seja melhor do que ficar desempregada, seu Raimundo - eu disse tristemente.

Ele se recostou na poltrona, pensativo.

-Eu tô com uma proposta boa ali na gaveta - ele se levantou e retornou com uma folha nas mãos.

No anúncio dizia "Procura-se Babá Em Tempo Integral".

-O que é isso, seu Raimundo? - eu perguntei.

Ele bocejou, entendiado.

O senhor Raimundo era um homem perto de seus cinquenta anos. Sempre me ajudou desde que meus pais faleceram. Ele me lembrava o personagem de Up Altas Aventuras: rabugento por fora, mas um doce depois que se conhece melhor.

-Esse menino aqui é meu sobrinho - ele apontou para o nome embaixo do anúncio.

Estava escrito apenas: Jack. Sem sobrenome ou indicação visual.

-O pobre menino perdeu a mulher no parto do filho, tadinho - ele disse com os olhos marejados. - É um bom rapaz, mas não sabe nem dar comida a pobre criança.

A história estava tomando um rumo meio triste e coloquei minha mão nos ombros o senhor, no intuito de oferecer conforto.

-Você é bondosa, menina - ele sorriu, me mostrando aquele sorriso amarelo cativante.

-Obrigada, seu Raimundo - eu disse, devolvendo o sorriso.

-Por isso é boa para esse cargo - ele concluiu. - Você tem experiência com crianças do seu serviço na escola.

Eu ri de sua comparação.

-É diferente de ficar um dia inteiro supervisionando uma criança e eu nem sei a idade do pequeno - eu falei. - Ou da pequena.

O homem se ajeitou na poltrona e me encarou, docemente.

-Vou te indicar lá mesmo assim - ele disse, decidido. - Se tiver dúvidas, procure na tal da internet.

Eu ri, mais uma vez.

Raimundo era dono de várias empresas, mas odiava a todo custo a evolução tecnológica.

-Tudo bem, seu Raimundo, é quase impossível discutir com o senhor -, eu disse.

-Então já que é impossível nega um pedido meu, venha trabalhar comigo em uma das minhas empresas - ele sorriu.

Não era a primeira vez que ele me oferecia um cargo corporativo. E não seria a última vez que eu recusaria.

-O senhor sabe que salas de escritório me dão calafrios - eu tremi.

-Vou te recomendar como atriz, menina, você é ótima fingindo - ele tossiu um pouco.

-E sou tão linda quanto elas - eu disse, fazendo pose.

O homem deu uma gargalhada acolhedora. Era quase impossível não acompanha-lo.

-Espera aí, menina, vou fazer um telefonema - ele disse.

Apesar da idade, Raimundo era ligeiro. Ele rapidamente se levantou e pegou o celular em cima da mesa.

-Alo - ele disse, acenando com a cabeça. - Oh, seu moleque insolente.

Raimundo ficou em silêncio e cochichou algo no telefone.

-Não se preocupe, já achei uma moça bem bonita pra você - ele deu uma boa gargalhada.

Alguém do outro lado da linha o repreendeu e isso pareceu divertir ainda mais o senhor.

-Larga de bobagem - ele retrucou. - Vou levá-la aí agora mesmo.

Mais uma vez silêncio.

-Não me importo se esteja só de cueca, ela vai cuidar do seu filho e não do que você usou para fazer ele - Raimundo disse.

Eu tentei conter a gargalhada.

O senso de humor daquele homem era bem diferenciado.

-Okay, se vista, chego aí em dez minutos - ele disse e desligou o telefone, sem esperar uma resposta.

Ele veio em minha direção e puxou o paletó da poltrona.

-Vamos, bonitinha - ele disse.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora